Sinfonia n.º 7 Leningrado, de Shostakovich
Ano: 1942
A II Guerra Mundial foi fértil em episódios cruentos e brutais, mas o cerco de Leninegrado conseguiu, ainda assim, destacar-se. Hitler levava a toponímia muito a peito e se Moscovo era um objectivo primordial por ser a capital da URSS e um nó de comunicações estratégico, as cidades baptizadas com os nomes dos dois vultos maiores do bolchevismo – Lenin e Stalin – representavam para o Führer alvos de prioridade comparável. O cerco de Leninegrado durou 872 dias e terá causado cerca de um milhão de mortos entre os seus defensores e habitantes. E os alemães não podem sequer alegar que os civis foram “danos colaterais”, já que o plano nazi visava expressamente aniquilar a população pelos bombardeamentos, pela fome e pela doença.
Entre os civis que ficaram encurralados na cidade contava-se Dmitri Shostakovich, cuja falta de vista o levara a ser rejeitado quando se oferecera como voluntário para o Exército Vermelho, mas que desempenhou galhardamente funções de bombeiro durante o cerco, ao mesmo tempo que iniciava a composição da Sinfonia n.º 7. Na verdade a sua experiência na cidade foi breve, já que o cerco foi fechado a 8 de Setembro e a 1 de Outubro Shostakovich foi evacuado para Moscovo e, depois, para Kuibyshev, onde completou a sinfonia. Foi nesta última cidade que a obra estreou, a 5 de Março de 1942.
A estreia em Leninegrado, onde as condições de vida se tinham tornado extremamente penosas, teria lugar a 9 de Agosto de 1942, por uma orquestra ad hoc reunida em torno dos poucos e cadavéricos sobreviventes da Orquestra da Rádio de Leninegrado, e o concerto foi difundido por altifalantes espalhados pela cidade, em jeito de proclamação de coragem e determinação em resistir. Mas antes já a sinfonia se difundira nos países aliados, com estreia em Londres a 19 de Junho e em Nova Iorque a 19 de Julho, com radiodifusão em directo à escala nacional. Shostakovich tornara-se num símbolo da resistência da cultura à barbárie nazi e a Time concedeu ao “bombeiro Shostakovich” a capa do seu n.º de 20 de Julho de 1942.
[I andamento (Allegretto), pela Orquestra Sinfónica do Ministério da Cultura da URSS, com direcção de Gennady Rozhdestvensky]