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Noiserv: “Hoje não há tempo para ouvir um disco inteiro”

Noiserv vai finalmente apresentar ‘Uma palavra começada por N’ em Lisboa. Falámos com o cantor e compositor.

Luís Filipe Rodrigues
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Na recta final de 2019, David Santos, o cantor e compositor que conhecemos como Noiserv, anunciou que ia lançar um novo disco em 2020 e revelou uma das suas faixas, “Meio”. Nos meses seguintes, foi partilhando as restantes canções, uma a uma, antes de reuni-las todas no álbum Uma palavra começada por N, editado no final de Setembro, e começar a apresentá-las ao vivo pelo país. A sua digressão chega finalmente ao Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, no dia 13 de Novembro, pelas 20.00  – começa mais cedo, para podermos estar todos em casa antes do toque de recolher obrigatório.
 

O teu mais recente disco, Uma palavra começada por N, foi antecedido por uma dezena de singles, lançados mensalmente. Por que decidiste apresentar o disco desta maneira?
Acima de tudo, porque parece que hoje não há muito tempo para ouvir um disco inteiro. Parece que às vezes os discos se limitam àqueles dois ou três singles, e muitas músicas não são ouvidas. E quando comecei a pensar no disco, e no seu conceito, achei que não fazia sentido destacar à partida duas ou três músicas. Então decidi dar quase um mês a cada uma, para que pudessem ser todas ouvidas com atenção. 

O primeiro tema que partilhaste, ainda no ano passado, o “Meio”, é quase um instrumental. Faz sentido no meio do disco, como uma espécie de interlúdio, mas não me parece uma escolha óbvia para single.
Quis surpreender as pessoas de alguma forma. E achei que devia ser a primeira também porque indicava uma ideia, um registo. Era uma música mais ou menos estranha, mas grande parte dos elementos mais estranhos que estão ali acabam depois por se espalhar ao longo de todas as músicas. Portanto, era quase um teaser do que vinha aí.

Quando partilhaste a primeira canção já tinhas todo o disco gravado?
Já tinha tudo. Quer dizer, acabei o disco em Novembro, mas depois ainda teve de ser masterizado. Ou seja, ainda não estava mesmo tudo pronto quando lancei a “Meio”, mas em termos de gravações e de estúdio e de mistura estava tudo feito. Só consigo assumir que vai sair um disco novo quando ele está todo acabado e já sei o que vai ser.

Curiosamente, pouco depois de lançares o “Meio”, o primeiro avanço deste disco, editaste um álbum diferente, o Soundtracks Vol. 1 (2019), com canções compostas para banda sonoras. O que te levou a editar essa compilação poucos dias depois de começares a apresentar o álbum de 2020?
Aquelas músicas fazem parte de um trabalho que eu tenho feito e que muitas pessoas não conhecem. E achei que fazia sentido tornar aquilo mais público, porque quem ouviu o meu disco anterior, de 2016, se ouvir aquelas músicas que fiz nos últimos quatro anos, e depois escutar Uma palavra começada por N consegue perceber uma ligação. Pode ser um exercício engraçado de fazer. Por isso achei que era uma boa ideia editá-las naquela altura.

Consideraste suspender este plano de apresentação do disco, com os lançamentos mensais, quando a Covid-19 nos fechou em casa e te forçou a cancelar os concertos? Ou achaste sempre que a ideia tinha de ser levada até ao fim?
A única coisa que me preocupou foi ter de adiar o lançamento do disco. Porque a ideia era dar um mês a cada música, e isso só fazia sentido se depois o disco saísse em Setembro. Mas decidi deixar a coisa correr, e depois mais tarde lidava com o que tivesse de lidar. E por muito chata que toda a situação tenha sido, houve um lado positivo. Comecei a perceber que as pessoas que me acompanham mais de perto sabiam que na última segunda-feira de cada mês ia haver uma música e um vídeo novo, e estavam à espera disso. Numa altura em que os concertos não existiam, em que estávamos mais tempo em casa e tudo o que era entretenimento estava reduzido quase a nada, estes lançamentos acabaram por ter até um papel.

