Bowie 70 é um disco com muitas camadas e dimensões, tal como o músico que homenageia. É um álbum de David Fonseca, que fez todas as versões e tocou todos os instrumentos. Mas não só. É uma celebração da diversidade das vozes portuguesas de hoje, que acompanham o maestro Fonseca.
O Nua tem dois originais do Cartola. Como é que se descobrem fados em canções que, originalmente, não o são?
Há tantos cantores que, se disser que são fadistas, se calhar vais ficar assim... O Elvis Presley para mim era um fadista, a Ella Fitzgerald, a Billie Holiday, o Aznavour, a Piaf. Tem tudo a ver com a entrega, a interpretação das palavras, elas ganharem sentido. Nunca podes dizer “morte” da mesma forma que dizes “vida” ou “alegria”. E o fado é isso: temos que dizer as coisas com o peso que elas têm. A Maria Bethânia é uma fadista do cacete.
Vês-te a gravar um álbum que não seja de fado?
Vejo, claro. Já escreveste sobre quantas coisas diferentes na tua vida? Só assim é que cresces. Quando me dizem, “tens de ter muito cuidado com incursões diferentes do fado, tens de perceber que as pessoas não vão gostar”…
Dizem-te isso?
Dizem. Mas tenho de experimentar aquilo que me apetece.
Qual é a principal ideia errada que as pessoas têm a teu respeito?
Que sou uma maluca, uma trenga. Às vezes sinto que as pessoas não me levam muito a sério, mas não sou cabeça no ar. É uma opção de vida minha. Estou sempre a rir, porque acredito piamente que é muito mais fácil a vida assim. Aligeira as coisas um pouquinho. Aquela história do “muito riso, pouco siso”? Adoro ditados, mas não concordo com esse.