Arte, Fotografia, Joanna Correia, Inês
©Joanna Correia
©Joanna Correia

Portefólio: A Memória Instantânea de Joanna Correia

Fotografar para manter viva a memória não é novo, mas ganha novo peso nesta era de imagens digitais. Joanna Correia mostra como se faz.

Sebastião Almeida
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Como se lida com a memória e quais os mecanismos que adoptamos para trazer o passado ao presente? Para Joanna Correia, essa tem sido uma pergunta para a qual tem encontrado resposta de forma natural. A série fotográfica Fiz de Mim O Que Não Soube é um livro de memórias da sua vida e talvez a resposta ao receio de não ser capaz de relembrar o que fica para trás.

O diário, que há três anos ganha forma física através de retratos instantâneos de amigos, começou por ser algo não reflectido. Tratava-se apenas de um impulso de fotografar. Olhando para trás, a fotógrafa de 30 anos entende agora que essa necessidade adveio de uma característica que lhe é muito vincada – a saudade que sente das coisas. “O momento está a acontecer e, para além de estar feliz ou não, sinto ao longo do dia saudade do que estava a acontecer nesse momento”, tenta explicar. Este projecto acabou por se transformar num livro de memórias e numa “forma de colmatar essa saudade que não há forma de parar”.

Os “rabiscos” que acompanham as imagens “são um complemento”. Que tornam a fotografia mais complexa, ou “que até fazem com que deixe de ser uma fotografia”, aponta. Essas anotações, desenhos ou dedicatórias, acredita a fotógrafa, ao serem feitos por quem está retratado nas imagens, quase lhes imprimem “um cunho pessoal”, como se de um objecto delas se tratasse.

Na sua fotografia, reconhece Joanna Correia, a técnica merece pouca atenção. “Uso muito a estética visual, a casualidade.” O percurso ligado à publicidade permitiu-lhe criar uma rede de contactos para que hoje consiga trabalhar por conta própria e abraçar os projectos que lhe interessam. Em 2015, quando começou a fotografar numa agência, dedicou-se a fazer head shots de actores – algo que até então ninguém explorava e que lhe permitiu criar uma linguagem própria, imprimindo às imagens uma luz suave e um enquadramento fechado, sem o tornar claustrofóbico.

Actualmente, continua a fotografar actores, a trabalhar com as marcas e com os clientes que lhe aparecem, mas aproveita a intimidade criada com alguns deles para lhes fazer retratos a gosto. É aí que de facto a sua linguagem e visão sobressaem. “Não acredito que existam pessoas feias nas fotografias. Toda a gente pode ser retratada de uma maneira bonita”, defende. E como é que se capta a beleza de alguém, perguntamos-lhe. Tentando entender quem está do outro lado da objectiva, dedicando-lhe “tempo numa conversa” ou estando “atento às micro-expressões”', explica.

Nos seus retratos, o elemento feminino aparece sempre em destaque, quase como uma fonte inesgotável de inspiração. “A mulher tem uma leveza, um poder, não sei bem explicar”, nota. Joanna talvez esteja apenas à procura de guardar as memórias dos rostos que lhe são próximos. E fá-lo indo à procura da leveza e do poder de quem retrata.

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