Thelonious Monk
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Dez versões clássicas de “Tea For Two”

O poder transformador do jazz é tal que pode fazer soar interessante uma canção indigente – foi o que aconteceu com “Tea For Two”.

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Consta que Vincent Youmans teve a ideia para a melodia de “Tea For Two” quando prestava serviço na marinha, durante a I Guerra Mundial. E achou esta banalidade tão excepcional que se deu ao trabalho de andar com ela na cabeça durante seis anos até que, em 1924, a apresentou ao letrista Irving Caesar, com quem estava a preparar o musical No, No, Nannette, e insistiu para ele lhe enxertasse uma letra logo ali. Pressionado, Caesar alinhavou uma versalhada inane, com a intenção de, mais tarde, escrever uma letra a sério, mas Youmans, dando novamente provas de fraco critério, entendeu que a canção estava perfeita assim mesmo.

O público adorou No, No, Nannette e, para empregar um termo hoje em voga, “Tea For Two” tornou-se “viral”. Em Janeiro de 1925, pouco depois da pré-estreia do musical, em Chicago, já havia gente a registar a canção: a primeira gravação, pela Benson Orchestra of Chicago chegou ao n.º 5 do top, e a segunda, por Marion Harris, chegou a n.º 1 (e ficou pelo top 11 semanas). Entretanto, a estreia do musical em Londres (Março de 1925) e na Broadway (Setembro de 1925) consolidou a popularidade da cançoneta.

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Dez versões clássicas de “Tea For Two”

1. Art Tatum

Ano: 1933

Felizmente, os jazzmen têm usado “Tea For Two” como matéria-prima para actividades subversivas. Um dos primeiros foi o prodigioso pianista Art Tatum, que elaborou a sua idiossincrática versão com a finalidade de ofuscar os seus rivais, James P. Johnson, Willie “The Lion” Smith e Fats Waller (todos eles senhores de uma técnica temível), num duelo usando o piano como arma.

2. Fats Waller

Ano: 1937

Fats Waller não ficou intimidado com a demonstração de virtuosismo e inventividade de Tatum e, quatro anos depois, registou a sua própria versão, que está longe de ter a electricidade da de Tatum.

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3. Dave Brubeck

Ano: 1949
Álbum: The Dave Brubeck Trio (Coronet/Fantasy)

O pianista Dave Brubeck é famoso sobretudo pelo quarteto com Paul Desmond que formou em 1951, mas a sua carreira tinha começado alguns anos antes, à frente de um octeto e de um trio. Foi com o trio, com Ron Crotty (contrabaixo) e Cal Tjader (bateria) que registou esta versão astutamente enviesada de “Tea for Two”.

4. Bud Powell

Ano: 1950
Álbum: Bud Powell’s Moods (Mercury/Clef) Uma versão ainda mais subversiva foi gravada no ano seguinte por outro trio, o do pianista Bud Powell, com Ray Brown (contrabaixo) e Buddy Rich (bateria). Bud Powell’s Moods, o quarto álbum como líder de Powell, reunindo a sessão em trio de 1950 e uma sessão a solo de 1951 para a Clef, editora de Norman Granz, não deve ser confundido com o álbum com o mesmo título gravado em 1954-55 para a Norgran (outra editora de Norman Granz). Para tornar a confusão maior, o Bud Powell’s Moods de 1950-51 foi reeditado pela Verve (ainda outra editora de Granz) com o título The Genius of Bud Powell.

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5. Lester Young

Ano: 1956
Álbum: Lester Young with the Oscar Peterson Trio (Verve)

Esta é uma das melhores sessões da fase final da carreira do saxofonista Lester Young, com a cumplicidade do fervilhante “trio” do pianista canadiano Oscar Peterson – na verdade um quarteto com Barney Kessel (guitarra), Ray Brown (contrabaixo) e J.C. Heard (bateria). O quinteto estica a singela cançoneta até aos 7’41, com solos efervescentes de Young, Peterson, Kessel e novamente Young, que fazem esquecer a insipidez da matéria-prima.

6. Duke Ellington

Ano: 1956
Álbum: At Newport 1956 (Columbia)

Em 1956, a era de ouro das big bands tinha ficado bem para trás, a orquestra de Ellington – uma das poucas que se mantinha em actividade – via-se por vezes forçada a aceitar actuar em ringues de patinagem, como música de fundo, e não tinha contrato com uma editora, mas a sua inspirada actuação no Festival de Jazz de Newport voltou a catapultá-la para a linha da frente e a Columbia apressou-se a editar um álbum com a prestação de Newport.

Em 1996, uma pesquisa nos arquivos da rádio Voice of America, que também tinha registado o concerto, revelou que a maior parte do suposto “live” editado pela Columbia tinha sido recriado em estúdio, com adição de aplausos “enlatados”, pouco depois do festival, por a qualidade da gravação e do desempenho nalguns trechos não ser a ideal. A reedição em duplo CD, de 1999, repôs a verdade, conjugando a recriação em estúdio com o verdadeiro “live”, laboriosamente reconstruído pelos engenheiros de som a partir das fitas da Voice of America. É neste último que surge “Tea For Two”, que não fazia parte do LP “fabricado” editado em 1956.

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7. Gerry Mulligan & Paul Desmond

Ano: 1957
Álbum: Gerry Mulligan/Paul Desmond Quartet (Verve)

O barítono de Mulligan e o alto de Desmond tinham uma química fora do vulgar que ficou atestada em Gerry Mulligan/Paul Desmond Quartet (reeditado como Blues in Time) e em Two of a Mind (1962). No registo de 1957, com Joe Benjamin (contrabaixo) e Dave Bailey (bateria), todas as insuficiências da canção são obliteradas pela fluidez e invenção dos intervenientes.

8. Anita O’Day

Ano: 1958
Álbum: At Mister Kelly’s (Verve)

Cantado à velocidade da luz e com adição de doses generosas de ironia e subversão, o “Tea For Two” de Anita O’Day torna-se num refrescante e estimulante “iced tea”. Não há nem houve no planeta muitas vozes capazes de servir este chá atestado de cafeína e teofilina sem se engasgarem. O’Day tem, neste registo realizado ao vivo no clube Mister Kelly’s, em Chicago, a cumplicidade de Joe Masters (piano), Eldee Young (contrabaixo) e John Poole (bateria).

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9. Thelonious Monk

Ano: 1963
Álbum: Criss-Cross (Columbia)

Os pianistas mais “desalinhados” do jazz parecem ter tido um gosto especial em inflingir tratos de polé a “Tea For Two”. Em 1962, Monk maltratou a cançoneta com a assistência de John Ore (contrabaixo) e Frankie Dunlop (bateria). A reedição em CD de 2003 inclui uma “alternate take” mais extensa.

10. Ella Fitzgerald & Count Basie

Ano: 1963
Álbum: Ella and Basie! (Verve)

Ella é tão boa cantora que, mesmo numa interpretação “ortodoxa” consegue convencer-nos de que “Tea For Two” é uma canção aceitável. Os arranjos vivos que Benny Carter preparou para a máquina bem oleada que era a orquestra de Count Basie também ajudam (esta foi a segunda colaboração de Ella com Basie – em 1957 tinham gravado On the Sunny Side of the Street).

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