Avenida Conde Valbom
Manuel MansoAvenida Conde Valbom
Manuel Manso

As dez ruas mais surpreendentes de Lisboa

Novidades, clássicos, figuras e curiosidades de artérias que pulsam muito mais do que dão a entender

Publicidade

Lisboa tem mais de duas mil ruas, fora travessas, becos, avenidas, praças, calçadas, azinhagas, estradas e escadinhas. Desse vasto universo que são os arruamentos da cidade, escolhemos dez, apenas dez ruas, que consideramos ser as mais surpreendentes. Não têm a fama da Rua Augusta, nem a movida da Rua Cor-de-Rosa ou o charme da Avenida da Liberdade. Mas têm muito mais do que dão a entender, acredite. Andámos pela cidade em busca das dez ruas mais surpreendentes de Lisboa. E convidamo-lo a fazer o mesmo.

Recomendado: Guia para descobrir o melhor dos bairros de Lisboa

Um roteiro surpresa

1. Rua Damasceno Monteiro – Anjos

A Damasceno Monteiro começa bem. Ainda mal saímos do Largo da Graça quando damos de caras com uma das melhores vistas da cidade. Olhamos para o lado e temos o antigo Convento da Graça, lá em baixo vemos o Jardim do Cerco da Graça, e à nossa frente estende-se Lisboa: o Castelo, a Mouraria, a Baixa, o Tejo. Podemos ver isto tudo da rua, ou podemos entrar no número 8A, onde fica a taproom da 8a Colina, uma das melhores cervejeiras de Lisboa, com uma excelente vista. Há dez torneiras, de onde brotam sobretudo as cervejas da casa (mais uma ou outra de fora), e várias garrafas da marca. Também há vinhos e refrigerantes, além de alguns pratos concebidos pelo chef Thomas Mancini.

Umas portas ao lado, no número 12, encontra-se o centro de investigação artística Hangar, que promove residências artísticas e tem uma programação regular de exposições, conversas, seminários e performances. No piso térreo funciona também o restaurante A Li, de Liliana Escalhão, que serve comida saudável, feita com ingredientes locais e sazonais. Se preferir, do outro lado (9B), também se encontra desde o século passado o restaurante Via Graça, com uma vista sobre a cidade melhor do que muitos miradouros. Mas atenção que não é barato.

Se continuarmos a descer a rua, que vai
dar a Arroios, no número 21A encontramos o Desassossego (na imagem), um grande mural pintado por Akacorleone na fachada do prédio. O convite foi feito pelos próprios moradores e o artista aceitou desafio. Diz que “representa de uma forma bastante livre a personagem que mais representa a cidade de Lisboa, Fernando Pessoa, num sonho psicadélico”.

Mais abaixo, nos números 43/45 encontra-se a Pharmácia Musical, que na verdade é 
um bar recheado com móveis e elementos decorativos de uma antiga farmácia (daí o nome, parte um) e onde costuma haver música ao vivo (daí o nome, parte dois).

Uns valentes metros mais tarde no 108 D,
 já mais perto da zona de Arroios/Intendente, está a Curva, um café com decoração minimalista, onde tanto se está bem ao pequeno-almoço, a comer qualquer coisa – as tostas abertas, como a de abacate, são uma das especialidades da casa –, como ao fim do dia, a beber um copo de vinho e a ler uma revista. Também há um espaço dedicado à venda de produtos nacionais.

Ao lado, no 110, encontra-se a Garagem Infinita, que já foi mesmo uma garagem mas hoje é um espaço de cowork, com boa pinta e boa internet. Logo a seguir, na porta 110 D, funciona a Forja Tattoo, uma das duas lojas de tatuagens da rua. A outra, a Flourish and Blotts, está instalada no número 146A e apesar de ter nome de livraria para estudantes de feitiçaria é mesmo um estúdio de tatuagens. Também fazem intervenções em peças de vestuário e vendem postais, retratos e xilogravuras.

