★★★☆☆
A série de Augusto Fraga para a Netflix tem uma apresentação, um aparato, uma solidez global e ambições bastante acima da média nacional.
★★★★☆
Arthur Daley (George Cole) é um escassamente honesto e muito oportunista comerciante a retalho, vendedor de carros usados e dono de uma empresa de importação e exportação de bens legais e ilegais, além de gostar de se armar em fino. Terry McCann (Dennis Waterman) é um antigo pugilista e o guarda-costas e faz-tudo de Arthur, tão decente quanto o seu patrão é inescrupuloso. Eles são a dupla protagonista de Minder (YouTube), uma série policial temperada com comédia que foi um dos maiores êxitos da televisão inglesa entre 1979 e 1989, mas nunca chegou a Portugal. A popularidade de Minder foi tal, que influenciou filmes como A Sexta-Feira Mais Longa, de John Mackenzie, e Mona Lisa, de Neil Jordan, deu origem a livros e até a um jogo de computador em 1985.
Os (raros) críticos da série acusam-na de ser demasiado “londrina” (os enredos raramente saem da zona Oeste da capital inglesa, Terry é adepto ferrenho do Fulham e as personagens usam muito calão popular e do submundo – o título da série significa precisamente “guarda-costas”), mas essa é precisamente uma das suas maiores qualidades: a autenticidade do cenário urbano, o realismo dos locais, das pessoas e da linguagem, uma Londres de figuras características, de enclaves italianos, chineses e caribenhos, que entretanto também já desapareceu em grande parte. É por este limitado, mas peculiar, castiço e rico ecossistema social e humano que Arthur e Terry evoluem, envolvendo-se nos mais variados sarilhos, o primeiro dotado de uma desfaçatez incomensurável, o segundo obedecendo-lhe pacientemente e aturando-lhe tudo, e dando e apanhando pancada, conforme as situações.
Cole e Waterman entendem-se como dois futebolistas que jogam juntos há muito tempo, e Minder exibe um sentido de humor british até mais não poder, com muitos trocadilhos e piscadelas de olho cinéfilas. Um exemplo: o primeiro episódio, passado numa lavandaria self-service chamada ‘OK’ onde se dá um assalto à mão armada seguido de sequestro, intitula-se: ‘Shootout at OK Laundrette’.
