Música, The Beatles
©Norman ParkinsonThe Beatles por Norman Parkinson
©Norman Parkinson

Quinze músicas inspiradoras para tempos de resiliência

Uma lista de canções motivacionais, de prescrição genérica contra o desânimo.

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Não consta de nenhuma das letras, mas a palavra da moda atravessa todas estas canções. Aqui fala-se de resistência e esperança, optimismo e perseverança, confiança e tenacidade: em suma, fala-se de resiliência, palavra que por estes dias se consome mais do que álcool gel. Eis então uma playlist feita de canções inspiradoras e motivacionais, espécie de vacina contra toda a sorte de atribulações, borrascas, contrariedades, dissabores, e mais uma série de sinónimos de coisas chatas, que podíamos continuar a ordenar alfabeticamente até chegarmos a “zaragatoa”. São 15 canções que nos juram que havemos de nos reerguer, que isto é como tudo e não há-de ser nada, que o sol amanhã há-de nascer como sempre e não há arrelia nem cacetada, dor de corno ou de cotovelo, que possa evitar isso. Ah, e também são óptimas para animar uma corridinha com os phones nas orelhas.

Siga a lista no Spotify, ou comece já a ouvi-la aqui:

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1. “Don’t Stop Believin’”, Journey

O single mais famoso dos Journey é, seguramente, uma das mais célebres canções inspiracionais. Incluído no álbum Escape, de 1981 (palmas, faz 40 anos!), é um hino à resiliência nos tempos maus (lá está) e um incentivo a perseguir sempre os objectivos sem esmorecer, por muito difícil que a coisa pareça. Tem uma das entradas de piano mais memoráveis na história do rock, e um formato que escapa às fórmulas da pop: nos quatro minutos da canção, a palavra de ordem (“don’t stop believin’”) apenas repete quatro vezes e o refrão, aliás, só é escutado pela primeira vez aos três minutos e 22 segundos.

2. “I’m Still Standing”, Elton John

Elton John acelera o metrónomo até aos 180 e investe de frente contra a adversidade. “I’m Still Standing” é um cântico de resistência de quem apanhou pancada de criar bicho, entoado na cara de quem o deu como derrotado antes do tempo. Foi, claro está, escrito na ressaca de uma separação (não de Elton John, mas do seu letrista de sempre, Bernie Taupin), mas serve genericamente para cantar triunfo sobre infortúnios de qualquer espécie. Está incluído no álbum Too Low for Zero, de 1983, e podia bem ser traduzido como “sou resiliente comó caraças”.

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3. “Ain’t No Mountain High Enough”, Marvin Gaye & Tammi Terrell

Gravado originalmente por Marvin Gaye e Tammi Terrell em 1967, tornou-se num êxito sério três anos mais tarde na voz de Diana Ross. Foi o segundo single extraído do primeiro álbum a solo da ex-Supreme, e foi com ele que pela primeira vez alcançou o número 1 da Billboard Top 100 (lugar que ocuparia outras onze vezes ao longo da carreira). Porém, enquanto a versão de Ross assume um tom mais declamado, com várias passagens de spoken word, e veste uma roupa clássica, com uma secção de cordas a acamar o arranjo, o original de Gaye e Terrell é um pouco mais corrido e muito mais radiante. E, nesse sentido, mais apto para nos convencer de que o amor é mesmo capaz de ultrapassar qualquer obstáculo que se lhe atravesse no caminho.

4. “I Will Survive”, Gloria Gaynor

Em 1979, esta declaração de independência proclamada numa pista de dança foi o single mais ouvido nos Estados Unidos, no Reino Unido e, por consequência, em boa parte do globo. Mais do que a garantia de que há vida para lá de qualquer desgosto de amor, a canção de Gloria Gaynor tornou-se num hino de resiliência, antes de a palavra resiliência ser conhecida por quem não tivesse marrado num calhamaço de Psicologia. Para lá do texto, a melodia instrumental também foi adoptada como cântico motivacional, entoado à força de lalalas, em estádios de futebol por esse mundo afora.