Extensão da rua: 650 metros
Estacionamento: EMEL
Estação de metro mais próxima: Intendente

Grau de dificuldade: Médio, custa a subir
A melhorar: Ainda há muito por onde crescer

Por Luís Filipe Rodrigues

2. Rua de São José e Rua de Santa Marta – Avenida

Segue, Segue, Segue. As duas ruas* juntas acompanham, em paralelo, quase a extensão total da Avenida da Liberdade. E se a avenida 
é um luxo acessível ao bolso de poucos (com algumas dignas excepções), São José e Santa Marta ainda mantêm o espírito de bairro, onde o comércio local divide protagonismo com alguns negócios de onda mais contemporânea.

Para encher o estômago não faltam opções. Os fãs de pizzas saem desde já muito bem servidos com duas paragens na Rua de Santa Marta, onde encontram a Luzzo (no 37), com esplanada interior (mesmo ao lado de um dos Honorato de Lisboa), e a Pizza Misura, com janela para a rua (no 16), uma espécie de McDrive, mas de pizza (e sem a possibilidade de fazer a recolha da janela do carro). Há muitos restaurantes tradicionais, mas se arranjar mesa sente-se no Cartaxinho (no 20), uma popular casa minhota que em 2013 foi agraciada com quatro estrelas (em cinco) do nosso crítico Jaime Abreu.

Na Rua de São José também é bem servido em espaços como Stanislav Café (no182), a segunda vida do restaurante russo que agora apresenta muitas saborosas (e bonitas) opções de pequeno-almoço e brunch. Os vegetarianos têm sempre o Arco-Íris (no 95), um restaurante com veia de cantina que esconde uma esplanada nas traseiras, e, para algo mais picante, é rumar ao Jesus é Goês (no 23), um dos melhores restaurantes indianos de Lisboa. A comida goesa de Jesus Lee Fernandes nunca desilude, das chamuças de carne ou camarão ao xacuti de cabrito. Mais recente, e mais solidário, é o novo projecto da CRESCER – Associação de Intervenção Comunitária. Chama-se É Um Restaurante (no 56) (a), um projecto-piloto de reinserção social para pessoas sem-abrigo, que aqui encontram uma ponte para um futuro melhor. O menu inclui delícias como peixinhos da horta, rissóis de berbigão com salicórnia ou pica-pau de polvo, e conta com Nuno Bergonse como chef consultor e David Jesus como chef executivo.

Para beber um copo, tem duas boas soluções. Na Rua de Santa Marta encontra a Libeerdade (no 27A), uma loja/bar cheia de cervejas artesanais engarrafadas, portuguesas como a Oitava Colina e estrangeiras como a Drunken Bro, e sempre com novidades fresquinhas. Na Rua de São José o destaque vai para a La Ronera Lx (no 43), onde nada se serve sem rum e que prova que há todo um mundo além dos mojitos. Se só tiver uma nota de cinco, peça o Guarapita, uma delícia de rum e maracujá.

Ambas as ruas mantêm comércio tradicional, mas a de Rua de São José tem preservado 
mais negócios, como uma drogaria (no 70)
 ou mercearias, com destaque para a bem portuguesa Festival Sabores do Lima (no 10), onde o forno está sempre quentinho a fazer doces da casa. Leve os bolinhos de azeite (0,50€) e beba um café expresso (0,50€) ao balcão.

Extensão das ruas juntas: 1200 metros
Estacionamento: EMEL
Estação de metro mais próxima: Marquês, Avenida e Restauradores
Grau de dificuldade: Médio, porque a rua é movimentada e os passeios liliputianos
A melhorar: A dimensão dos passeios e a própria rua, ali a competir com um queijo suíço

Por Renata Lima Lobo

* Estas duas ruas estão no prolongamento uma da outra e aqui foram tratadas conjuntamente

Publicidade

3. Rua do Telhal – Avenida

Sauna, Tatuagens, disfarces, panquecas, vinho ou fado. Em apenas 180 metros, a Rua do Telhal encaixa um ecléctico menu de negócios.

