Weill: Os Sete Pecados Mortais: solistas, Orquestra Clássica do Sul, Rui Pinheiro
Os Sete Pecados Mortais também é um híbrido: um bailado cantado, que mistura cabaret e ópera. A obra foi encomendada a Kurt Weill em Paris, onde se refugiara após a ascensão de Hitler ao poder, e o libreto foi fornecido por Bertolt Brecht, seu colaborador usual. Apesar de o título remeter para a teologia cristã, o libreto é, antes de mais, uma feroz sátira do American Dream e do capitalismo, que é identificado como principal fonte de corrupção e miséria. A ganância inerente à lógica capitalista é vista como o pior dos pecados, o que provavelmente faz de Os Sete Pecados Mortais uma obra pouco popular em Wall Street. A ópera estreou em 1933, com o mundo ainda mergulhado na Grande Depressão, e soará actual num ano de 2018 em que ainda não cicatrizaram as feridas do crash de 2007 e já os banqueiros exigem a desregulação dos mercados financeiros.
[Prólogo de Os Sete Pecados Mortais, por Lotte Lenya e orquestra dirigida por Roger Bean, gravação de 1956-57 (Sony Classical)]
GA, Sábado 28, 19.00, 6-14.5€.
Puccini: Gianni Schicchi: solistas, Orquestra de Câmara Portuguesa & Deutsche Kammerorchester Berlin, Bruno Borralhinho
Gianni Schicchi (1918) entra no programa por portas travessas: na Divina Comédia, Dante menciona um Schicchi condenado às chamas eternas por se ter feito passar por outrem. Giovacchino Gorzano, o libretista desta ópera em um acto concebida como 3.ª parte do tríptico que inclui Il Tabarro e Suor Angelica, recorreu a elementos provenientes de Dante mas introduziu alterações substanciais: quando a família do falecido Buoso, um homem abastado de Florença, lê o seu testamento, descobre que ele legara tudo a um mosteiro, pedem conselho a Schicchi; dando-se conta que, fora da família, ninguém sabe do falecimento de Buoso, Schicchi propõe ocultar o morto, fazer-se passar por ele e chamar um notário para alterar o testamento em favor da família. Assim faz, mas acaba por ditar ao notário que o grosso da herança vá para um certo... Gianni Schicchi. No final, Schicchi dirige-se ao público, pedindo que este não seja tão duro na sua condenação como Dante – e a verdade é que Forzano fez dos membros da família uns biltres tão gananciosos que quase merecem ter sido ludibriados por Schicchi.
[“O Mio Babbino Caro” – de longe o trecho mais célebre de Gianni Schicchi – pela soprano Maria Callas e a Orquestra Sinfónica da RAI, com direcção de Tulio Serafin, 1955]
GA, Sábado 28, 21.00, 6-14.5€.
Berlioz/Liszt: Sinfonia Fantástica: Artur Pizarro
A paixão não-correspondida pela actriz irlandesa Harriet Smithson inflamou a imaginação de Berlioz na composição de uma sinfonia programática que relata as desventuras de um artista que, vendo-se rejeitado pela amada, tenta suicidar-se com uma overdose de ópio; porém, em vez de o matar, o ópio mergulha-o num pesadelo tenebroso em que julga ter assassinado o objecto da sua paixão e é condenado à morte. A Sinfonia Fantástica (1830), será ouvida na transcrição para piano realizada por Franz Liszt.
[“Un Bal”, da Sinfonia Fantástica, na transcrição para piano de Liszt, por Eric Ferrand-N’Kaoua, ao vivo no Festival Berlioz, erm La Côte-Saint-André, terra natal do compositor, 2009]
PA, Sábado 28, 16.30, 11.5€.
Scarlatti: Caim ou o Primeiro Homicídio: Ludovice Ensemble, Fernando Miguel Jalôto
Além de compositor prolífico de óperas e cantatas profanas, Scarlatti deixou uma trintena de oratórias, entre as quais se conta esta, estreada em Veneza em 1707, que relata o assassinato de Caim por Abel e onde intervêm, além de Adão e Eva e dos dois irmãos, as vozes de Deus e de Lúcifer. O episódio bíblico, semente da violência que viria a marcar a história da humanidade, é apresentado sob uma forma “pedagógica” e moralizadora, com argumentos em prol do Bem e do Mal que visam levar os pecadores ao reconhecimento das suas faltas e ao arrependimento.
[Dueto “La Fraterna Amica Pace”, por Bernarda Fink (Caím), Graciela Odone (soprano) e a Akademie für Alte Musik Berlin, em instrumentos de época, com direcção de Rená jacobs (Harmonia Mundi)]
PA, Sábado 28, 19.00, 14.5€.
Música flamenga no tempo de Bosch: Orlando Consort
No tempo de Bosch – 1450-1516 – a música europeia vivia sob o domínio absoluto dos seus conterrâneos, que ocupavam, como cantores e compositores os mais prestigiados postos pela Europa fora. O Orlando Consort, ensemble vocal especializado na Idade Média e Renascimento, delineou um programa com compositores flamengos associados à cidade natal de Bosch, ‘s-Hertogenbosch (hoje na Holanda), a que o pintor foi buscar o seu nome artístico. Vão ouvir-se obras de grandes mestres como Josquin Desprez e Heinrich Isaac e também de nomes hoje menos conhecidos, como Pierre de La Rue, Thomas Crecquillon ou Mattheus Pipelare.
[“In Te Domine, Speravi”, de Josquin Desprez, pelo Orlando Consort]
Sala Luís Freitas Branco, Sábado 28, 19.00, 9.5€.