Yolanda Tati, Radialista, Youtuber
©Mariana Valle LimaYolanda Tati
©Mariana Valle Lima

A Lisboa Negra de Yolanda Tati

Música para dançar até de manhã, comida para aconchegar em qualquer altura, marcas inovadoras e projectos sociais. Há uma Lisboa a acontecer pelas mãos de pessoas negras que toda a gente deveria conhecer.

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Formou-se em engenharia, mas é na comunicação que se sente completa. É radialista na Cidade FM, criadora de conteúdos e youtuber. “Batalhei para ir tendo as minhas oportunidades e sei que estou numa posição quase privilegiada nesse sentido, por ter uma voz, mas sei que há uma série de profissionais capazes, negros, que acabam por ficar pelo caminho”, refere. “Fico transtornada quando há entidades que dando oportunidades a um negro, mostrando que o fazem, acham que estão a dar oportunidade a todos. Não é representativo”, aponta, revelando que por sempre se ter sentido “uma minoria”, gosta de se pôr no lugar do outro. “Tenho um ímpeto de procurar e saber mais sobre o que é estar do outro lado da fronteira.” Por isso, não tem dúvidas de que é “urgente uma campanha anti-racista, algo estrutural e basilar, que mostre os problemas”. “Levamos muitos anos de história contada de determinada maneira. Isso precisa de mudar, a forma como escolhemos retratar o outro.” O que está presente até na altura de comprar. “Existem alguns negócios black owned que ninguém sabe que o são. São até mais expansivos e chegam a um maior leque de pessoas”, explica Yolanda. “Mas depois, em Portugal, temos cerca de 80% dos negócios black owned a servirem praticamente a comunidade. É um vórtice de forças para a comunidade, porque é nela que encontram o seu maior apoio.” Isso acontece, diz, porque ainda existe uma tendência de associar a cultura a um poder económico, sendo “a cultura valiosa em si mesma”. “É muito bom quando alguns negócios conseguem alcançar mais gente além da sua bolha, mas tem que ver com os meios, as ferramentas que cada sítio tem para se dar a conhecer. Como há uma empatia por parte da comunidade em apoiá-los, e é ali que está o seu ganha-pão, então acabam por se fechar em si mesmos.”

Da revista para o Centro Cultural de Cabo Verde: Lisboa Negra é agora uma exposição

  • Arte
  • Avenida da Liberdade/Príncipe Real

“Muita gente não conhece este espaço. É uma espécie de art lab onde os artistas são encorajados a criar de uma forma fluída e não conformativa num ambiente em que se privilegia a diplomacia, a sociedade e a arte africana. É uma espécie de plataforma que une a arte dos PALOP a Portugal e ao mundo. Tem exposições de artes plásticas regularmente, recebe eventos e performances, é fenomenal. O proprietário, Elson Angélico, abraçou a missão de levar mais longe a arte dando palco a artistas africanos.”

notamuseum.pt

Mooti Hats

“Esta marca não é só black. É black, african, female owned business, tudo de bom. A Sara Aikali é angolana e criou esta marca de chapéus de imensa qualidade, todos lindos e feitos em Portugal por artesãos. Ela adora chapéus, cavalos, está muito dentro do mundo da moda e a marca é excepcional, com uma óptima estética que puxa o safari africano.”

www.shopmooi.com

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Sabores da Banda

“É um serviço de catering que faz comida angolana e também portuguesa. É do melhor! A dona tem uma mão incrível, faz a comida à luz da tradição angolana, altamente deliciosa. Noutros tempos seria um restaurante angolano de sucesso. Além disso, ela consegue fazer a ponte para a cultura: a par da comida, publica provérbios e vocábulos angolanos para os dar a conhecer a toda a gente. Quando peço para mim, tenho de explicar aos meus seguidores o que estou a comer. Somos culturas tão próximas e tão distantes às vezes”.

Instagram: @sabores_da_banda

Local Hair Fairy

“É super-pandemic friendly. A Soya Marega vai a casa das pessoas totalmente higienizada e protegida e faz penteados africanos incríveis. Tem um conhecimento de african styles sem fim. Trata super-bem o cabelo natural, às vezes é difícil encontrar alguém de confiança para fazer todo o processo. Ela é pro black aesthetics e tem feito editoriais para revistas, looks para videoclips, tudo.”

Instagram: @local.hair.fairy

Lisboa é uma cachupa rica

  • Coisas para fazer

Dino D’Santiago canta “Nova Lisboa”, mas sabe que não é tão nova assim. Novo talvez seja o olhar que nos conseguiu pôr nos olhos. “Infelizmente, ainda há muito preconceito”, diz. Mas a nova geração é mais desprendida e assume que “somos todos crioulos e vamos começar uma nova narrativa”. 

  • Coisas para fazer

Cineasta e activista. Duas facetas de Lolo Arziki praticamente impossíveis de dissociar. Muito do que faz é consequência da sua experiência – por cá, pelo Luxemburgo, por Cabo Verde, pelo Brasil. Tem 29 anos e não dá descanso à luta, mesmo quando a luta parece querer vencê-la pelo cansaço.

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  • Coisas para fazer

Nasceu no Togo, antiga colónia de alemães, franceses e ingleses. Chegou há sete anos a Portugal e, passado pouco tempo, percebeu que a história africana da cidade não era assunto para os de cá, os mesmos que dizem viver numa Lisboa multicultural. Feita de quê? Escravatura, colonialismo, guerra, imigração e outros tantos factores fazem da cidade o que é hoje. 

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