30 de Janeiro de 1933: Hitler é nomeado chanceler da Alemanha.
27 de Fevereiro de 1933: o Reichstag é consumido pelas chamas e, nas semanas seguintes, Hitler aproveita o pretexto para perseguir opositores e obter o poder absoluto.
Março de 1933, o compositor Kurt Weill (1900-1950) foge da Alemanha – na dupla qualidade de judeu e comunista, adivinhava o tipo de destino o regime nazi lhe reservava.
Após uma passagem por Paris, em 1935, Weill fixou-se em Nova Iorque e centrou a actividade na composição de musicais para a Broadway, que estudou atentamente e assimilou na perfeição, deixando para trás o registo da sua fase europeia. Obteve a cidadania americana em 1943, ano em que estreou o musical One Touch of Venus, com texto de Ogden Nash (1902-1971), mais conhecido pelos seus poemas humorísticos, mas que em “Speak Low” revela faceta bem diversa. O musical foi um sucesso – manteve-se em cartaz até 1945, com 567 representações, e foi adaptado ao cinema em 1948 (com Ava Gardner no papel principal) – mas dos seus números musicais só “Speak Low” alcançou notoriedade e, mesmo assim, só a partir do início dos anos 50 e graças aos músicos de jazz.
A primeira linha de “Speak Low” – “Speak low when you speak, love” – adapta uma linha de Much Ado About Nothing, de Shakespeare, e o resto da letra esclarece a razão deste pedido: “Os nossos dias de Verão desvanecem-se cedo demais [...]/ O momento passa célere e, como navios à deriva, afastamo-nos demasiado depressa/ [...] O amor é uma centelha que se cedo se perde na escuridão/ E eu sinto, seja onde for que vá/ Que o amanhã se aproxima, que o amanhã já está cá// O tempo é tão longo e o amor tão breve/ O amor é ouro puro e o tempo, um ladrão// Estamos atrasados, estamos atrasados/ A cortina desce, tudo acaba cedo demais, cedo demais”. Há pois que dizer as palavras de amor em voz baixa, para não despertar a cobiça do tempo, e tentar fruir os breves instantes de bem-aventurança que nos são concedidos na passagem por esta vida.
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