Passando o cruzamento da Rua das Pretas com a Rua de São José, começa a do Telhal, logo a abrir com o Zenith (no 4), a casa portuense que trouxe os seus instagramáveis brunchs para Lisboa. Mais acima, um clássico segredo. Falamos do restaurante O Fado (no 11), aqui há quase uma mão cheia de décadas e com porta aberta todas as sextas-feiras a partir da meia-noite e 
até às seis da manhã – ignore só o número de telefone 3425248 que está à porta, não funciona em 2019 (este sim, dá sinal de chamada: 93 457 9463). O que não disfarça nada (ou disfarça tudo) é a Mascarilha (no 6A), a loja de fantasias que safa muitas festas aos lisboetas, já com propostas de Halloween a transbordar das prateleiras, Joker incluído, embora numa versão mais clássica.

O boom das saunas gay também chegou ao Telhal, onde mora a Olissipo Bath (no 5), cheia de mordomias como sauna, jacuzzi, duches, cabines “de relax” e um serviço de massagens. Menos relaxante, pelo menos para quem não é dado a masoquismos, é a Lisboa Ink, (no 8C) a loja de tatuagens de Cristian Barcelos, argentino que mora em Lisboa há 17 anos e que há 12 fundou este negócio onde tudo está à mostra. A recepção está cheia de sofás (e motas) e tem vista para o espaço onde se desenham as tatuagens
na pele. Cristian assegura que é um pai de família e não hesita em ligar aos progenitores dos jovens adultos com menos de 18 anos para confirmar se é arte autorizada ou não. Os mesmos jovens que podem ter de mostrar o Cartão do Cidadão para poder consumir as bebidas dos dois bares da rua: a Donna Taça (no 4), um bar de vinhos e petiscos com mais de mil rótulos de pequenos produtores portugueses, franceses, argentinos, chilenos, sul-africanos, australianos e até austríacos; e o Eighty Six (no 65), que aposta nos cocktails de autor (um deles
aqui ao lado, cocktail à lupa). Se quiser beber, mas também sentar-se à mesa para uma refeição, é escolher o Sommelier (no 57), um restaurante gourmet com mais de 80 sugestões de vinho a copo. Por último,
 a Carbono (no 6B), uma das mais antigas lojas de discos em segunda mão da cidade, nascida em 1993, ainda a internet não
tinha chegado a Portugal. Aqui encontra discos, CDs, DVDs, t-shirts ou posters que
a transformam num espaço de eleição para cinéfilos e melómanos.

Extensão da rua: 180 metros
Estacionamento: Não
Estação de 
metro mais próxima:
 Avenida

Grau de dificuldade: Médio-alto, com inclinação. Suba pelo passeio
 largo em calçada antiderrapante do lado direito A melhorar: A calçada do passeio do lado esquerdo, para quem sobe

Por Renata Lima Lobo

4. Rua Prior do Crato – Alcântara

De manhã há a agitação normal de bairro. Fregueses na rua de volta das frutas e legumes das mercearias, um corrupio de furgonetas paradas em segunda fila e autocarros e carros que se acotovelam para passar.

Com a República, passou a chamar-se Prior do Crato, em homenagem a António de Portugal, um dos sobreviventes da batalha de Alcácer Quibir, em vez de 
Rua do Livramento. Alcântara mudou nos últimos anos e esta rua é exemplo disso: aqui há comércio tradicional, lado a lado com a alma de novos negócios e com a multiculturalidade que as lojas de conveniência trouxeram à zona.

Junto à Praça da Armada, no número 1,
 o Copenhagen Coffee Lab é um reduto nórdico para os amantes de café. As três dinamarquesas proprietárias começaram por andar pela cidade numa carrinha itinerante, mas hoje têm mais quatro cafetarias em outras zonas da cidade. Os grãos de café são oriundos da Etiópia, Brasil ou Guatemala
e são torrados na Dinamarca antes de rumarem a Portugal. O café é de filtro e
feito na frenchpress, aeropress ou V60, tornando-o mais leve e cremoso do que o café a que estamos habituados. Também há bolos dinamarqueses e diferentes pães.

