Arte, Pintura, Joseph Haydn
©DRJoseph Haydn (à direita, de casaca azul, com uma viola) dirige um quarteto de cordas, por autor anónimo, antes de 1790
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Nove obras-primas para quartetos de cordas

Nove propostas para descobrir um género que tem sido comparado com uma conversa animada entre quatro pessoas inteligentes

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É comum atribuir a Joseph Haydn a “invenção” do formato quarteto de cordas, por volta de 1769-70, quando compôs os seus quartetos op.9, que estabeleceram a divisão em quatro andamentos e uma paridade de protagonismo entre os dois violinos, a viola e o violoncelo. Entre 1757, quando começou a fazer os primeiros ensaios no formato, e 1803, quando, já muito debilitado, se viu forçado a deixar incompleto o op.103, Haydn compôs o assombroso total de 68 quartetos de cordas e operou uma notável evolução no género, no que foi auxiliado, a partir de 1781 pelo seu amigo Mozart. O italiano Luigi Boccherini desempenhou também papel crucial na definição do quarteto de cordas, tal como seu compatriota Giuseppe Cambini (1746-c.1810) e o checo Johann Baptist Vanhal (1739-1813). A partir do início do século XIX, a maior parte dos compositores – exceptuando os que se consagraram inteiramente à ópera ou ao piano – fizeram questão de mostrar o seu domínio da linguagem do quarteto de cordas.

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Nove obras-primas para quartetos de cordas

Quarteto de cordas op.44 n.º 4 G 223 La Tiranna, de Boccherini

Ano de publicação: 1792

Luigi Boccherini (1743-1805) e Joseph Haydn (1732-1809) foram os pais do quarteto de cordas: os primeiros ensaios de Haydn neste domínio, os dez “Quartetos de Fürnberg”, datam de 1757-61, os primeiros de Boccherini foram compostos em 1761 e publicados em Paris em 1767 como op.1. Ambos os compositores se dedicariam ao formato ao longo de toda a vida, deixando uma produção admirável em qualidade e quantidade  – Boccherini com 91 e Haydn com 68.

Os seis quartetos (ou quartettini, assim denominados por serem mais breves do que o quarteto-padrão) do op.44 de Boccherini foram compostos em Espanha, onde o compositor italiano passou a maior parte da carreira e cujas tradições populares “contaminaram” a sua música. Será o caso do op.44 n.º 4 (com apenas dois andamentos, Presto (Tirana) e Tempo di Minuetto, em vez dos usuais quatro), conhecido por La Tiranna, por o seu I andamento se basear na “tirana”, dança com esse nome que estava então em voga em Madrid. Há também quem sugira que quarteto será um retrato musical de Maria del Rosario Fernández, actriz famosa que ficou conhecida como “La Tirana” (por ser casada com “El Tirano”, outra figura famosa dos palcos espanhóis) e foi pintada por Goya.

[Pelo Ensemble 415, em instrumentos de época (Harmonia Mundi)]

Quarteto de cordas op.76 n.º 3 Imperador, de Haydn

Ano de composição: c.1797-98

O op.76, publicado em 1799, foi a derradeira colecção que Haydn conseguiu completar – ainda iniciou o que deveria ser uma nova série de seis quartetos, o op.77, mas após ter composto dois em 1799, a sua saúde declinou rapidamente e, embora em 1802 tenha labutado num terceiro, não conseguiu terminá-lo (o torso seria editado separadamente como op.103 em 1806).

Um dos quartetos mais famosos desse ponto culminante da produção de Haydn que é o op. 76 é o n.º 3, conhecido como “Imperador” (Kaiser-Quartett) por o seu II andamento consistir em variações sobre a melodia de “Gott Erhalte Franz den Kaiser”, um hino que Haydn compusera em honra do imperador austríaco Francisco III (e que os acasos do destino converteram no actual hino nacional alemão – mais nenhum país pode orgulhar-se de ter um hino com um pedigree destes).

[II andamento, pelo DSCH/Schostakovitch Ensemble]

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Quarteto de cordas n.º 19 K 465 Das Dissonâncias, de Mozart

Ano de composição: 1785

Outra figura decisiva na evolução do quarteto de cordas foi Mozart: a sua primeira incursão no género (o K 80) foi feita em 1770, aos 14 anos de idade e comporia um total de 23, sendo os mais relevantes os seis que dedicou ao seu amigo Haydn e que, se por um lado colheram inspiração nos do “papá Haydn”, também estimularam Haydn a ousar novas soluções nos seus derradeiros quartetos.

O quarteto n.º 19 é o último dos “Quartetos dedicados a Haydn” e o lúgubre Adagio que abre o seu I andamento inclui harmonias ásperas e pouco convencionais (as “dissonâncias”), que alguns editores bem intencionados mas pouco esclarecidos se empenharam em “corrigir”.

[I andamento (Adagio – Allegro), pelo Quatuor Mosaïques (Naïve/Astrée)]

Quarteto de cordas n.º 14 op. 131, de Beethoven

Ano de composição: 1825-26

Embora, entre os 16 quartetos de Beethoven, tenha recebido o n.º 14, foi, na realidade, terminado ao mesmo tempo do n.º 16, poucos meses antes da morte do compositor. Alguns músicos (como Wagner) e musicólogos defendem que é o mais sublime quarteto de Beethoven, mas será uma discussão bizantina comparar os méritos de obras tão transcendentes como os derradeiros quartetos (op. 127, 130, 132 e 135, mais a Grande Fuga op. 133, que foi autonomizada do op. 130).

