Um dos maiores erros que se comete numa passagem por São Miguel, nos Açores, é deixar a visita às plantações de ananás para o último dia. Chegando lá, com o tempo contado antes de ter de sair a correr para o aeroporto, vai dar por si a bater com a palma da mão na testa em sinal de autoprotesto por ter achado que daria tempo para ver tudo. Dar, dá, mas a coisa não fica bem feita. Ora, se um ananás pode levar até dois anos desde a plantação até à colheita, um par de horas dispensadas a conhecê-lo mais intimamente, a admirá-lo e até a prová-lo é o mínimo que se espera de um visitante aplicado. Melhor ainda, e isso sim seria uma homenagem a sério, era poder acordar no meio de um ananasal. Não literalmente, claro está, até porque o bicho Homem teria alguma dificuldade em sobreviver à humidade que se sente dentro das estufas de vidro, mas, digamos, mesmo ao lado.
Na mesma quinta que desde há 70 anos se encarrega de produzir os ananases que temos o privilégio de ter à mesa no continente, nasceu um turismo de charme a que o proprietário, Luís Dias, prefere chamar “uma casa de família que se transformou para receber hóspedes”.
O “charme”, diz, é um termo um bocadinho pretensioso e que não combina com a simplicidade que se encontra dentro de portas. Excesso de modéstia, talvez, mas o que Luís Dias quer dizer é que a ideia de convidar os visitantes a pernoitarem na quinta é, mais do que um sonho de vida, uma homenagem ao trabalho dos avós, que ali criaram aquela que viria a ser a maior plantação de ananases da Europa e uma das maiores do mundo.
Para Luís, “a casa é pequena”, e por isso só tem oito quartos mas para quem acaba de chegar parece exactamente o contrário: salas e quartos amplos, varandas espaçosas com vista para a quinta e uma sala de pequenos-almoços toda em vidro, criada de raiz na continuação do edifício principal para deixar os hóspedes mais à vontade. É nela que se serve a primeira refeição do dia numa espécie de menu de degustação de produtos locais. Além do ananás, que está nos sumos, nas compotas e na salada de fruta, há outros bocadinhos da ilha para provar no bolo lêvedo, nas manteigas e queijos, nos chás e nas supergulosas queijadas da Vila.
Depois disso, e porque vai ter mesmo de ir dar uma volta para se recompor do festim, vale a pena juntar-se a uma das visitas guiadas exclusivas a hóspedes pelas estufas para, agora sim, saber tudo o que há para saber sobre o maravilhoso mundo do ananás. Se quiser experimentar uma massagem relaxante feita com óleo extraído do fruto, reserve directamente na recepção, que, neste caso, é no mesmo balcão da mercearia da casa, onde encontra exemplares dos famosos licores frutados da ilha e outras especialidades locais.
Aproveite as bicicletas gratuitas para pedalar até ao centro da cidade – Ponta Delgada está a apenas 3 km – e ir parando pelo caminho para as fotografias da praxe.