A ideia do glamping é muito bonita mas não durante primaveras esquizofrénicas como esta a que tentamos sobreviver. E por isso é perfeitamente normal que qualquer ser humano que tenha como prioridade o seu conforto e bem-estar demonstre uma certa resistência em alinhar em passeios pela natureza quando as temperaturas não convidam sequer a meter a cabeça fora da janela. Mas isso é só até ao dia em que se descobre a existência da Tenda Suíte Deluxe do Carmo’s Boutique Hotel, em Ponte de Lima, que como o nome indica, é uma tenda de facto, mas uma daquelas saída de um filme passado numa fazenda de luxo africana, em que a única diferença é que lá fora em vez da savana há apenas o verde do campo a espreitar. O hotel tem programas de lazer muito completos, com visitas à Oficina do Vinho, jantares românticos com menu de degustação, passeios de catamarã, workshops de arte, aulas de golfe e visitas guiadas à vila. Mas isso não interessa nada quando debaixo do tecto de lona (que é realmente o único elemento representativo do universo campista) se encontra um quarto panorâmico com banheira aos pés da cama, terraço privativo com cadeiras de baloiço e uma cama king size virada para a janela, mesmo a pedir para se aconchegar umas boas dez horas seguidas entre mantas felpudas, almofadas gordas e lençóis de um algodão tão macio que parece quase uma segunda pele. Há coisas para fazer fora da cama? Claro que sim, mas tudo o que implique sair do trajecto cama-banheira-varanda será um gasto de energia desnecessário. Entre estas três paragens com certeza que encontrará outras formas de se entreter entre sestas.
Quando se finaliza a reserva para uma escapadinha, o sentimento que predomina é mais ou menos este: ir, estar, fazer o menos possível e aproveitar para pôr o sono em dia. Como
boa declaração de intenções que é, muitas vezes acaba por ser só isso mesmo, uma ideia idílica que rapidamente se transforma num plano completamente ao lado. A pessoa vai para não se cansar mas depois há os passeios a cavalo, as provas de vinho, os workshops
de pintura de azulejos, as visitas à quinta pedagógica, os almoços e jantares naquela tasca que o cunhado do primo garantiu ser a melhor da região e quando se dá por ela já são horas de voltar a casa e descanso nem vê-lo. Isto não é vida para ninguém. Às vezes é preciso parar. Relaxar. Dormir, sobretudo. Cumpra finalmente o desejo de tirar uns dias para não sair da cama. Nestes três quartos de hotel encontra a desculpa perfeita para desligar, morrer para a vida e ressuscitar ao terceiro dia.