Destilaria, Escola de Gin, Scoundrels Distilling Co., Invicta Gin
©Marco DuarteScoundrels Distilling Co.
©Marco Duarte

Yo Ho Ho e três garrafas de gin

Era uma vez um australiano que queria fazer rum envelhecido em pipas de vinho do Porto, mas acabou por abrir a primeira escola de gin do país em Campanhã. Visitámos a Scoundrels Distilling Co. e contamos-lhe a história.

Mariana Morais Pinheiro
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As folhas secas pelo Outono caem em câmara lenta, desde o alto da copa dos plátanos que enchem a Praça da Corujeira, em Campanhã. Os primeiros clientes abeiram-se da soleira da porta dos cafés, confusos, sem saberem se devem ou não entrar de máscara posta. Atiram a interrogação lá para dentro. Recebem um “entre, entre” e o cheiro a café escapa-se para a rua, onde carrinhas comerciais se atropelam abastecendo o comércio da zona. Um edifício rosa pálido, de linhas direitas e sem grandes ornamentos, a dar ares de art déco mas sem muitas pretensões, quase passa despercebido, caso não andássemos à sua procura. Mas é um pequeno autocolante, colado por baixo da maçaneta da porta em metal, que denuncia a Scoundrels Distilling Co., a destilaria que acolhe a primeira escola de gin do país.

Passam poucos minutos das dez e meia da manhã quando Travis Cunningham abre a porta e somos recebidos por um caloroso bafo a rum adocicado. No fundo do armazém, a pièce de résistance: um bonito alambique, polido e brilhante, trabalha a todo o gás, destilando os primeiros litros das primeiras tentativas de fazer rum. “Custou 40 mil euros em segunda mão. Só há três assim em Portugal. Este, um no Alentejo e outro no Algarve. Dá para destilar rum, whiskey, gin, brandy...”, conta o australiano, que viveu em meio mundo antes de assentar arraiais no Porto. Trabalhou na área da Saúde na China e na Arábia Saudita. Com o eclodir da Primavera Árabe, mudou-se para a Mongólia a convite de um amigo. Daí foi para o Iraque, mas quando o ISIS começou a ganhar força, fez nova mudança. Desta vez para o Dubai e, por fim, para a Nigéria.

“A Nigéria foi o último país onde estive antes de me mudar para o Porto, em 2017, com a minha família. Foi uma grande mudança. Viemos de um dos países mais inseguros e corruptos do mundo”, conta Travis, acrescentando, com um certo alívio, que Portugal está em quarto lugar no ranking dos países mais seguros no mundo. “Lá vivíamos com seguranças que andavam armados com metralhadoras. Aqui podemos passear no parque sem problemas e beber água da torneira”, ri.

Os gins invencíveis

Mas se aparentemente tudo aqui é mais fácil, a burocracia e a pandemia atrasaram-lhe os planos e só no final de Junho é que conseguiu abrir as portas da destilaria, depois de uma longa espera. Escolheu abrir a Scoundrels Distilling Co. no Porto por uma razão muito simples: “Queria ter acesso a pipas de vinho do Porto para envelhecer o rum, que foi sempre o meu objectivo”, explica. “O gin aconteceu por acaso, porque pode ser feito rapidamente. Não precisas de esperar que envelheça antes de o vender. É um new spirit”, conta o empreendedor, que começou a produzir gin no “Boxing Day de 2017” (dia 26 de Dezembro), na lavandaria lá de casa.

Deste feliz acaso nasceu a marca Invicta Gin, que conta já com três gins no cardápio e que podem ser provados no local, descoberto, num certo dia, quando Travis e Andy, a sua mulher, regressavam do mercado da Vandoma. Possui uma porta de garagem aberta para a rua na qual encaixaram um balcão, que, inevitavelmente, atrai todo o tipo de passantes curiosos. “Todos os dias me aparecem aqui velhotes bêbados a pedir cerveja de graça”, ri.

Não têm permissão para vender álcool na rua, mas, do lado de dentro, a história é outra. Na “tasting room”, como lhe chamam, é possível pedir a Gin Flight (20€), uma prova dos três gins da casa, acompanhados por uma tábua de pão e queijos. Todos diferentes e todos feitos artesanalmente. “Fazer um bom gin requer muita dedicação. E nós fazemos tudo à mão: engarrafamos à mão, rotulamos à mão, descascamos as frutas à mão. Não há automatização aqui. A única automatização que existe são estas”, diz, abanando as mãos no ar.

O International Dry Gin, por exemplo, “é uma espécie de London Dry Gin”, explica, “tem 44% de álcool, leva 11 botânicos e é forte no sabor a zimbro” (39,99€/70 cl). Com o mesmo número de botânicos, mas com uma percentagem de álcool superior – 57% –, o Navy Strength é apropriado para a mixologia (54,95€/70 cl). Já o Portuguese Citrus (44,95€/70 cl), “um raio de sol num copo”, como Travis gosta de o descrever, é feito com sete botânicos e três tipos de citrinos diferentes, laranja, tangerina e toranja – alguns deles apanhados à mão no Douro –, que se evidenciam de imediato assim que se dá um pequeno gole no copo, enchendo a boca de frescura e aquecendo o resto do corpo.

A primeira escola de gin

“Quanto mais gente falar dela, melhor”, atira Travis. “Acho que é uma great experience. As pessoas que quiserem experimentar fazer o próprio gin, podem vir cá e fazê-lo aqui. Podes criar um gin ao teu gosto, escolhendo os botânicos que preferires.” Para tal, há cerca de uma centena à disposição, em frasquinhos alinhados em prateleiras. Grãos de café torrados, tâmaras secas, pimenta da Jamaica em grão, pétalas de rosa, folhas de cidreira, cássia, alfazema, urze ou noz moscada são apenas alguns.

A cargo de Andy, as aulas custam 85€ por pessoa e têm uma duração de três horas, durante as quais os participantes fazem uma visita guiada à destilaria, ficam a saber mais sobre o processo e a história da destilação, provam gins e fazem e engarrafam o seu para levar para casa. A escola tem lugar para oito pessoas de cada vez (mas podem receber menos, consoante a disponibilidade) e cada uma terá o seu pequeno alambique acobreado para a experiência e um guia de botânicos para ajudar.

Mas os detalhes deste espaço tão especial não acabam aqui. Dois fornos ao lado da tasting room aguardam que chefs venham cozinhar boa street food para harmonizar com os gins da casa. E a galeria, onde agora secam as caixas que acomodarão os gins que seguirão pelo correio para todos os cantos do mundo (à venda na loja online), receberá, em breve, obras de arte.

“Se esperarem mais cinco minutos, vão ver uma coisa espectacular”, diz Travis, entusiasmado, antes das despedidas. Com as sapatilhas brancas de lona enfiadas numa poça de água que jorra de uma mangueira junto ao alambique, dá-nos a provar o rum que começou a verter, feito a partir de melaço, muito doce e incrivelmente aromático.

Praça da Corujeira, 154/158 (Campanhã, Porto). 91 420 8078

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