Se não ficar satisfeito com a oferta em matéria de pães, pode cruzar a estrada e
entrar na padaria Gleba (no 14), de Diogo Amorim, onde encontra ilustres exemplares de fermentação natural e que lhe aguentam uma semana sem ficar duros. Fazem pão de trigo barbela de Trás-os-Montes, do Alentejo, pão de centeio verde, broa de milho e duas opções especiais todos os dias.

Para trás fica o Quimera BrewPub (no 6), um pub de cerveja artesanal. Serve sandes e a cerveja é maioritariamente local, à pressão ou de garrafa.

Um pouco mais acima, uma loja pode passar despercebida aos mais desatentos. Não tem nome, mas José Ribeiro, um dos responsáveis, refere-se carinhosamente ao espaço apenas como “loja de velharias” (no 50). Lá encontra porcelanas, metais e artigos de colecção. A maior parte dos objectos veio dos Estados Unidos, pois Arcelina Condesso, a outra dona, foi funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros na missão portuguesa da ONU, em Nova Iorque, durante 30 anos. Muitos deles foram adquiridos nas típicas vendas de garagem.

Extensão da rua: 247 metros
Estacionamento: Parque de estacionamento
de Alcântara
Grau de dificuldade: Fácil, rua plana

A melhorar: Recuperar lojas fechadas

Por Sebastião Almeida

Publicidade

5. Rua do Benformoso – Martim Moniz

Ao entrar-se na Rua do Benformoso, vindo do Martim Moniz, fica para trás a Lisboa tradicional. Aqui, a multiculturalidade impera e é um dos melhores sítios da cidade para provar as gastronomias do mundo. Em tempos, foi uma rua mal-afamada, mas hoje coabitam nela turistas, locais e as comunidades bengali, nepalesa e chinesa que vieram habitar a zona e conferir-lhe uma nova dinâmica.

Já foi uma das artérias principais de circulação em direcção ao norte da cidade, mas agora o trânsito é outro. Dentro de uma carrinha branca, encostada à berma, dois homens descarregam uma peça volumosa e avermelhada para um talho Halal. Ao lado, um estafeta numa motorizada serpenteia para fugir à azáfama, enquanto dois rapazes cruzam a estrada carregados de tecidos. É assim a vida ali, mas vamos ao que interessa, que é o aconchego do estômago.

Começou por ser um dos clandestinos chineses da cidade, mas actualmente já faz parte do roteiro turístico. Fica no número 59 e para entrar há que tocar à campainha. Depois é subir até ao primeiro andar pelas escadas de madeira – mas cuidado, há tábuas traiçoeiras à espera de se soltarem. Ao cimo da escada encontrará alguém à espera que
o levará casa adentro. Depois de instalado, muna-se de uma Tsing Tao bem fresquinha, inicie-se nas hóstias de camarão e mergulhe nos dumplings de porco fritos ou nas gambas com molho agridoce.

No outro lado da estrada, no número 76, 
há sopas vietnamitas e chinesas. O Pho Pu
 é um restaurante onde encontra grandes tigelas de pho, que, no nosso entender, podem ser definidas como uma sopa fumegante vietnamita, com massa de arroz, carne, especiarias, rebentos de soja, salsa, cebola, hortelã e caldo de marisco. Por menos de 10€ reconforta a alma neste espaço gerido por chineses.

Em frente da Travessa do Benformoso está o Café Klandestino, no 256, um bar de cocktails com especial queda para o café. João e Marcelo Resende são irmãos. Convidaram Antonio Romero, amigo espanhol, e abriram um espaço cujo conceito é baseado no contrabando deste produto entre Portugal e Espanha nos anos 1950. O café está presente em pequenos apontamentos, em oito dos 12 cocktails da carta.

A chegar ao Largo do Intendente, do lado direito, no número 270, encontra uma das pérolas do Benformoso. O Spice Hut Tandoori é um restaurante de comida indiana e bengali. Aqui, o chicken tikka masala (7,50€), o lamb rogan (7,50€), um prato de borrego cozido com cebola, tomate e pimento verde, e o king prawn puri são as iguarias que mais saem. Do outro lado, o Spicy, do mesmo dono (na página ao lado), serve os mesmos pratos, mas ao pequeno-almoço há chapati com vegetais (2€), chá (0,50€). Tudo por 2,50€.