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5. “It’s My Life”, Bon Jovi

É uma espécie de genérico contra a procrastinação. Se tem alguma coisa na sua vida que anda a adiar, postergar, protelar, tardar, atrasar, pospor, demorar, prorrogar, delongar, retardar, protrair ou até mesmo a diferir, levante-se daí, dê-lhe no volume e cante isto em voz alta. Sem hesitações nem arrependimentos: “like Frankie says, I did it my way”. O single foi incluído no álbum Crush, de 2000, e chegou a atingir o número 1 na tabela de vendas em Portugal. Na cerimónia dos Grammys de 2001, perdeu para a canção que se segue nesta lista.

6. “Beautiful Day”, U2

Eis outro grito do Ipiranga contra as circunstâncias opressoras. O mote é simples: encontrar alegria no que se tem, mesmo que se tenha perdido tudo o resto. “What you don’t have you don’t need it now”, dizem os U2. Portanto, é valorizar o que há, nem que seja só um dia bonito (porque, lá está, em cima de todos os azares ainda podia estar a chover a cântaros). Incluída em 2000 no álbum All That You Can't Leave Behind, venceu o Grammy de Melhor Canção na cerimónia do ano seguinte. De permeio, trepou tops de vendas um pouco por todo o mundo, incluindo Portugal, onde alcançou o número 1 da tabela de singles.

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7. “Born to Run”, Bruce Springsteen

“Born to Run” é a canção-título do álbum de 1975 que catapultou Bruce Springsteen para o estrelato. É escrita como uma carta de amor de um rapaz para uma jovem chamada Wendy, pedindo-lhe que pegue na trouxa e fuja com ele, coisa que pode a princípio não soar muito inspiracional, mas só até percebemos que aquilo de que realmente se fala aqui é da esperança de começar de novo e com um novo olhar sobre o mundo. Além disso, há poucas coisas que inspirem mais optimismo do que um solo de saxofone por “The Big Man” Clarence Clemons.

8. “(Your Love Keeps Lifting Me) Higher and Higher”, Jackie Wilson

Se procura um exemplar definitivo de uma canção fell good, ei-lo. São três minutos de paixão glorificada em passo de corrida, capaz de deixar qualquer ser sensível inebriado com endorfinas e confiante num amanhã que canta. Teve outras versões ao longo dos anos (a mais popular terá sido a de Rita Coolidge), mas nada se assemelha à alegria solar com que Jackie Wilson a interpretou pela primeira vez, em 1967.

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9. “Eye of the Tiger”, Survivor

Só o nome da banda daria entrada directa nesta lista. A canção foi composta pelos Survivor sob especial encomenda de Sylvester Stallone, em 1982, para Rocky III, e foi lançada em single no dia seguinte à estreia do filme. É um cântico de superação capaz de levantar Rocky Balboa do chão e de ajudar os restantes mortais a cerrar punhos e enfrentar de peito feito qualquer berbicacho que tenham pela frente. E só os primeiros acordes bastam para entusiasmar uma corrida. Inicialmente, Stallone queria usar a canção “Another One Bites the Dust”, mas os Queen não deixaram. Ainda bem. Sobretudo para os Survivor, que alcançaram o n.º1 da Billboard Top 100 e da UK Singles Chart.

10. “Mr E's Beautiful Blues”, Eels

Talvez a mais sarcástica canção dos Eels, vais contrapondo cenas absurdas e pedaços de vidas maradas, a um refrão simples, inequivocamente positivo e altamente contagiante: “Goddamn right it’s a beautiful day”. Mesmo quando nada parece ter lógica, quando tudo parece desprovido de sentido e nem sequer dá para perceber “how you’re taking all the shit you see”, a resposta repete-se: “Goddamn right it’s a beautiful day”. Está guardado no álbum Daisies of the Galaxy, de 2000.