Deve ser sempre complicado esperar quase um ano para partilhar ao vivo canções que estão prontas há muito tempo, e imagino que agora seja ainda mais estranho. Estás a tocar canções que foram feitas num mundo diferente. Isso faz-te impressão?
Não me faz impressão porque eu sempre trabalhei assim. Demoro muito tempo a terminar as coisas e só gosto de começar a lançar depois de estar tudo feito. E como as músicas são um pouco transversais a tudo o que seja exterior a mim, não é esta questão da pandemia que vai tornar agora a temática das músicas menos actual.

Mas imagino que a pandemia tenha mudado a tua vida, o que tu sentes. Mudou-nos a todos.
Sim, sim, sim. É claro que mudou muita coisa com a pandemia, porém não mudou a temática daquilo que é o disco, os receios que o disco tem. Eles existem na mesma.

Que temática é essa? Há alguma ideia transversal ao disco?
Muitas músicas falam de uma dificuldade que a pessoa às vezes tem de se auto-elogiar. E essa dificuldade manda-te para baixo, porque é difícil perceber o quanto as pessoas gostam daquilo que fazes ou não fazes. E isso faz-te duvidar. E essa dúvida faz-te questionar se deves ou não continuar. Músicas como a “Neutro” ou como a última do disco, que ainda não saiu, falam todas dessa questão. Da importância que a opinião dos outros tem sobre aquilo que tu fazes. E do medo que eventualmente tenho de me preocupar demasiado com isso, deixando de ser eu próprio.

Crítica

Noiserv - Uma palavra começada por N

★★★

Há sempre algo de mágico naquilo que Noiserv faz. Depois de um disco focado no piano, o homem-orquestra volta a assumir a veia multi-instrumentalista. As peças brilham na sua complexa simplicidade, sem nada ao acaso nem nada a mais. Do piano pingam melodias seduzidas por uma meditativa melancolia. As canções brincam na carpintaria das teclas e no feitiço da maquinaria. As entrançadas camadas de sons, timbres e tons produzem um efeito de encantamento.

O seu quarto álbum é totalmente em português – e a língua materna fica-lhe bem. Na sua solene serenidade, vive intenso, mas sempre tenso. Salivando ao sabor da incerteza, é um disco de dúvidas e interrogações existencialistas, com vontade de se descobrir e compreender. Noiserv soube avançar e evoluir, explorando um labirinto de possibilidades. Como quem olha a imensidão do mar, entre o medo e o maravilhamento, a sua música é infinita. Ana Patrícia Silva

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Conhecemos David Bruno sobretudo como produtor (do Conjunto Corona a PZ), mas nos seus discos a solo revelou ser um mirabolante contador de histórias das zonas esquecidas de Portugal. Depois de se debruçar sobre Vila Nova de Gaia, em Raiashopping, foi à terra dos avós para prestar homenagem ao Portugal dos cafés com cheirinho, dos enchidos, das festas de espuma, dos emigrantes, das tainadas e dos campeões que bebem minis no café em tronco nu nos dias de calor.

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O primeiro disco de Cláudia Pascoal chama-se apenas ! – sim, um ponto de exclamação. Pode parecer estranho, mas quando se fala com a jovem cantora percebe-se que o título é apropriado. Ou pelo menos é um bom reflexo do que ela é, e era essa a intenção. As frases saem-lhe depressa, diz as mais pequenas coisas com grande energia e convicção. Antes da edição do álbum, trocámos dois dedos de conversa.

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  • Brasileira

Carioca de coração e nova-iorquina de nascença, Bebel Gilberto é sobrinha de Chico Buarque e filha de João Gilberto e Miúcha, mas nunca se acomodou na fama da família. A cantora e compositora conseguiu conquistar o seu espaço, construir a sua própria identidade musical e ganhar projecção internacional. Bebeu da fonte familiar da bossa nova, género do qual o seu pai foi pioneiro, e expandiu-a. No balanço lânguido do género incorporou uma gentileza electrónica.

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