Manuel Manso
Manuel Manso

Uma entrevista colectiva: precisamos de conversar

O Auéééu-Teatro, o Teatro da Cidade e a Companhia Mascarenhas-Martins são jovens companhias que têm criado ciclos de conversas, diálogos fora de cena. Juntámos dois elementos de cada estrutura para uma conversa sobre conversar.

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A falar, também fora de cena, é que a gente talvez se possa entender. Precisamos de querer conversar. Como querem estas três companhias. O Auéééu-Teatro tem criado um ciclo de conversas sobre o trabalho (esta quarta-feira há mais uma, às 18.30, na Livraria Ferin). O Teatro da Cidade realizou conversas no CAL – Primeiros Sintomas com um intuito mais curioso, a pender para a filosofia, enquanto que a Companhia Mascarenhas-Martins, do Montijo, se preocupa em criar sessões públicas onde chama a comunidade e procura que todos nos conheçamos melhor. Claro, só assim poderemos conversar melhor. Sugerimos nós. Nesta mesa, o Auéééu-Teatro fez-se representar por Sérgio Coragem e Beatriz Brás, o Teatro da Cidade por Guilherme Gomes e Nídia Roque e a Companhia Mascarenhas-Martins por Levi Martins e Maria Mascarenhas. 

Estamos em 2018. Ainda continuamos a precisar de conversar ou precisamos ainda mais de conversar? 

Sérgio Coragem (S.C.): Nunca foi tão necessário conversar como hoje. Há qualquer coisa no diálogo que se transformou, perdeu-se a conversa com as pessoas nos locais físicos, parece que o conversar funciona como uma redescoberta de uma capacidade que as pessoas têm. 

Guilherme Gomes (G.G.): Parece-me inevitável falar. A partir de um momento em que existem dois indivíduos e um tem curiosidade por outro. Não creio que hoje seja mais importante do que noutros tempos. A conversa é como o amor, surge naturalmente. Estas conversas – a nossa, dos Auéééu e da Mascarenhas-Martins – partem de curiosidade. É tão preciso falar quanta curiosidade houver.  

Ao mesmo tempo hoje abundam as conversas pós-espectáculos. Isso não é bem a mesma proposta. 

Beatriz Brás (B.B.): No nosso caso são conversas antes do espectáculo. 

S.C.: Sim, porque o ciclo está ligado com o processo de criação do próximo espectáculo, a intenção é roubar boas ideias. 

B.B.: É algo diferente dessas conversas após o espectáculo. A mim faz-me confusão, não quero fechar interpretações, não acho que a visão do artista seja maior. Há aquele risco de ser a justificação do espectáculo. 

Nídia Roque (N.R.): Ao mesmo tempo o público tem que sentir que faz parte do nosso trabalho. Depois sinto que não que temos de organizar conversas com qualquer sentido social ou político, o discurso artístico não tem de o ser, ainda que seja sempre.

Mas um teatro municipal, por exemplo, não deve construir esta relação de diálogo mais prolongado do que esta ideia de conversa de esclarecimento? 

G.G.: Tu fizeste uma pergunta um bocado provocadora. Nós somos Teatro da Cidade, mas não somos um teatro municipal. 

Claro, mas podes ter uma ideia sobre isso. 

G.G.: Pois, não sei, desinteresse. E ainda vão existindo algumas coisas, são é pessoas que não estão muito ligadas a essa rede de teatros, o Cão Solteiro, por exemplo, fez uma série de conversas sobre botânica. Acho isso muito interessante. Mas confesso que não sei porque é que não existe mais diálogo.

M.M.: Eu sei, posso-te explicar, se quiseres. 

Também gostava de saber. 

M.M.: Não é do interesse político. Há uma série de equívocos na opinião pública sobre a vida dos artistas e a forma como gerimos subsídios, por exemplo, a ideia de que “és subsidiodependente”. Se assim fosse ninguém fazia nada. Subsidiodependentes são os políticos e os partidos, que só vivem disso. A maior parte dos cine-teatros e dos teatros municipais foi abocanhada pelos partidos políticos e pelas câmaras municipais, dá muito jeito porque é bonitinho. É claro que não há espaço para conversas. 

Levi Martins (L.M.): Não encontras ali um espaço de diálogo aberto. Esta conversa lembra-me a filosofia, na Antiguidade não havia um sítio para a ter. Tive a felicidade de crescer com um amigo que estava a estudar filosofia e o que fazíamos era conversar. Almoços que acabavam em jantares. Falávamos tanto dos autores que ele estudava como falávamos de Jimi Hendrix. 

 

Lá está, o assunto é secundário. 

L.M.: Estamos a verificar que todos aqui partilhamos esta necessidade de proximidade dos outros, do público, o que regressa se calhar a um período em que o teatro independente começou a trabalhar, mais perto da revolução. 

G.G.: Mas nós não estamos num período de revolução, isso tem uma diferença brutal. Quando surgiu o teatro independente, as pessoas invadiam os teatros para tentar colaborar com os grupos de teatro da maneira que pudessem: “eu traduzo-vos o texto, eu faço frente sala”. Esta vontade de criar relação é um outro género de revolução, onde se torna evidente que o teatro é das pessoas, que as portas não deviam estar fechadas. 