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11. “You Gotta Be”, Des’ree

Em Março de 1994, assistiu-se a um violento surto de autoconfiança transmitido pelas ondas hertzianas. A responsável foi Des’ree, que escreveu e interpretou este breve manual sobre o poder da determinação e da fé de cada um em si mesmo. Em quatro minutos, a britânica canta, com luminosa serenidade, a receita para sair de uma alhada, enfrentar um desafio ou superar uma contrariedade. Segundo ela, eis o que you gotta be: bad, bold, wiser, hard, tough, stronger, cool, calm e, claro, stay together. De resto, ao longo dos anos 90 Des’ree fez mais pela promoção do optimismo que qualquer guru de autoajuda. Em 1998, lançou “Life”, um poderoso estimulante enxertado de vitamina D, que também cabe facilmente nesta lista.

12. “Don’t Worry Be Happy”, Bobby McFerrin

É uma maldição, lamentada pelo próprio, que um dos maiores artistas vocais de todos os tempos tenha ficado aprisionado na memória colectiva pela sua obra mais levezinha. Mas nada a fazer contra o irritante poder do optimismo ensopado nesta canção. Em 1988, Bobby McFerrin cantou a capella, sozinho e em multipistas, a fórmula definitiva para ultrapassar qualquer tribulação nesta vida: basicamente, assobiar para o lado e manter a calma, que isto tudo se resolve, e se a gente se apoquenta muito só duplica o abacaxi. A mensagem passou e o contágio foi global. Está guardado no álbum Simple Pleasures, o único grande sucesso comercial mainstream do génio norte-americano.

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13. “Heroes”, David Bowie

Entre 1977 e 1979, Bowie viveu em Berlim e por lá gravou três álbuns em colaboração com Brian Eno: Low, Heroes e Lodger. A canção-título da segunda peça desta Trilogia de Berlim conta a história de dois amantes separados pelo muro que dividia a cidade e simbolizava toda a Cortina de Ferro, e com o tempo foi-se transformando num hino de esperança e resiliência. Em 1987, Bowie interpretou a canção num espectáculo frente ao Reichstag, que se tornou lendário pela sua carga emocional, e que muitos inscrevem como um momento decisivo no movimento cultural que ajudou a derrubar o muro dois anos depois. É capaz de ser exagero, mas ajuda-nos a manter a fé no poder maior de uma canção.

14. “Here Comes The Sun”, Beatles

É difícil imaginar uma lista das melhores canções para o que quer que seja que não inclua uma peça dos Beatles. Por exemplo, nesta temática da resiliência e da confiança em novos começos, poderíamos facilmente inscrever uma dúzia delas: “All You Need Is Love”, “Hey Jude”, “Let it Be”, “With a Little Help From My Friends”, “The Long and Winding Road”, “Blackbird”, “Across the Universe”, “ Getting Better”, “Come Together", “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, etc por aí adiante. Optamos por “Here Comes The Sun”, a canção diáfana com que George Harrison saudou a Primavera de 1969 e que, juntamente com “Something”, a sua outra notável contribuição para o álbum Abbey Road, permitiu que o fosse definitivamente reconhecido como um compositor ao nível de Lennon e McCartney.
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15. “I Can See Clearly Now”, Johnny Nash

Eis a canção que expõe de forma cristalina a universal alegoria meteorológica, segundo a qual um momento de tristeza é como um dia de chuva para ser cantado em tom menor e a esperança se abre sempre em tom maior quando o Sol descobre. Composta e originalmente interpretada por Johnny Nash, em 1972, é mais um dos casos desta lista que liderou a Billboard Hot 100. Tem um balanço reggae pegadiço (Nash tinha trabalhado com Bob Marley, a propósito) e um optimismo contagiante. Em rigor, é um elogio das condições de visibilidade numa manhã soalheira após uma noite de intempéries.

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