“A vibe deste sítio fala por si. O irmão Hernâni, o que ele fez aqui, a história dele, uma pessoa que toda a gente conhece, o que ele conseguiu construir em Lisboa e para a comunidade, tem muito valor. É um lugar onde podes vir comer, ouvir música ao vivo, beber um copo. Cada pessoa é tratada como um cliente habitual.”
Nasceu no Togo, antiga colónia de alemães, franceses e ingleses. Chegou há sete anos a Portugal e, passado pouco tempo, percebeu que a história africana da cidade não era assunto para os de cá, os mesmos que dizem viver numa Lisboa multicultural. Feita de quê? Escravatura, colonialismo, guerra, imigração e outros tantos factores fazem da cidade o que é hoje. Para que esse passado não caia no esquecimento, Naky criou o projecto African Lisbon Tour, passeios que percorrem a Lisboa africana de outros tempos – desde o monopólio das trocas no século XV à abolição da escravatura no império no século XIX –, construindo pontes para a arte, a gastronomia, a música e a cultura contemporâneas. Trabalha no ramo imobiliário, mas arranja sempre tempo para as suas tours. “Há tantos negócios geridos por negros em Lisboa que merecem ser conhecidos que decidi incluí-los nos passeios. É uma forma de as pessoas falarem com a comunidade, provarem a nossa comida, comprarem as nossas coisas e abrir os horizontes àquilo que tanto gostam de chamar de multicultural”, afirma. No fim, oferece aos participantes listas com outros locais, para que sigam o roteiro. “Não fui criado cá, mas sei que a história [portuguesa] é contada de forma romantizada, da perspectiva do colonizador”, diz. “É isso que tem de mudar, é preciso contar a história de uma forma humana, que mostre também o lado de quem foi colonizado e escravizado. Não podemos mudar a história, mas podemos corrigir a narrativa.” Para Naky, a educação é a pedra de toque. Mas é preciso criar oportunidades. “Na América, o movimento negro tenta manter o dinheiro dentro da própria comunidade. Cá, se pudermos fazer isso apoiando os nossos negócios, pode ser um começo. A comunidade negra precisa de uma força económica para poder subir e ter oportunidades iguais aos outros.”
Da revista para o Centro Cultural de Cabo Verde: Lisboa Negra é agora uma exposição