Desde 2011 que acompanhamos, nestas páginas e fora delas, a carreira de Maria Reis. Vimo-la e ouvimo-la a crescer, a alargar horizontes, a apurar a lírica e a composição, a impor-se como uma das melhores escritoras de canções que este país já teve, independentemente do género. Benefício da Dúvida, o quarto registo a solo, entre mini-álbuns e EPs, é o mais recente marco de uma obra que se recusa a perder a relevância e inventividade.
O Rock in Rio está de volta a Lisboa. Os Muse foram os cabeças de cartaz do primeiro dia, 18 de Junho, os Black Eyed Peas destacaram-se no passado domingo, 19, e Post Malone vai encerrar as festividades a 26 de Junho. Mas o espectáculo mais aguardado é capaz de ser o dos Duran Duran, banda crucial da pop dos anos 80 e o nome cimeiro deste sábado, 25. Antes do concerto, falámos com o baterista Roger Taylor sobre o álbum Future Past, do ano passado, e o legado do grupo.
Os Duran Duran estão juntos há mais de 40 anos. Alguns membros entraram e saíram, mas a banda nunca parou de tocar e de lançar nova música. Qual é o segredo?
Ainda no outro dia estava a falar disto com o meu filho. Tivemos muitas bandas boas nos anos 80, porém a maioria ficou pelo caminho – deixaram de fazer música ou prosseguiram, mas sem a mesma qualidade. Nós tivemos a sorte de continuar a trabalhar bem porque nunca parámos de experimentar e abraçar novos projectos. Acho que o nosso segredo é esse: sempre evitámos fazer mais do mesmo, e continuámos a desafiar-nos.
Passaram mais de seis anos entre a edição do anterior Paper Dogs (2015) e do último Future Past (2021). Nunca tinham estado tanto tempo sem editar um disco novo. O que se passou?
Estamos numa fase das nossas carreiras em que nos podemos dar ao luxo de demorar o tempo que queremos a trabalhar num álbum, até garantirmos que está óptimo. Somos um bando de perfeccionistas. E, desta vez, ainda perdemos mais algum tempo por causa da pandemia. Houve alturas, durante o processo de composição e gravação, em que não nos podíamos juntar, em que não deixavam que estivessem mais de duas pessoas na mesma sala. Isso atrasou muito as coisas.
Quando começaram a escrever estas canções?
Começámos em Londres, numa pequena sala onde compomos e gravamos, creio que em 2018. Quando achávamos que o disco estava quase pronto, a pandemia abateu-se sobre nós. Durante esse período em que estivemos parados, tivemos tempo para repensar tudo. Acho que o resultado final foi muito melhor por causa disso.
As letras já estavam escritas quando começa a pandemia?
Talvez. Acho que pelo menos metade foi escrita antes da pandemia. Contudo, ouvindo as canções, parece-me óbvio que aquilo por que o mundo estava a passar afectou o álbum. Tornou-o mais forte, mais impactante.
Daí a minha pergunta. Porque este disco parece uma resposta à pandemia.
Sim, sim. Como dizia há pouco, quando nos reunimos, depois dos confinamentos, repensámos tudo o que havíamos feito e quisemos explorar novos caminhos. Tínhamos uma visão panorâmica sobre o que tínhamos gravado até esse momento, que é algo que normalmente não acontece. Havia canções que pensávamos que estavam prontas e afinal precisavam de ser mais trabalhadas. E o Future Past ganhou muito com isso. Há muito tempo que não fazíamos um álbum tão bom, e que fosse tão bem recebido.
O Graham Coxon, guitarrista dos Blur, tocou e ajudou a escrever algumas faixas. Até que ponto é que o som do Future Past foi influenciado por ele?
Acho que a sua influência foi decisiva. Desde o tempo do Warren [Cuccurullo] e do Andy Taylor que não tínhamos um guitarrista em estúdio connosco durante todo o processo. E ele é um músico tão criativo… Não fazia ideia de quão incrível o Graham Coxon era. É claro que conhecia o trabalho dele com os Blur, fizeram música óptima, contudo o Graham tem muito mais para dar. Ajudou-nos mesmo a moldar o disco.
Porque decidiram colaborar com ele?
O Erol Alkan, o nosso produtor, um dia perguntou-nos se o vizinho dele podia juntar-se a nós. Olhámos uns para os outros, e dissemos que estava bem, que podíamos ver como corria [risos]. Quando o tal vizinho chegou ao estúdio, percebemos que era o Graham Coxon. Ficámos boquiabertos, era espectacular. Decidimos passar uns dias com ele, e ver como corria, e acabou por tocar no disco todo – menos nas faixas que fizemos com o Giorgio Moroder.
Isso quer dizer que ele é que vos procurou? Pensei que tivesse sido ao contrário.
Acho que sim. O Erol Alkan, tal como o Mark Ronson, com quem também já trabalhámos, é muito bom a juntar as pessoas certas na mesma sala. Os bons produtores conseguem perceber quando uma colaboração vai correr bem. E foi isso que aconteceu.
De facto, têm tido muitos músicos conhecidos a tocar com vocês nos últimos discos. Sentem a necessidade de trazer sangue novo para a banda?
Acho que isso vai ao encontro da tua primeira pergunta: qual é o segredo para estarmos juntos há tanto tempo? Um dos segredos é manter a mente aberta. E trazer pessoas novas, pessoas mais novas, para o nosso lado. Já estamos juntos desde 1979, passamos muito tempo uns com os outros, e é interessante trazer pessoas novas para o quarto, por assim dizer. Sangue novo, como referiste. E não é só de agora. Por exemplo, depois do sucesso do Rio, podíamos ter continuado a fazer mais do mesmo. Só que não. Quisemos trabalhar com um produtor diferente, noutro estúdio, noutro país. Sempre estivemos muito abertos à mudança, nunca quisemos ficar presos ao passado.
Por falar nisso, o Rio fez agora 40 anos. Essa efeméride vai reflectir-se no alinhamento do concerto de sábado, 25 de Junho, no Rock in Rio Lisboa?
Tentamos misturar as coisas. Podemos tocar mais algumas faixas do Rio, todavia temos a sorte de ter uma carreira muito longa, com mais de 40 anos. Vamos tocar algumas músicas novas, material dos nossos primórdios, do Rio e do primeiro álbum, também dos anos 90. Queremos cobrir todo o nosso catálogo. Não vamos forçar as pessoas a ouvirem o Future Past do princípio ao fim [risos].
Como é que equilibram a promoção de um novo disco com a necessidade de tocarem os hits que os vossos fãs quer ouvir?
É complicado. Muitas vezes ainda estamos a decidir o alinhamento minutos antes de entrarmos em palco. No entanto, temos a sorte de não haver uma canção que temos de tocar sempre. Às vezes podemos não tocar a “Rio” e tocar a “Girls On Film” em vez dela. Ou a “Hungry Like The Wolf”. Temos muitas pérolas no nosso repertório. Por outro lado, é muito importante que os concertos nos dêem gozo e que nos consigam surpreender. Temos de acreditar que continuamos a fazer música relevante e que as pessoas querem ouvir.