Outono
©Crisferrari1500
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Dez obras clássicas para o Outono

O fim do Verão é muitas vezes uma metáfora para o fim do amor e da vida. Não admira, por isso, que estas obras clássicas sobre o Outono sejam tão desoladas.

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Para os poetas e para os compositores, o fim do Verão não é apenas uma data no calendário astronómico – é, não raras vezes, uma metáfora para o fim do amor e da vida. É por isso que, principalmente a partir do século XIX, as composições de inspiração outonal de autores como Franz Schubert (1797-1828), Gustav Mahler (1860-1911) ou Richard Strauss (1864-1949), entre tantos outros, tendem a ser tão desoladas. E tocantes.

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Dez obras clássicas para o Outono

“October”, de ‘The Monthes’, de Simpson

A Inglaterra dos séculos XVI e XVII conheceu um luxuriante florescimento da literatura para ensemble de violas da gamba. O gambista Christopher Simpson (c.1602/6-1669), embora não esteja entre os mais famosos, merece ser destacado por nos ter deixado duas colecções de Fantasias para viola soprano, duas violas baixo e baixo contínuo, com os títulos The Monthes e The Seasons, que evocam, de forma subjectiva e sem “ganchos” programáticos, as várias épocas do ano.

[Pelo ensemble Sonnerie]

“Concerto para violino RV Outono RV 293”, de ‘As Quatro Estações’, de Vivaldi

As Quatro Estações, de Vivaldi, são a parte mais famosa da colecção de 12 concertos para violino Il Cimento dell’Armonia e de l’Inventione (O Certame da Harmonia e da Invenção), publicada em 1725. Um exemplo pioneiro de música programática, em que os sons abstractos pretendem ilustrar eventos concretos.

[Por Fabio Biondi (violino e direcção) e Europa Galante]

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“Outono”, de ‘As Estações’, de Haydn

A oratória As Estações (Die Jahreszeiten), estreou em Viena em 1801, primeiro num espectáculo privado para os aristocratas que tinham contribuído para a sua composição (a 24 de Abril) e depois num espectáculo público (a 19 de Maio). A ênfase do libreto, confeccionado pelo Barão Gottfried van Swieten a partir de um longo poema publicado em 1730 por James Thomson, está menos na celebração da natureza e mais na representação das relações do homem com um mundo natural onde Deus é omnipresente. No início do Outono, após um recitativo que celebra a exuberância das colheitas e a prodigalidade na Natureza, o trio “So Lohnet die Natur den Fleiss” comporta uma lição de moral: a prosperidade só pode ser alcançada com trabalho árduo.

[Trio com coro “So Lohnet die Natur den Fleiss” (até 5’33), por Tünde Sazabóki (Hanne), Timothy Bentch (Lukas), István Kovács (Simon), Purcell Choir & Orfeo Orchestra, com direcção de György Vashegyi)]

“Outono D945”, de Schubert

Não podia ser mais diversa a perspectiva da canção Outono (Herbst), sobre poema de Ludwig Rellstab (1799-1860). Estamos em Abril de 1828 e Schubert a quem restam sete meses de vida, oferece uma visão do Outono que é afim do ciclo de canções Viagem de Inverno, que compusera no final do ano anterior.

[Por Dietrich Fischer-Dieskau (barítono) e Gerald Moore (piano)]

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“Setembro”, de ‘O Ano’, de Fanny Mendelssohn

Fanny Mendelssohn (1805-1847) é bem menos famosa do que o seu irmão mais novo, Felix, e das 460 peças que compôs, a maior parte para piano, o seu instrumento, poucas são as que têm alguma visibilidade. Ainda assim, a suíte para piano em 12 partes O Ano (Das Jahr), de 1841, é das que surge mais frequentemente em programas de recitais. Em Setembro, Fanny Mendelssohn escolheu situar-se “Junto ao Rio” e faz o piano emular a agitação das águas.

