Estamos em 2018. Ainda continuamos a precisar de conversar ou precisamos ainda mais de conversar?
Sérgio Coragem (S.C.): Nunca foi tão necessário conversar como hoje. Há qualquer coisa no diálogo que se transformou, perdeu-se a conversa com as pessoas nos locais físicos, parece que o conversar funciona como uma redescoberta de uma capacidade que as pessoas têm.
Guilherme Gomes (G.G.): Parece-me inevitável falar. A partir de um momento em que existem dois indivíduos e um tem curiosidade por outro. Não creio que hoje seja mais importante do que noutros tempos. A conversa é como o amor, surge naturalmente. Estas conversas – a nossa, dos Auéééu e da Mascarenhas-Martins – partem de curiosidade. É tão preciso falar quanta curiosidade houver.
Ao mesmo tempo hoje abundam as conversas pós-espectáculos. Isso não é bem a mesma proposta.
Beatriz Brás (B.B.): No nosso caso são conversas antes do espectáculo.
S.C.: Sim, porque o ciclo está ligado com o processo de criação do próximo espectáculo, a intenção é roubar boas ideias.
B.B.: É algo diferente dessas conversas após o espectáculo. A mim faz-me confusão, não quero fechar interpretações, não acho que a visão do artista seja maior. Há aquele risco de ser a justificação do espectáculo.
Nídia Roque (N.R.): Ao mesmo tempo o público tem que sentir que faz parte do nosso trabalho. Depois sinto que não que temos de organizar conversas com qualquer sentido social ou político, o discurso artístico não tem de o ser, ainda que seja sempre.
Mas um teatro municipal, por exemplo, não deve construir esta relação de diálogo mais prolongado do que esta ideia de conversa de esclarecimento?
G.G.: Tu fizeste uma pergunta um bocado provocadora. Nós somos Teatro da Cidade, mas não somos um teatro municipal.
Claro, mas podes ter uma ideia sobre isso.
G.G.: Pois, não sei, desinteresse. E ainda vão existindo algumas coisas, são é pessoas que não estão muito ligadas a essa rede de teatros, o Cão Solteiro, por exemplo, fez uma série de conversas sobre botânica. Acho isso muito interessante. Mas confesso que não sei porque é que não existe mais diálogo.
M.M.: Eu sei, posso-te explicar, se quiseres.
Também gostava de saber.
M.M.: Não é do interesse político. Há uma série de equívocos na opinião pública sobre a vida dos artistas e a forma como gerimos subsídios, por exemplo, a ideia de que “és subsidiodependente”. Se assim fosse ninguém fazia nada. Subsidiodependentes são os políticos e os partidos, que só vivem disso. A maior parte dos cine-teatros e dos teatros municipais foi abocanhada pelos partidos políticos e pelas câmaras municipais, dá muito jeito porque é bonitinho. É claro que não há espaço para conversas.
Levi Martins (L.M.): Não encontras ali um espaço de diálogo aberto. Esta conversa lembra-me a filosofia, na Antiguidade não havia um sítio para a ter. Tive a felicidade de crescer com um amigo que estava a estudar filosofia e o que fazíamos era conversar. Almoços que acabavam em jantares. Falávamos tanto dos autores que ele estudava como falávamos de Jimi Hendrix.