Música, Jazz, Pianista, Thelonious Monk
©William P. GottliebThelonious Monk, Minton's Playhouse, New York, 1947
©William P. Gottlieb

Dez versões de “‘Round Midnight”: vol. 2

Após sugerir dez versões clássicas deste jazz standard, a Time Out sugere outras dez, de fabrico mais recente

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Sendo o jazz uma música eminentemente nocturna, não é de admirar que “‘Round Midnight” se tenha tornado numa das suas composições mais populares, sendo alvo de mais de um milhar de versões, entre as quais a Time Out propôs uma escolha de gravações realizadas entre 1947 e 1963 (ver 10 versões clássicas de “‘Round Midnight”).

Thelonious Monk terá composto “‘Round Midnight” em 1940-41, mas só registou a composição em 1944, ano em que foi alvo de uma primeira gravação por Cootie Williams, que lhe introduziu alguns embelezamentos – o mesmo fez Dizzy Gillespie quando a gravou em 1946. Entretanto, a composição ganhou também uma letra, da autoria de Bernie Hanighen, de forma que este e Williams passaram a ser creditados como co-autores. “‘Round Midnight” é atípica na produção de Monk, marcada pelo humor desconcertante, pelas dissonâncias ácidas e pelos ritmos angulosos, e nas mãos de alguns músicos tende a soar como uma belíssima e melancólica balada de recorte clássico. Mas outros houve que a reconduziram à enviesada estética monkiana.

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Dez versões de “‘Round Midnight”: vol. 2

Sun Ra

Ano: 1980
Álbum: Sunrise in Different Dimensions (hat Hut)

Monk haveria certamente de apreciar o tratamento dado a “‘Round Midnight” pelo piano desconjuntado de Sun Ra e pela fanfarra ébria da sua Arkestra, ao vivo no festival de jazz de Willisau, na Suíça. O concerto emparelha composições de Sun Ra e standards e a formação inclui dois velhos cúmplices de Sun Ra, Marshall Allen e John Gilmore – o resto da equipa é formada por Danny Thompson, Kenneth Williams, Michael Ray, Chris Henderson e Eric Walker.

Michel Petrucciani

Ano: 1984
Álbum: Live at the Village Vanguard (Concord)

O pianista francês Michel Petrucciani tinha 22 anos quando, a 16 de Março de 1984, gravou este concerto ao vivo no mais célebre clube de jazz do mundo, em trio com Palle Danielsson (contrabaixo) e Eliot Zigmund (bateria).

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Vienna Art Orchestra

Ano: 1985
Álbum: Perpetuum Mobile (hat Hut)

A Vienna Art Orchestra, que esteve activa – com intermitências – entre 1977 e 2010, começou por tocar composições do seu líder, Mathias Rüegg, mas acabou por alargar o seu repertório a Eric Dolphy, Duke Ellington, Charles Mingus e standards em geral, bem como a Satie, Strauss (o das valsas), Schubert e Wagner. Um dos melhores períodos da sua extensa discografia é o que corresponde à associação à editora suíça hat Hut, cujo último fruto foi Perpetuum Mobile, o registo de um concerto ao vivo na sala Mühle Hunziken, em Rubingen, na Suíça, e em que “‘Round Midnight” é a única peça do programa que não é da autoria de Rüegg. O álbum foi depois reeditado como A Notion in Perpetual Motion.

Martial Solal

Ano: 1993-94
Álbum: Improvise Pour France Musique (Éditions Jean-Marie Salhani)

Este “‘Round Midnight” que mescla lirismo e ironia provém de um duplo álbum de piano solo registado ao vivo nos estúdio da Radio France e consagrado à desconstrução de standards.

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Esbjörn Svensson Trio

Ano: 1996
Álbum: Plays Monk (ACT)

O trio sueco formado por Esbjörn Svensson (piano), Dan Berglund (contrabaixo) e Magnus Öström (bateria) nasceu em 1993 e durou até à morte, num acidente de mergulho de Svensson, em 2008. Neste seu segundo álbum, integralmente dedicado a composições de Monk, o EST tem o reforço de um quarteto de cordas (Ulf Forsberg, Ulrika Jansson, Elisabeth Arnberg e Ulrika Edström) em duas faixas, uma das quais é este sereno e melancólico “‘Round Midnight”.

Uri Caine

Ano: c.1998-99
Álbum: Live at Ortlieb’s Jazzhaus (Encounter Records)

Também o pianista americano Uri Caine, que se tornou conhecido pela recriação da música de compositores “eruditos” como Bach, Beethoven, Mahler, Mozart, Schumann, Verdi e Wagner, iniciou carreira com uma homenagem a Monk no álbum Sphere Music (1993, JMT). Este “‘Round Midnight” nervoso, entrecortado, com constantes mudanças de mood, tem porém outra proveniência: é uma prestação ao vivo, em piano solo, incluída numa compilação de actuações de diversos músicos na Ortlieb’s Jazzhaus, em Filadélfia, entre 1993 e 1999.

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Bourne/Davis/Kane

Ano: 2004
Álbum: Lost Something (Edition Records)

Na crítica ao álbum Lost Something, o The Guardian comparou o pianista Matthew Bourne a “um Thelonious Monk do século XXI” – e não foi apenas pela inclusão no programa de “‘Round Midnight”. O trio de Bourne com Dave Kane (contrabaixo) e Steven Davis (bateria) leva a composição de Monk para um negrume inquietante e rarefeito, assombrado por rumores de criaturas nocturnas, de onde só muito pontualmente emergem fragmentos reconhecíveis da melodia. O jazz britânico é pouco ouvido fora das Ilhas Britânicas, mas este trio genial nem no seu país é conhecido e os dois álbuns que editaram após este, The Money Notes e Broken Light, tiveram edições “confidenciais”.

Quest

Ano: 2005
Álbum: Redemption: Live in Europe (hat Hut)

Os Quest nasceram em 1981 e são formados por Dave Liebman (saxofone), Richie Beirach (piano), Ron McClure (contrabaixo) e Billy Hart (bateria), mas nesta versão de “‘Round Midnight”, gravada na Kantonsschulle, em Baden, na Suíça, apenas intervêm Liebman e Beirach.

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Francesco Bearzatti Tinissima 4tet

Ano: 2012
Álbum: Monk’n’Roll (CamJazz)

O Tinissima 4tet do saxofonista italiano Francesco Bearzatti, com o trompetista Giovanni Falzone, o contrabaixista Danillo Gallo e o baterista Zeno de Rossi, nasceu para prestar homenagem à fotógrafa e activista comunista Tina Modotti (1896-1842) e acabou por ser também o protagonista do álbum Monk’n’Roll, uma homenagem a Thelonious Monk que tem a originalidade de mesclar as composições do pianista com piscadelas de olho ao universo pop-rock (e cuja capa faz alusão à capa do álbum Underground, de Monk). É o caso de “‘Round Midnight”, que ganhou balanço reggae e cita (por vezes de forma trocista) “Message in a Bottle”, dos Police.

Romain Collin

Ano: 2013
Álbum: Press Enter (ACT)

O pianista Romain Collin nasceu em França e estudou nos EUA, diplomando-se no Thelonious Monk Institute of Jazz (que, no início deste ano, foi rebaptizado como Herbie Hancock Institute of Jazz), e está radicado em Nova Iorque. Press Enter foi o segundo álbum do seu trio com Luques Curtis (contrabaixo) e Kendrick Scott (bateria) e marca o início da sua ligação à editora alemã ACT. “‘Round Midnight” encerra o álbum, numa versão para piano solo despojada e serena.

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