O reino misterioso do sono nunca deixou de atrair os compositores de canções e, entre muitas escolhas possíveis, há neste lote gente conhecida como os Beatles, os Smiths e os Smashing Pumpkins. Estas oito substâncias hipnóticas podem ser tomadas sem receita médica, mas há que ter em atenção que alguns poderão produzir, nas almas mais sensíveis e quando consumidos repetidamente, efeitos secundários imprevisíveis. O importante é reter que as canções de embalar, apesar de talvez terem sido as primeiras criações musicais do homo sapiens, não são um género esgotado. A prova está aqui.
★★★★☆
Não há muitos músicos tão inventivos e destemidos como Noah Lennox, vulgo Panda Bear. A solo e com os Animal Collective, o cantor e compositor americano vem desde o final dos anos 90 a desenvolver um corpo de trabalho em constante mutação, testando novas formas e técnicas sem nunca perder o norte nem abdicar de uma certa coerência estética.
E mesmo assim o seu mais recente álbum, Buoys, consegue surpreender. É mais minimalista e quase esquelético quando comparado com os discos assinados e co-assinados por estes lisboeta adoptivo nos últimos 12 anos. Sem infinitas camadas de vozes e samples empilhados uns sobre os outros, os sons respiram e ecoam com uma calma oceânica. As canções sucedem-se, sempre com a voz em destaque e mais ou menos processada, amparada por uma guitarra computorizada, batidas mecânicas e sons que à primeira escuta parecem fora de lugar, como gotas de água a cair, disparos de raios laser, barulhos de videojogos ou o choro de uma mulher – a DJ e cantora de trap e reggaetón chilena Lizz, responsável por muitos dos arranjos.
O trabalho do produtor Rusty Santos com artistas de trap triste e reggaetón teve uma influência determinante no som do álbum, tal como o dub e a folk que de certa forma são transversais à obra de Panda Bear. É na intersecção dessas referências que a pop beatífica de Buoys ganha forma. E nos surpreende uma e outra vez.