Música, Fagote Barroco, Sergio Azzolini
©DRSergio Azzolini, um especialista no fagote barroco
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Seis concertos para fagote do período Barroco

O patinho feio dos instrumentos de sopro é, afinal, um expressivo e ágil solista

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O fagote é um instrumento de dupla palheta de sonoridade grave, cujo antepassado é a dulçaina ou baixão. Enquanto as dulçainas da Renascença e dos primeiros tempos do barroco tinham a sua função limitada a assegurar o suporte na zona grave do espectro sonoro, o fagote, desenvolvido a partir de meados do século XVII, presumivelmente pelo francês Martin Hotetterre, era um instrumento mais ágil e expressivo e com uma maior amplitude de registo. Os fagotes foram substituindo as dulçainas no papel de baixo da família das madeiras e quando, no final do século XVII, foi somada uma chave às três que já possuíam, ganharam uma extensão que lhes permitiu, nas mãos certas, assumir o papel de solistas. O instrumento continuou a evoluir e até ao final do período barroco ganhou uma quinta chave.

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Seis concertos para fagote do período Barroco

Concerto RV.495, de Vivaldi

A larga maioria dos compositores ignorou o fagote como instrumento solista e os poucos que fizeram uma incursão na modalidade concerto para fagote e orquestra ficaram-se por um único exemplar. Antonio Vivaldi (1678-1741) é um caso excepcional, ao ter composto (pelo menos) 39 concertos para fagote (dois deles em estado incompleto), hoje arrumados no catálogo das suas obras com os números RV.466 a 504.

Boa parte deles requer um solista de proficiência bem acima da média. Desconhece-se quem terão sido os destinatários destas obras virtuosísticas – há quem sugira as raparigas do Ospedale della Pietà, a que Vivaldi esteve associado durante muitos anos, mas não há registo de fagotes entre os muitos instrumentos tocados pelas internas desta instituição. Uma hipótese mais provável é que se tenham destinado a mecenas da Europa Central, nomeadamente da Boémia, região afamada pelos seus instrumentistas de sopros – sabe-se, por exemplo, que, a partir de 1719, Vivaldi terá enviado dezenas de concertos para o Conde Morzin, um melómano boémio a quem dedicou As Quatro Estações. O Concerto RV.495 terá sido composto na década de 1720.

[I andamento (Presto), por Sergio Azzolini (fagote e direcção) e L’Aura Soave Cremona, em instrumentos de época (Naïve)]

Concerto em dó maior, de Reichenauer

Foi também para o Conde Morzin que o boémio Jan Antonín Reichenauer (c.1694-1730) compôs vários concertos. Pairam muitas incertezas sobre a biografia de Reichenauer (também conhecido pela forma germanizada do seu nome, Johann Anton Reichenauer), mas supõe-se que no início da década de 1720 terá sido nomeado mestre de capela de uma igreja em Praga, provavelmente a de Maria Madalena; terá também composto para a Casa de Czernin, uma das mais antigas e prestigiadas famílias aristocráticas da Boémia, e em 1730 assumiu o cargo de organista na cidade de Jindrichuv Hradec, no sul da Boémia, mas faleceu um mês depois.

A sua produção concertante dá papel solista ao violino, ao violoncelo, ao oboé e ao fagote – para este último compôs três concertos. O Concerto em dó maior requer um solista de elevada craveira, possivelmente Antonín Möser, que era o segundo músico mais bem pago da orquestra do Conde Morzin.

[Por Sergio Azzolini (fagote) e Collegium 1704, em instrumentos de época, com direcção de Václav Luks (Supraphon)]

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Concerto em sol menor, de Jiránek

Frantisek Jiránek (1698-1778) é mais um compositor boémio associado ao Conde Morzin – e desde tenra idade, uma vez que os seus pais estavam ao serviço deste aristocrata. O talento demonstrado por Jiránek justificou que o Conde o enviasse, em 1724, para estudos de aperfeiçoamento em Veneza, onde terá sido aluno de Vivaldi – hipótese que se sustenta no vínculo existente entre Morzin e Vivaldi e no facto de algumas das composições de Jiránek terem cunho vivaldiano.