No fim da vida, Beethoven sofisticou e adensou a linguagem do quarteto de cordas a um ponto que fica mais próximo das vanguardas do início do século XX do que da atmosfera amável e distendida do quartetos pioneiros. As liberdades tomadas por Beethoven em relação às “regras” do formato quarteto manifestam-se também na estrutura do n.º 14, que tem sete andamentos, em vez dos usuais quatro.

[VI (Adagio quasi un poco andante) e VII (Allegro) andamentos, pelo Endellion Quartet]

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Quarteto de cordas n.º 14 D810 A Morte e a Donzela, de Schubert

Ano de composição: 1824

Na mesma cidade de Viena e quase ao mesmo tempo que Beethoven lavrava o seu testamento musical nos quatro últimos quartetos, também Franz Schubert, consciente de que lhe restava pouco tempo de vida, escrevia as suas derradeiras obras, entre as quais estão os quartetos n.º 13, 14 e 15. O n.º 14 D 810 é conhecido como A Morte e a Donzela (Der Tod und das Mädchen), por o seu II andamento recorrer à melodia da canção homónima composta em 1817. A obra foi executada apenas duas vezes em audições privadas em 1826 e só seria publicada em 1832 – quatro anos após a morte de Schubert.

[II andamento (Andante con moto), pelo Takács Quartet, na Hopeton House, Escócia, 1998]

Quarteto de cordas n.º 1 op.11, de Tchaikovsky

Ano de estreia: 1871

É considerado como o primeiro grande quarteto de cordas da autoria de um compositor russo. E embora alguns colegas de Tchaikovsky o considerassem como demasiado “europeizado”, o II andamento do quarteto cita uma canção tradicional russa que Tchaikovsky ouviu assobiada por um operário quando de uma estadia na herdade da irmã, em Kamenka, na Ucrânia, no Verão de 1869.

[II andamento (Andante cantabile), pelo Borodin Quartet]

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Quarteto de cordas n.º 2 Cartas Íntimas, de Janácek

Ano de estreia: 1928

O checo Leos Janácek (1854-1928) tinha 63 anos quando, em 1917, conheceu Kamila Stösslová, de 26 anos, e nem a diferença de idades nem o facto de ambos serem casados impediu que entre eles nascesse uma paixão ardente – ainda que mantida na esfera espiritual – que duraria até à morte de Janácek, 11 anos depois. Stösslová foi a musa que inspirou um renovado surto de criatividade no compositor, cujo derradeiro fruto, composto aos 74 anos, foi o Quarteto de cordas n.º 2, baptizado como “Lysti Duverné” (“Cartas Íntimas”), em alusão às 700 cartas que Janácek e Stösslová trocaram.

[II andamento (Adagio – Vivace), pelo Hagen Quartett (Deutsche Grammophon)]

Quarteto de cordas n.º 2 Sz.67, de Bartók

Ano de estreia: 1918

Os seis quartetos de cordas de Béla Bartók (1881-1945), compostos entre 1907 e 1940, são um dos monumentos da música de câmara do século XX e, sendo de qualidade consistentemente alta, qualquer deles poderia ter sido escolhido como amostra. O n.º 2 foi composto entre 1915 e 1917 e o seu II andamento é uma dança de um vigor e aspereza que têm afinidades com o célebre (e escandaloso) Allegro Barbaro para piano, de 1911, ou com as danças selvagens do bailado O Mandarim Maravilhoso, em que Bartók começaria a trabalhar em 1918.

[II andamento (Allegro molto capriccioso), pelo Accord Quartet, na Academia de Música Franz Liszt, Budapeste]

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Quarteto de cordas n.º 8 op.110, de Shostakovich

Ano de estreia: 1960

Dmitri Shostakovich (1906-1975) compôs 15 quartetos de cordas, um número invulgar para os padrões produtivos dos compositores do século XX. Um dos mais famoso é o n.º 8, e em particular pela energia demoníaca que anima o seu II andamento, um moto continuo demente e implacável. A obra foi composta em apenas seis dias, durante uma visita a Dresden, e há quem veja nela um reflexo das impressões suscitadas no compositor pela ainda bem visível devastação da cidade alemã, em resultado dos bombardeamentos aliados no final da II Guerra Mundial. A partitura foi dedicada “às vítimas do fascismo e da guerra”, mas há indícios de que esta dedicatória foi imposta ao compositor pelas autoridades soviéticas, e que a sua atmosfera dilacerada e desesperada terá antes a ver com o universo interior de Shostakovich, atormentado por uma enfermidade grave e pelos atritos com as autoridades soviéticas.

[II andamento (Allegro molto), pelo Emerson String Quartet]

Clássicos da clássica

  • Música
  • Clássica e ópera

O mais frequente na música orquestral é que só um galo cante na capoeira, ou seja, a maioria dos concertos destina-se a um único solista. Porém, no período barroco, era frequente que dois solistas partilhassem o protagonismo.

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