O concerto estava marcado para 11 de Julho no Passeio Marítimo de Algés, em Oeiras. Era o regresso dos Wolf Parade a Portugal, depois de terem actuado em 2018 no NOS Primavera Sound, no Porto. Na mala, trariam um disco novo e uma nova formação. Ou melhor, uma banda reduzida a três, depois da saída do baixista Dante DeCaro que já não participou em Thin Mind, editado em Janeiro. Dan Boeckner atendeu o telefone na Califórnia, depois de um concerto onde contava ter tido “o público mais diverso de sempre”. “O mundo mudou, não consumimos mais a música da mesma maneira e isso renova quem nos ouve”, dizia o guitarrista, ansioso por tocar o novo disco em Portugal.
Thin Mind, o quinto álbum dos canadianos que apareceram na mesma altura em que os Arcade Fire começavam a dar nas vistas, é também ele fruto da mudança. Do tempo e da banda. Dan Boeckner, Spencer Krug e Arlen Thompson estão mais velhos, mas com a mesma vontade de fazer o que ainda não foi feito. “Como nunca fomos uma banda pop, e sempre fomos uma banda de culto, podemos fazer o que queremos, sem medo de cortar com o disco anterior.” E o que querem? “Queremos sempre ser melhores e chegar perto do som que temos nas nossas cabeças”, responde Dan Boeckner, explicando que, “por mais estranho que pareça”, os Wolf Parade ainda estão à procura do disco perfeito. “Acho que ainda não o fizemos, e talvez nunca lá chegaremos, mas trabalhamos com isto em mente e é o que vamos sempre tentar.”
E é por isso que lhe custa a aceitar as críticas de que os Wolf Parade viverão sempre à sombra do primeiro álbum, o brilhante Apologies to the Queen Mary editado em 20005 e que os colocou tantas vezes em comparações com os conterrâneos Arcade Fire. “Se lanças um primeiro disco muito popular, vai ser sempre difícil conceptualizar tudo o que vem depois. Uma coisa que eu gosto nos Wolf Parade é que nunca tentámos recriar esse álbum”, aponta, explicando que a explosão de um primeiro disco é algo que acaba por passar com o tempo. “O que fica depois disso é a forma como cresces, como evoluis”, defende. “Os Wolf Parade são sempre a mesma coisa, mas sempre diferente. E acho que é disso que mais me orgulho nesta banda.”
Mas Dan Boeckner admite que nem sempre o caminho foi claro. Um hiatus de quase cinco anos é a melhor prova disso, apesar de os membros da banda nunca terem ficado parados.
Boeckner, por exemplo, fez parte também dos Handsome Furs, dos Divine Fits e dos Operators – só estes últimos se mantêm no activo, a par dos Wolf Parade. “Às vezes, torna-se confuso, é verdade. Por exemplo, quando estávamos a fazer Thin Mind, eu estava a acabar o último disco dos Operators e era o Arlen dos Wolf Parade que estava a produzir esse disco. É quase como uma fábrica em que estás a fazer produtos diferentes”, brinca o músico, para quem os Wolf Parade nunca estiveram tão próximos da sua origem.
É certo que durante muito tempo foram quatro membros, mas foi com os três de agora (Boeckner, Krug e Thompson) que tudo começou. E Thin Mind não está assim tão longe de Apologies to the Queen Mary. “Nós somos agora mais essa banda do primeiro álbum porque sempre existiu uma espécie de ligação artística e criativa entre nós os três, como a capacidade de escrever muito rápido e de alguma forma antecipar o que cada um vai fazer.”
Já ao vivo, ficou tudo mais complicado, mas também mais recompensador, garante. “Cada um tem agora mais trabalho, mas é bom porque é quase como um desporto de competição.”
Resta então saber quando os voltaremos a ver por cá, uma vez que a digressão de apresentação do disco foi adiada e também o NOS Alive ainda não compôs o seu cartaz para 2021. Até lá, é provável que apareça música nova. “Temos um problema, ou talvez não seja problema, que é sermos workaholics na música.”