Tem havido dúvidas na atribuição de obras entre Frantisek Jiránek, que compôs dois concertos para fagote, e o seu compatriota (mas sem relação familiar) Antonín Jiránek (c. 1712-1761), que trabalhou na orquestra de Dresden e também compôs concertos para fagote (quatro).

[Por Sergio Azzolini (fagote) e pelo Collegium Marianum, em instrumentos de época, com direcção de Jana Semerádová (Supraphon)]

Concerto GWV.301, de Graupner

Christoph Graupner (1683-1760) nasceu em Kirchberg e teve como primeiro professor o seu tio. Em Leipzig estudou Direito na universidade e música com Kuhnau. Deixou a cidade em 1705 para ser cravista na Ópera de Hamburgo. Em 1709, tornou-se músico da orquestra da corte de Hesse-Darmstadt, ascendendo dois anos depois a mestre de capela, posto que manteria até à morte. Foi bastante prestigiado no seu tempo e deixou uma obra vastíssima – chegaram aos nossos dias 1400 cantatas, 113 sinfonias, 44 concertos, entre os quais estão quatro concertos para fagote (GWV.301, GWV.307, GWV.328 & GWV.340) e um triplo concerto para chalumeau, fagote e violoncelo (GWV.306)

[I andamento (Vivace), por Sergio Azzolini (fagote) e pelo Ensemble Il Capriccio, em instrumentos de época, com direcção de Christian Leitherer (Carus)]

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Concerto FWV L:C2, de Fasch

Também o alemão Johann Friedrich Fasch (1688-1758) esteve ao serviço do Conde Morzin, que foi, sem dúvida, o principal instigador do repertório concertante para fagote desta época. Fasch foi aluno de Christoph Graupner em Leipzig e em Darmstadt e desempenhou funções de violinista na orquestra da corte de Bayreuth, escriturário em Gera e organista em Greiz. Foi em 1721-22 que fez parte da orquestra do Conde Morzin, antes de aceitar o cargo de mestre de capela em Zerbst, onde permaneceu até à morte.

Apesar de ter composto abundantemente, nenhum peça sua foi publicada durante a sua vida. Nas suas 94 suítes para orquestra, a maior parte concede papel concertante ao fagote, que é também solista em quatro dos seus concertos; em dois destes, o fagote reparte protagonismo com outros solistas e noutros dois – FWV L:C2 e L:c1 – o fagote é o único solista. Desconhece-se se estes concertos foram compostos para Zerbst ou para Dresden, para cuja orquestra Fasch enviou numerosas obras.

[I andamento (Allegro), por Paolo Tognon (fagote) e Capella Savaria, em instrumentos de época, com direcção de Pál Németh (Dynamic)]

Concerto em sol maior, de Hertel

Johann Wilhelm Hertel (1727-1789) nasceu em Eisenach, 42 anos depois de aí ter visto a luz do dia um certo Johann Sebastian Bach. O pai, o violinista Johann Christian, dirigia a orquestra da corte e o jovem Hertel cedo começou a acompanhar o pai como cravista; mais tarde aprendeu também a tocar violino. Seguiu viagem com o pai quando este assumiu a direcção da orquestra da corte de Mecklenburg-Strelitz e quando o pai adoeceu, em 1751, o jovem Hertel acabou, na prática, por desempenhar as suas funções. Quando a orquestra de Strelitz foi dissolvida, Hertel mudou-se para a corte de Mecklenburg-Schwerin, onde esteve, na qualidade de cravista e mestre de capela, ao serviço dos duques Christian Ludwig II (compondo sobretudo música instrumental) e Friedrich II (compondo sobretudo música sacra). Tal como aconteceu com Fasch, nenhuma das suas obras foi publicada em vida, o que contribuiu para que tivesse mergulhado no esquecimento. Algumas das suas obras orquestrais mais tardias filiam-se no estilo Sturm und Drang, típico da transição entre Barroco e Classicismo, que era também praticado, à época, por Carl Philipp Emanuel Bach.

[I andamento (Allegro), por Sergio Azzolini (fagote) e pela Capriccio Barockorchester Basel, em instrumentos de época, com direcção de Dominik Kiefer (Tudor)]

Clássicos da clássica

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O mais frequente na música orquestral é que só um galo cante na capoeira, ou seja, a maioria dos concertos destina-se a um único solista. Porém, no período barroco, era frequente que dois solistas partilhassem o protagonismo.

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