[Por Riccardo Bovino, num piano histórico construído por Sébastien Érard em 1852; registo na Wildt’sches Haus, Basileia, 2015]

“Outono”, de ‘As Estações’, de Glazunov

O bailado As Estações, de Aleksandr Glazunov, estreou-se em 1900, no Teatro Imperial do Hermitage, em São Petersburgo, e teve coreografia de Maurice Petipa. Glazunov revela um entendimento festivo e ruidoso do Outono, mas entre a “Bacanal” de abertura e a “Apoteose” de fecho, há um breve, sereno e melancólico Adagio que está entre o melhor que ele escreveu.

[Adagio]

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“O Solitário no Outono”, de ‘A Canção da Terra’, de Mahler

O Solitário no Outono (Der Einsame im Herbst) é o II andamento de A Canção da Terra (Das Lied von der Erde), que Gustav Mahler compôs em 1908, sobre textos de diversos poetas chineses, em tradução livre para o alemão de Hans Bethge. Mahler, que sofrera no ano anterior três rudes golpes – a morte da filha mais velha, o despedimento do cargo de director da Ópera de Viena e a revelação de que sofria de um doença cardíaca incurável –, terá sentido afinidade para as tonalidades crepusculares do poema O Solitário no Outono, de Chang Tsi.

[Christa Ludwig (contralto) e Orquestra Filarmónica de Israel, dirigida por Leonard Bernstein]

“November Woods”, de Bax

Arnold Bax (1883-1953) faz parte de um grupo de compositores do século XX que é muito popular nas Ilhas Britânicas e raramente ouvido fora delas. A sua produção de música orquestral inclui sete sinfonias, três bailados e 18 poemas sinfónicos, entre os quais está November Woods (1917). A obra não possui programa definido e, reconheceu o compositor, foi influenciado pela turbulência emocional que vivia à data, em resultado da paixão pela pianista Harriet Cohen, que o levou a abandonar a esposa e os filhos. Hoje, familiarizados como estamos com o cinema e as suas bandas sonoras, seríamos tentados a ver em November Woods a influência da “música para filmes”, mas, atendendo à data de composição, seria mais fácil passar-se o contrário. Seja como for, o dramatismo arrebatado da música de November Woods sugere o desenrolar de uma narrativa e não lhe assenta mal o adjectivo “cinemático”.

[Pela Orquestra Sinfónica da BBC, dirigida por Vernon Handley]

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“Setembro”, de ‘Quatro Últimas Canções’, de Strauss

O título Quatro Últimas Canções (Vier Letzte Lieder) é para ser entendido literalmente: são a derradeira obra de Richard Strauss e ele, que tinha 84 anos quando as compôs, em 1948, sabia-o. Não chegaria a ouvi-la, pois faleceu em Setembro do ano seguinte e as canções foram estreadas em Maio de 1950, por Kirsten Flagstad, a Philharmonia Orchestra e Wilhelm Fürtwangler. A escolha dos poemas foi feita nessa perspectiva crepuscular e é difícil imaginar melhor epitáfio do que “Setembro”, de Hermann Hesse.

[Por Kiri Te Kanawa (soprano) e a Orquestra Filarmónica da BBC, com direcção de Georg Solti, ao vivo no Free Trade Hall de Manchester, 1990]

“Autumn Gardens”, de Rautavaara

Einojuhani Rautavaara (1928-2016) é o compositor finlandês de maior projecção internacional depois de Jean Sibelius e deixou uma obra vasta e variada, mas não é muito apreciado pela crítica, que o vê como retrógrado por compor em moldes tonais. Quem não seja intolerante ao romantismo tardio, achará encantos em Autumn Gardens (1998), uma colorida e opulenta peça orquestral em três andamentos, encomendada pela Orquestra de Câmara Escocesa.

[III andamento (Giocoso e leggiero), pela Orquestra Filarmónica de Helsínquia, dirigida por Vladimir Ashkenazy (Ondine)]

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