Copiado o modelito ao italiano Palazzo Dei Diamanti de Ferrara, edificou-se no século XVI esta casa, que se destacava e se continua a destacar das restantes pela original fachada sul. Coberta por um amplo xadrez de relevos piramidais, começou por ser conhecida como Casa dos Diamantes, como a ela se refere Saramago, mas depressa foi rebaptizada pelo povo, que em vez de diamantes via bicos. Actualmente, o edifício, que foi construído a mando do seu proprietário original, Brás de Albuquerque, filho do então vice-rei da Índia, Afonso de Albuquerque, é a sede da Fundação José Saramago, que se dedica à vida e à obra do Nobel da Literatura. É também a primeira paragem da Rota Memorial do Convento, a que se segue o Rossio e o Terreiro do Paço, actual Praça do Comércio, onde conhecemos a vida da Corte e uma das histórias mais emblemáticas do livro: a do padre Bartolomeu de Gusmão, que sonha inventar uma máquina voadora que cruzará os céus de Lisboa.
Considerado um dos mais importantes romances portugueses do século XX, o Memorial do Convento, de José Saramago, foi publicado pela primeira vez em 1982. Agora, ganha vida através de um roteiro literário, cultural e histórico, que parte da Casa dos Bicos, em Lisboa, e termina no Largo da Igreja de Cheleiros, em Mafra. A iniciativa, que convida a percorrer um total de 58 quilómetros em visitas organizadas ou programas livres, segue o texto da obra para nos revelar monumentos históricos e paisagísticos do século XVIII, mas também pontos de interesse patrimonial, como o miradouro sobre o rio Trancão, outrora um importante porto fluvial, e o Mercado da Malveira, ainda hoje um dos mais emblemáticos da apelidada região saloia.
A convite da Fundação José Saramago, fizemos-nos à estrada e viajámos no tempo. Não sendo possível completar o percurso em menos de dois dias, seleccionaram-se apenas algumas paragens. O leitor poderá seguir as nossas sugestões ou criar o seu próprio roteiro. Basta aceder ao Mapa Interactivo da Rota Memorial do Convento, marcar os pontos a visitar e percorrer as linhas geográficas do romance.
Entre as 13 paragens recomendadas, destaca-se o Terreiro do Paço, onde se inicia o Memorial do Convento, com a união entre o rei D. João V e a rainha D. Maria Ana Josefa; a Praça Monumental de Santo Antão do Tojal, povoação de onde parte Baltasar conduzindo uma junta de bois com materiais para a construção do convento; e o Palácio Nacional de Mafra, a Real Obra em torno da qual o romance se desenvolve. Tanto estes como os restantes locais estão dotados de pontos de informação, em forma de totem, com indicação visual do percurso, um excerto que faz a ligação do sítio à obra, QR codes para o site da rota e sugestões de outros locais a visitar nas redondezas. Ao longo do ano, está ainda prevista programação cultural associada à rota, desde encontros de leitores e conversas até espectáculos de teatro e música barroca.
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