Dino D’Santiago canta “Nova Lisboa”, mas sabe que não é tão nova assim. Novo talvez seja o olhar que nos conseguiu pôr nos olhos. “Infelizmente, ainda há muito preconceito”, diz. Mas a nova geração é mais desprendida e assume que “somos todos crioulos e vamos começar uma nova narrativa”. E essa narrativa começa nas periferias de Lisboa, onde está “a diversidade toda”. “É engraçado”, continua Dino, que se sinta sempre uma necessidade de nos deslocarmos em direcção ao centro, “porque é supostamente o ponto atractivo” da cidade. Com a periferia longe dos radares, fica a perder quem lá está mas também quem nunca lá vai. “Há projectos que simplesmente não têm lugar de fala.” Mas há uma mudança a acontecer. A prova, garante, está nas manifestações que aconteceram no ano passado, em Junho, contra a violência policial e o racismo. Em Lisboa, onde Dino esteve, milhares de pessoas saíram à rua. “Vês as fotos e tens uma mistura de culturas, não vês só negros. Isso é o maior sinal que poderias ter de mudança”, diz, de sorriso contagiante. “Esta é uma luta conjunta pelo mundo todo. É sinónimo de celebração. Se me vierem dizer que se fala disto agora porque é moda, então que todas as modas comecem assim.” O músico não tem dúvidas de que, “graças à luta contra o racismo, todas as lutas ganharam destaque”. E foi por isso também que, em Março, decidiu dar mais um passo. No concerto “Aqui Em Carne e Osso”, para o jornal Público, reuniu activistas para cantar consigo numa instalação do MAKA Lisboa, projecto dedicado às vítimas de injustiça e opressão. “Foi o primeiro momento em que de forma aberta tomei uma posição anti-racista no verdadeiro sentido da palavra”, afirma. “Custa, mas falar em anti-racismo é muito positivo, é não perpetuar algo que estava completamente errado e carimbado na nossa história.”
Da revista para o Centro Cultural de Cabo Verde: Lisboa Negra é agora uma exposição