Naki Gaglo, African Lisbon Tour, Tabernáculo
©Gabriell VieiraNaki Gaglo
©Gabriell Vieira

A Lisboa Negra de Naki Gaglo

Música para dançar até de manhã, comida para aconchegar em qualquer altura, marcas inovadoras e projectos sociais. Há uma Lisboa a acontecer pelas mãos de pessoas negras que toda a gente deveria conhecer.

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Nasceu no Togo, antiga colónia de alemães, franceses e ingleses. Chegou há sete anos a Portugal e, passado pouco tempo, percebeu que a história africana da cidade não era assunto para os de cá, os mesmos que dizem viver numa Lisboa multicultural. Feita de quê? Escravatura, colonialismo, guerra, imigração e outros tantos factores fazem da cidade o que é hoje. Para que esse passado não caia no esquecimento, Naky criou o projecto African Lisbon Tour, passeios que percorrem a Lisboa africana de outros tempos – desde o monopólio das trocas no século XV à abolição da escravatura no império no século XIX –, construindo pontes para a arte, a gastronomia, a música e a cultura contemporâneas. Trabalha no ramo imobiliário, mas arranja sempre tempo para as suas tours. “Há tantos negócios geridos por negros em Lisboa que merecem ser conhecidos que decidi incluí-los nos passeios. É uma forma de as pessoas falarem com a comunidade, provarem a nossa comida, comprarem as nossas coisas e abrir os horizontes àquilo que tanto gostam de chamar de multicultural”, afirma. No fim, oferece aos participantes listas com outros locais, para que sigam o roteiro. “Não fui criado cá, mas sei que a história [portuguesa] é contada de forma romantizada, da perspectiva do colonizador”, diz. “É isso que tem de mudar, é preciso contar a história de uma forma humana, que mostre também o lado de quem foi colonizado e escravizado. Não podemos mudar a história, mas podemos corrigir a narrativa.” Para Naky, a educação é a pedra de toque. Mas é preciso criar oportunidades. “Na América, o movimento negro tenta manter o dinheiro dentro da própria comunidade. Cá, se pudermos fazer isso apoiando os nossos negócios, pode ser um começo. A comunidade negra precisa de uma força económica para poder subir e ter oportunidades iguais aos outros.”

Da revista para o Centro Cultural de Cabo Verde: Lisboa Negra é agora uma exposição

  • Cais do Sodré

“A vibe deste sítio fala por si. O irmão Hernâni, o que ele fez aqui, a história dele, uma pessoa que toda a gente conhece, o que ele conseguiu construir em Lisboa e para a comunidade, tem muito valor. É um lugar onde podes vir comer, ouvir música ao vivo, beber um copo. Cada pessoa é tratada como um cliente habitual.”

  • Chiado/Cais do Sodré

“O Sr. Domingos, dono do restaurante, foi a primeira pessoa com quem criei uma relação quando vim para Lisboa, morava mesmo ao lado. Serve pratos inacreditáveis de comida de Cabo Verde, é um sítio que me é muito querido, por todas as razões. Faz parte da minha tour, é lá que terminamos muitas vezes o passeio e há muita gente que não conhece.”

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  • Chiado/Cais do Sodré

“É um restaurante de uma família de São Tomé e Príncipe que faz a típica comida de conforto. Nestes sítios, até porque a comida africana é muito aconchegante, acabamos por nos sentir parte desta família, somos acolhidos de uma forma muito calorosa. Fruta-pão, calulu, feijoada da terra ou kisacá, a comida é maravilhosa.”

  • Africano ocidental
  • Grande Lisboa

“Este é daqueles sítios com selo de aprovação de muitos amigos meus, que já foram lá e já provaram. É dos próximos locais onde quero ir, até para apoiar os restaurantes. Come-se peixe Andala, fruta-pão, omelete à moda de São Tomé, búzio de mato.”

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  • Compras
  • Castelo de São Jorge

“Conheço a Romana, a dona, há algum tempo e acho que a moda africana é muito característica. Ir à Royal Skuare não serve só para quem quer vestir de forma tradicional africana. Ela faz magia com os tecidos típicos e consegue fazer roupa moderna e muito urbana aplicando detalhes mais coloridos e tecidos diferentes, pequenos detalhes da nossa cultura”.

Lisboa é uma cachupa rica

  • Coisas para fazer

Dino D’Santiago canta “Nova Lisboa”, mas sabe que não é tão nova assim. Novo talvez seja o olhar que nos conseguiu pôr nos olhos. “Infelizmente, ainda há muito preconceito”, diz. Mas a nova geração é mais desprendida e assume que “somos todos crioulos e vamos começar uma nova narrativa”. E essa narrativa começa nas periferias de Lisboa, onde está “a diversidade toda”.

  • Coisas para fazer

Formou-se em engenharia, mas é na comunicação que se sente completa. É radialista na Cidade FM, criadora de conteúdos e youtuber. “Batalhei para ir tendo as minhas oportunidades e sei que estou numa posição quase privilegiada nesse sentido, por ter uma voz, mas sei que há uma série de profissionais capazes, negros, que acabam por ficar pelo caminho”, refere.

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  • Coisas para fazer

Cineasta e activista. Duas facetas de Lolo Arziki praticamente impossíveis de dissociar. Muito do que faz é consequência da sua experiência – por cá, pelo Luxemburgo, por Cabo Verde, pelo Brasil. Tem 29 anos e não dá descanso à luta, mesmo quando a luta parece querer vencê-la pelo cansaço.

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