Extensão da rua: 437 metros
Estacionamento: EMEL
Estação de metro mais próxima: Martim Moniz, Intendente
Grau de dificuldade Baixo, a rua é plana
A melhorar A higiene urbana da rua

Por Sebastião Almeida

6. Avenida Conde de Valbom – Avenidas Novas

A Avenida Conde de Valbom é longa 
e tripartida, separada e atravessada por outras avenidas lisboetas. Ainda assim tem a particularidade de concentrar quase todos os seus pontos de interesse numa praceta onde os carros são proibidos e os prédios fazem sombra às esplanadas que ocupam a faixa central. O negócio mais apelativo para estes lados são os restaurantes, que vão do mais recatado à marisqueira clássica.

Se vier da Avenida de Berna, encare 
de frente a escultura de Artur Rosa e comece a empreitada pela praça. A Artisani é a mais recente aquisição da rua, juntando-se às outras que já adoçam bairros como Campo de Ourique, Estrela, Alcântara ou Telheiras – há gelados, waffles, panquecas e brownies para comer abrigado ou na esplanada. Paredes meias com a gelataria, está O Polícia, aquele sítio para quem não quer nem ver nem ser visto, fundado no final do século XIX, e que já
vai na quarta geração – são as bisnetas do fundador, Cristina e Teresa Miranda, que lideram o negócio. Os sabores são bem portugueses: prova disso são os clássicos
da casa, como a cataplana de bacalhau,
as costeletas de borrego ou a cabeça de garoupa. Do outro lado da rua, no número 112, come-se comidinha caseira no Valbom, com grande oferta em matéria de grelhados. Também pode apostar num bom bitoque (8,5€) ou num arroz de tamboril à antiga (16,5€). Ainda no campeonato da comida tradicional, a Cervejaria Jaguar, aberta há mais de 40 anos, é poiso obrigatório para comer bem, barato e em quantidades 
fartas. Há sempre um prato do dia que vai
 do cozido à mão de vaca. E como se não bastasse, há uma catedral do bacalhau mesmo ao lado, a Laurentina, O Rei do Bacalhau, onde, naturalmente, o bacalhau
é o prato principal. Há à Brás (13,20€), com broa (13,80€), com natas e espinafres (16€), rabos de bacalhau (10,80€) e as famosas pataniscas.

Na onda das pizzas, a Conde de Valbom tem duas paragens certas: a Luzzo, com pizzas de massa fina feitas em forno de lenha, com uma base de molho de tomate caseiro e queijo mozarela; e a La Finestra, que apesar de ter um ambiente demasiado colorido e um pouco barulhento, está entre as melhores da cidade, sempre com pizzas estaladiças – vá com amigos e peça pizza metade-metade. Foi ainda nesta rua que nasceu
o primeiro restaurante arménio
do país, o Ararate, que respeita milimetricamente a gastronomia deste povo milenar. Comece a refeição com um khachapuri, um barco com queijo e ovo (8,5€), e siga depois para as espetadas de carnes (14-22€), para um dolmá (7,5€) ou atire-se a um tjvjik (6€), guisado de miúdos com fígado, coração, pulmão e rins de borrego.

Extensão da rua: 510 metros
Estacionamento: EMEL nas transversais 
e parque de estacionamento subterrâneo pago também lá perto. Mas não é fácil encontrar lugares
Estação 
de metro
 mais próxima
: São Sebastião e Praça de Espanha
Grau de dificuldade: 
Fácil, a rua é plana. Não há trânsito

