Compositores como Mozart ou Vivaldi tinham a fama de compor de um jacto, vertendo directamente para o papel obras acabadas e despendendo pouco ou nenhum tempo com revisões. Mas Brahms não só viveu num tempo em que os compositores possuíam uma consciência mais aguda do seu estatuto como artistas e preocupavam-se com a forma como o seu tempo e a posteridade iriam julgar a sua obra, como a sua própria personalidade o predispunha a ser muito exigente consigo mesmo. Daí resultou que muitas das suas obras tivessem uma génese laboriosa e retorcida e que muitas tivessem acabado por ser destruídas pelo compositor por não as achar dignas de serem ouvidas. Nunca saberemos qual o valor das partituras que acabaram na lareira, mas tudo o que Brahms tornou público – com excepção da Abertura para uma Festa Académica (1880), uma obra de circunstância – é de uma qualidade que mostra que o seu crivo era muito apertado.
Johannes Brahms nasceu em Hamburgo em 1833, numa família humilde e em adolescente tocou piano em bares pouco recomendáveis na zona portuária da cidade, de forma a ajudar ao sustento da família. Aos 17 anos juntou-se ao violinista Ede Reményi, com o qual se apresentou em concerto pela Europa. No decurso dessas tournées travou conhecimento com o violinista Joseph Joachim, que se tornaria seu amigo e um dos mais atentos e exigentes críticos das suas partituras, e com o casal Robert e Clara Schumann, que ficaram entusiasmados com o talento e a natureza afável do jovem músico. Robert elogiou-o num artigo como uma das mais extraordinárias promessas da música, o que deixou Brahms ainda mais inseguro sobre as suas capacidades, por recear não corresponder a tão elevadas expectativas.
A sua obra viria a confirmar que os elogios e expectativas de Schumann nada tinham de exagerado.