As novidades na restauração multiplicam-se de tal forma que, à medida que damos conta dos restaurantes que abriram nos últimos meses, novas mesas já nos esperam. Entre os espaços que ainda cheiram a novo há restaurantes de alta-cozinha, comida democrática e street food, refeições para qualquer hora do dia, do pequeno-almoço ao jantar, pratos daqui e do mundo. Fazemos-lhe um guia com os melhores novos restaurantes em Lisboa e arredores, abertos nos últimos meses.
Ljubomir Stanisic
Tinha 14 anos quando começou a guerra em Sarajevo. Saído da escola, com três amigos, marcou a mão a tinta da china. Desde então, não há tatuagem no corpo que não conte um pedaço da sua história. A entrada na cozinha, o dia em que conheceu a mulher, o nascimento dos filhos, a morte do pai... Um trabalho inacabado, tal como a mais recente empreitada. “Guernica, do Picasso. É o meu quadro favorito.” Explicasse Ljubomir o significado de todas as tuatuagens e talvez não fosse tão temido, só o chef que agarra o touro pelos cornos (tal como na tattoo que esconde debaixo da jaleca e cuja figura se tornou também símbolo do seu 100 Maneiras).
Louise Bourrat
Treize. Ou 13. Podia ser o número da sorte da luso-francesa, mas é antes o número da temporada do programa televisivo francês Top Chef do qual se sagrou vencedora no ano passado. A mesma tatuagem têm os outros concorrentes. “Fui eu que lhes fiz”, conta a chef do Boubou’s no Príncipe Real. Hélène Darroze, com seis estrelas Michelin em três restaurantes, fazia parte do júri e ficou tentada, mas Louise não se atreveu a deixar-lhe uma marca. “Comecei a fazer tatuagens como hobby durante a pandemia, a maioria das minhas fiz sozinha.” O desejo é fazer mais, assim que haja uma folga.
Fábio Algarvio e Zé Paulo Rocha
Na Mouraria, a dupla da tasca mais punk da cidade já (quase) dispensa apresentações. São a cara e a alma do Velho Eurico e isso, mais tarde ou mais cedo, vai acabar por ficar agarrado à pele. Até lá, as tatuagens são um pouco como a playlist do restaurante, que pode ir dos Ena Pá 2000 a António Variações e Capitão Fausto, especialmente no caso de Zé Paulo, onde arte erótica, caldo verde e rissóis convivem com lembranças da família.
Inga Martin
De sorriso sempre pronto, Inga chefia a cozinha do Go A Lisboa, em Alcântara. A operação é grande, mas a chef não vacila, nem mistura mundos. As tatuagens têm de ter significado, acredita. E por isso não se vê a fazer ingredientes ou elementos da culinária. No braço, fez uma declaração de amor ao filho. “Chama-se Oliver. Oliver vem de Oliveira e por isso tenho uma oliveira. E um sol porque ele é o meu sun [sol] e o meu son [filho].”
Elísio Bernardes
Sem nunca perder o norte – há uma bússola tatuada para dar uma ajuda –, Elísio chegou de Braga, vindo do Meliá Braga Hotel & Spa, há pouco mais de um ano para chefiar o Sea Me. É também o chef do departamento de alto rendimento do Sporting Clube de Portugal, mas nem por isso o desporto se destaca entre as muitas tatuagens. Nem isso, nem a gastronomia. O chef prefere antes tatuar o que mais lhe fala ao coração: a família.
Paulo Alves
A vida na cozinha está marcada numa das pernas, desde a altura em que Paulo Alves vivia longe dos holofotes que a estrela Michelin, quando estava no Kabuki, lhe apontou. Quem o vê no serviço, onde se exige uma certa formalidade, não lhe conhece a descontracção habitual (nem lhe vê nenhuma das tatuagens). Tinha 16 anos quando fez a primeira, arrependeu-se, mas nem por isso parou, até porque tudo se pode transformar. À vista, saltam os desenhos feitos pelos filhos.
Natalie Castro
Entre outras tatuagens, há um coração revestido a frutas e legumes, cogumelos, cenouras e folhas. É com pão e doces que Natalie Castro nos conquista tantas vezes, mas também já se sabe que nem só de padaria e pastelaria se faz o seu Isco. A casa de Alvalade, na verdade, não podia ser mais à sua imagem. Um porto seguro de boa comida com muito rock ‘n’ roll. E é assim Natalie e a sua pele também.
Rafael Prates e Daniel Ferreira
Houvesse mais tempo e mais tatuagens Daniel teria para mostrar – vontade, pelo menos, não lhe falta. Do lado de dentro do balcão do Corrupio, são as facas no braço que chamam à atenção. Mas há um detalhe que costuma escapar aos clientes: os pequenos desenhos que representam aquilo que o chef gosta para lá da cozinha (música, futebol, viagens, humor negro). Por seu lado, Rafael está bem assim. O sous chef tatuou o braço aos 18 anos, “simplesmente” porque na altura gostou.
Vladmir Veiga
“Não faço tatuagens por fazer”, diz o chef residente do estrelado LAB by Sergi Arola, no Penha Longa. Vladmir é discreto, até quando está aos comandos da cozinha, não acusando nunca o peso que a ausência do chef catalão que dá nome ao restaurante pode acarretar. Fez a primeira tatuagem aos 18 anos, convencido por amigos. Hoje, fala em “projectos” e divide assim o corpo. Num braço, o projecto África. No outro, a sua vida (e até uma receita).
Tiago Penão
Ao balcão do Kappo, em Cascais, é difícil desviar o olhar de Tiago Penão, não só pela mestria com que conduz a refeição, mas também pelas tatuagens nos braços que não se revelam por completo. “Às vezes noto os clientes a tentar perceber o que é, mas são poucos os que perguntam”, diz o chef, que abriu também o Izakaya, uma taberna japonesa à sua imagem, cheia de atitude. Não é por acaso que no corpo o destaque vai para a cultura japonesa.
Maurício Varela
É enquanto pica chalotas na cozinha do Dahlia que Maurício vai desvendando as suas tatuagens. Não as conta, nem lhes dá particular significado. É uma coisa que gosta e isso também diz muito de si. “Eu idolatrava muito o Henry Rollins, vocalista dos Black Flag, e pensava que gostava de envelhecer como ele. Gosto da estética punk, rockabilly, e simplesmente estou numa profissão onde me posso tatuar na boa.”