A melhorar: 
Falta de estacionamento

Por Francisca Dias Real

Publicidade

7. Rua José D'Esaguy – Alvalade

A pé, pode entrar vindo da longa Avenida 
da Igreja. Se estiver num veículo sobre rodas, vai lá dar pela Luís Augusto Palmeirim, a rua que o leva ao Mercado de Alvalade Norte.
Nós fizemo-nos à calçada e entrámos de caderno na mão, a pé, prontos a apontar a abertura breve do restaurante Tasty Noodles, no número 1C. Está marcada para dia 22 de Outubro e promete ser um ramen bar, com algumas tapas orientais. Seguindo caminho, no número 4, está a Vidraria de Alvalade, uma loja para ter sempre em conta caso faça asneira lá em casa. Mesmo ao lado, no 4E, encontra
a Pérola do Ceira, um restaurante tradicional português, ainda com preços honestos e
doses generosas. Vive à base dos pratos do
dia e tanto pode encontrar choquinhos à algarvia com batata cozida, como peixe fresco grelhado (dos salmonetes aos besugos ou robalos), arroz de pato no forno (meia dose 7,50€, uma a 14€) ou uma boa entremeada
de leitão. No 6, há uma mercearia onde todos os produtos são um veneno para o colesterol. Adequadamente, chama-se Mercearia Veneno, e é especializada em queijos e enchidos,
e tem uma zona de degustação e produtos regionais um pouco de todo o país. Por esta altura começamos já a sentir o aroma a pão acabadinho de sair do forno, mas já lá vamos, que pelo meio temos a Organii, no número 8D. Há dez anos, as irmãs Cátia e Rita Curica abriam a sua primeira loja de produtos de base biológica e roupas naturais. Agora têm vários espaços em Lisboa e uma academia. Este
do bairro de Alvalade dedica-se à cosmética bio. É do número 10D que sai o perfume da rua. A ISCO abriu em Setembro de 2018 e começou por dar a conhecer o pão artesanal
e a pastelaria de padeiro de Paulo Sebastião. Depois foi a vez de Fábio Santos brilhar, e de a padaria, que entretanto ganhou clientes fixos de faixas etárias diversas, ganhar um bistrô, com almoços ligeiros a mudar diariamente
 – tanto pode haver um croque monsieur
 como uma focaccia feita com massas que sobraram do dia anterior. De quinta a sábado há jantares e uma ementa que muda todos os meses, consoante o que os fornecedores lhes trouxerem. Por estas semanas ainda é capaz de encontrar a caldeirada de raia (16€), o
pato com topinambur (15€) ou os cuscos com abóbora, salva e avelã (11€). Já ao fundo da rua, do outro lado da estrada, o toldo verde- água da Drogaria Esteves, fundada em 1948, dá vontade de ir à montra espreitar. Está aqui instalada desde 1948 e tem uma parafernália de produtos para todas as circunstâncias, das panelas à pasta de dentífrica Couto.

Extensão da rua: 158 metros
Estacionamento EMEL
Estação de metro mais próxima: Alvalade

Grau de dificuldade Baixo, rua plana
A melhorar: As rendas das casas, que são elevadas

Por Inês Garcia

8. Rua Neves Costa – Carnide

Quase No fim da Zona L, 
Carnide é um bairro residencial por excelência, onde mora a calma. 
É, porém, paragem obrigatória 
para quem gosta do melhor
 da comida tradicional, com
 restaurantes honestos a servir 
doses generosas – a “cantina 
de Lisboa”, dizem os vizinhos
 da terra. A concentração de
 restaurantes numa só rua 
é invulgar, tanto que podia 
muito bem ser apelidada de Rua
dos Restaurantes – e ninguém
 levava a mal –, mas oficialmente chamam-lhe Rua Neves Costa. 
A referência mais simples para se situar é o histórico Coreto de Carnide,
 ponto de encontro certeiro em tempo de Santos Populares, e a partir daí é preparar-se para andar de talheres em punho.

Se começar na ponta da rua junto ao Centro Paroquial dá de caras com o Carnide Clube, onde as jogatanas de cartas são um dos pratos fortes, e até é possível alugar o ginásio para reunir amigos num jantar. Logo ao lado, morava o Coreto das Gravatas, a casa que se dizia especialista em pratos de choco, mas que agora deu lugar ao Coreto do Bairro (no número 57), um restaurante onde o naco volta a ser rei, tal como os petiscos, das codornizes fritas (8€) à salada de polvo (8€). Poucos metros à frente, no número 39, o Carvoeiro de Palma leva para a mesa especialidades grelhadas, tanto de peixe como de carne
– prove o robalinho (11,5€) e o costelão de novilho (13,75€).