Mas concordas que os teatros são estruturas, à partida, pouco acessíveis. 

G.G.: Sim. Mas o problema é quando se confunde a arquitectura do espaço com a sua natureza. Mas isto pode ser apontado ao público tanto quanto a nós. Quantos de nós têm coragem de chegar a um serviço público qualquer, sei lá, ao balcão Campus de Justiça, a senhora perguntar “o que é que você quer?” e dizer assim “olhe, só queria saber o que faz o dia todo, gostava de aprender alguma coisa consigo, posso assistir?” Não é que tenhamos de fazer isto, mas porque é que não fazemos? 

N.R.: Mas a verdade é que um teatro para ser habitado tem de estar a acontecer qualquer coisa. Se não é só um espaço opulento, que pode não dar vontade de entrar, há logo assim uma carpete vermelha e eu que vim de ténis se calhar não posso pisar. Isto afasta o maior público. Não é o espaço mais acolhedor para se entrar. 

Mas se dinamizares e criares atracções para chamar público...

N.R.: Exacto, se um foyer é só um sítio de passagem...

M.M.: E repara, depois do 25 de Abril as pessoas invadiram os teatros porque achavam que aquilo era deles. Agora as pessoas têm medo de dialogar com os artistas porque não entendem metade do que se está a dizer. 

L.M.: Precisamos de confiar uns nos outros, a confiança parece-me chave. Sonho com um mundo onde os espectadores têm à-vontade, sem medo de errar.  

Outras entrevistas

Liderou a programação infantojuvenil do Maria Matos durante quase doze anos. A sua abordagem mudou o jogo do teatro para crianças e jovens em Lisboa a tal ponto que agora lhe deram o renovado Teatro Luís de Camões, ou LU.CA, entre a Ajuda e Belém, inaugurado no Dia Mundial da Criança. É seguramente um caso raro uma cidade em Portugal ter um teatro cuja programação é toda vocacionada para crianças e jovens. Susana Menezes, que começou no Teatro do Campo Alegre, no Porto, em 2001, é a mulher que lhe vai traçar os destinos. Uma conversa sobre miúdos, para gente grande. 

  • Música
  • Brasileira

Era um sonho antigo de Caetano Veloso subir ao palco com os seus três filhos. Aconteceu pela primeira vez em 2017, no Brasil, a propósito de uma digressão que virou disco e que chega agora a Portugal. O espectáculo une composições dos filhos Moreno (45 anos), Zeca (26 anos) e Tom (21 anos) a releituras da obra do pai. Pela vitalidade de Caetano ou pela descoberta do talento dos seus rebentos, é um dos concertos imperdíveis de Agosto.   Um espectáculo como este é um momento especial na vida de um artista. Como é estar ali em cima do palco a partilhar a sua música, a sua vida e a sua família com o público? Caetano: Para mim é uma felicidade. Sonhei com isso por um bom tempo. Quando finalmente todos puderam e quiseram fazer, foi um misto de gozo e apreensão. Cada ensaio era uma bênção, mas cada noite eram horas de preocupação no travesseiro: será que com isso ponho meus filhos em situação demasiado vulnerável? Será que as plateias vão acolher nosso clima muito peculiar? Depois da estreia vimos que as pessoas são tocadas pelo que fazemos e pelo que representamos. Alguma vez o preocupou ver os seus filhos a seguir o caminho da música? Caetano: Nunca. Moreno é físico, formou-se na universidade e chegou a participar da construção de um laboratório de partículas subatómicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mas desde menino que canta e gosta de ouvir. Aos nove anos escreveu a letra de uma música que compus. No começo da juventude, formou o grupo +2, com Kassin e

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  • Filmes

Simon Pegg protagonizou e escreveu com o realizador Edgar Wright – com quem também trabalhou na sitcom Spaced – filmes de culto como Hot Fuzz – Esquadrão de Província ou Zombies Party – Uma Noite... de Morte. Também foi o Scotty do Star Trek de J.J. Abrams e um dos extraterrestres de Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força, do mesmo realizador, numa galáxia distante. No entanto, o papel pelo qual é mais conhecido é capaz de ser o de Benji Dunn, na série Missão: Impossível. Isto apesar de a primeira cena filmada com ele, em Missão Impossível III (filmado, mais uma vez, por J.J. Abrams), não ter corrido nada bem. Mas desde então as coisas melhoraram, e de que maneira, para a personagem e para o actor, que regressa mais uma vez em Missão: Impossível – Fallout.   Foi estranho trabalhar com o mesmo realizador em dois filmes da série Missão: Impossível de seguida? Bem, o McQ [o realizador Christopher McQuarrie] quis fazer um filme muito diferente do anterior, para não se afastar dessa tradição de cada capítulo ser distinto do que veio antes. Missão: Impossível – Nação Secreta (2015) era uma espécie de buddy movie, focado em mim e no Tom [Cruise], e este é praticamente o oposto. O Tom Cruise partiu o tornozelo durante a rodagem. Estavas lá quando ele teve o acidente? Tinha ido fazer outro filme, porque tinha uma semana de folga… Pensava eu. Acabaram por ser 12 semanas. Mas se calhar até foi bom, porque o Chris estava a escrever o filme à medida que íamos filmando e isso

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