Quando Silva mergulhou na imensidão de material que tinha armazenado no computador, foi surpreendido pela gravação de um concerto em Lisboa. O músico brasileiro tem por hábito gravar as suas actuações ao vivo, mais para auxílio de memória do que por outra coisa. Mas naquele dia, naquele computador, naqueles registos, reencontrou o amor: num concerto no Cineteatro Capitólio, em Lisboa.
Caetano já por lá passou, Maria Bethânia também. Adriana Calcanhoto, Maria Gadu ou Ney Matogrosso, idem. Mas há mais do que a língua a unir todos estes nomes ao Coliseu dos Recreios: há música, há ritmo, há uma identidade transversal, uma experiência que comunga com todos aqueles que ocupam a cadeira e têm o prvilégio de a receber.
A Rua das Pretas, projecto musical do brasileiro Pierre Aderne que todos os sábados, num palacete no Príncipe Real, escondia uma rua onde se samba e se canta o fado, é parte dessa linhagem. Músicos de várias geografias juntam-se, tocam, dão voz a clássicos, a originais, regados a vinhaça da boa e a memórias.
Foi isso que este sábado aconteceu. Não no palacete no Princípe Real, mas no palco do da mítica sala lisboeta, uma celebração da nova normalidade por meio da música. Maria João, Tito Paris, Nicolau Santos e Maria Liberdade encheram o peito e brindaram as gentes com "Casa Portugesa", "Lisboa de Janeiro", "A Cor dos Seus Olhos" ou "Vida de Estrela". E, por momentos, se não fossem as máscaras, mais do que normal, extraordinária seria a palavra.
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