Do outro lado da rua, onde poucos carros passam, o número 34 é ocupado pela Petiscaria 5 Elementos, que faz jus ao nome e serve petiscos a toda a hora – há as clássicas tábuas de enchidos ou queijos (8€-11,95€), batatas bravas (4€), moelas (6,90€) ou asinhas de frango (5,90€). Uns números ao lado, na porta dez, a Adega de Carnide tem pratos que mais ninguém serve no bairro, como o T-bone para partilhar ou o magret de pato. Também é obrigatório provar as migas alentejanas com carne de alguidar (9,50€) e o bacalhau à Adega. A tradição tem continuidade n’O Miudinho (no 21), onde salta à vista a vitrine de carnes que lava os olhos a qualquer um, sendo que quase tudo vai
para a grelha, ou não fossem os grelhados a especialidade da casa (e do bairro). Opte pelo porco ibérico ou costelinhas de borrego – e não saia sem provar o arroz de garoupa e o pica- pau, rematando com o leite creme caseiro.

Extensão da rua: 177 metros
Estacionamento: Parque da EMEL
Estação de metro mais próxima Carnide

Grau de dificuldade: Fácil, a rua é pouco inclinada
A melhorar: Estacionamento

Por Francisca Dias Real

Publicidade

9. Rua Luz Soriano – Bairro Alto

O Arruamento que até 1887 viveu sob
 a designação de Rua do Carvalho, e que deve a actual toponímia a Simão José da Luz Soriano, político do Liberalismo e historiador, é como um epicentro periférico do Bairro Alto. Perfeitamente inserido na malha do bairro mas distante o suficiente para evitar a necessidade de empurrar noctívagos a cada dois passos.

Ao longo de 280 metros, da Calçada
 do Combro à Rua de São Boaventura, há histórias que se vão fazendo de porta em porta, contadas pela comida, música, arte ou literatura. Fazemos a primeira paragem no número 21, a Adega do Tagarro, um clássico 
às sextas e sábados para jantares de grupo.
 O 25 é a terceira morada da Queen of Hearts, em formato private studio, entregue à arte do brasileiro Eduardo Cavellucci. “Almanaque Borda D’Água! P’ró ano!” é um pregão já pouco ouvido nas ruas da cidade mas o pequeno livro ainda é uma instituição portuguesa.


A Editorial Minerva, no número 31, é a responsável desde 1929 pela publicação. Subimos a O 36, porta onde a cultura hip-hop é rainha. O bar de Pedro Cabrita já conta com uma década a encher a rua de música e é paragem regular de alguns dos nomes maiores do rap português. Cruzando
a Travessa dos Fiéis de Deus está a Casa do Brasil, no 42, uma meca fundada por 
Rita Alho e Cyntia de Paula que procura fomentar a cultura brasileira em Portugal, promovendo regularmente aulas de danças, palestras, exposições, workshops, cinema
 e festas. Movida a carvão, é assim a cozinha do Queimado, o restaurante na porta 44, com mão do chef Shay Ola, responsável
pela The Rebel Dining Society, um dos mais conhecidos pop-up diners de Londres. O menu é de partilha, só usa produtos locais
 e regionais e vai mudando consoante as estações do ano – tudo a preços acessíveis. 
No Miolo, logo ao lado (50), Catarina Terenas e João Luc trazem ingredientes portugueses em combinações saborosas prontas a levar.
 O Teatro do Bairro é o vizinho da frente, no
 63, seguido das Modistas de Lisboa, no 67,
a casa onde Susana Fernandes e Antoniya Bocheva transformam sonhos em vestidos.
A fechar, no 70, a Oficina Marques, fruto da colaboração entre Gezo Marques e José Aparício Gonçalves, faz do design bandeira 
e desdobra-se entre estúdio e loja, trazendo peças verdadeiramente únicas.

Extensão da rua: 280 metros
Estacionamento: EMEL
Estação de metro mais próxima: Baixa-Chiado
Grau de dificuldade: Médio, pelo piso e inclinação
A melhorar: Estacionamento

Por Tiago Neto

10. Rua Nova da Piedade – São Bento

Na freguesia da Misericórdia, a Rua Nova da Piedade é uma proposta curta, mas doce. Com pressa, percorre-se em cinco minutos. Com tempo, surpreende a cada passo, desde os prédios antigos com varandas de ferro forlado até à encantadora colecção de negócios.

No início do percurso pela artéria que
une a Praça das Flores a São Bento, pouco depois da esplanada vistosa do Quiosque Lisboa, uma ilustração da actriz e activista francesa Brigitte Bardot, de boca pintada de vermelho, dá-nos as boas vindas ao Bardot Hair Salon & Barber (no 4). Aproveite para renovar o visual e continue o passeio até
ao outro lado da estrada, onde se encontra
a Havaneza da Praça das Flores (no 13), a melhor papelaria da rua. Quando por lá passámos, numa manhã movimentada, a proprietária anunciou o prémio máximo de uma raspadinha a uma cliente fiel, que saiu discreta, mas incrédula.

Não tem a mesma sorte? Poderá afogar
as mágoas a pouco mais de uma dezena
de números de distância, no Carinho do
Vinho (no 23). Nesta garrafeira e bar de vinho a copo, encontra apenas referências portuguesas de pequenos produtores. Mas, antes da hora do Baco, visite com calma a primeira casa do Copenhagen Coffee Lab (no 10), que começou como carrinha de rua e já conta com uma mão cheia de lojas na capital. Destaca-se pelo minimalismo nórdico e pelo café artesanal, a jóia da coroa.

Se não for capaz de apreciar uma bica de estômago vazio ou é apenas um glutão convencional, não se preocupe: está na
 rua da gula, esse pecado capital pelo qual nos recusamos a sentir culpados. No Early Birds (do 89 ao 97), poderá contar com a
já very typical tosta de abacate e os ovos Benedict, perfeitos para a dose diária de fotografias bonitas no Instagram. Lá pela hora do jantar, sugerimos optar pelo Season (no 62), que oferece comida de conforto, com os melhores produtos vindos da terra. Se preferir, há sempre o Mercado de São Bento (no 101): é começar pelas salsichas biológicas e pelo goulash na Wurst 
e terminar com café 100% arábica da Passalacqua no Baretto, que prepara crepes doces e salgados no momento. Também da mesma proprietária desta cafetaria italiana, que até tem uma janela catita virada para
a rua, a La Pizza di Nanna (no 68) oferece cinco variedades de pizza para comer à fatia, enquanto a gelataria Nannarella (no 64A) tem à disposição sabores artesanais, feitos com fruta fresca de um fornecedor do Mercado da Ribeira.

Já está a ver as calorias a pesar na balança? Vá às compras gastar energia: na Møbler (no 41), dedicada ao design mid-century, encontra peças originais de época, como sofás e poltronas. Depois deste roteiro, apetece mesmo sentar. Ah, tão bom!

Extensão da rua: 233 metros
Estacionamento: Parque de São Bento

Estação de metro mais próxima: Rato
Grau de dificuldade: Fácil, rua sem obstáculos

A melhorar: 
As lojas vazias no Mercado de São Bento

Por Raquel Dias da Silva

Outras ruas que vai querer conhecer

  • Coisas para fazer

É no Príncipe Real que os valores das casas chegam a somas astronómicas: 5254 o metro quadrado, segundo os dados publicados o ano passado, a zona mais cara de todo o país. E também a melhor. Neste bairro parece haver uma só rua que o atravessa do início ao fim, mas na verdades são duas que se encontram na Praça do Príncipe Real. De um lado a Rua da Escola Politécnica, que vem do Rato, e do outro esta que tratamos aqui, a Rua Dom Pedro V. 

Publicidade
Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade