Lucrecia Dalt
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Delírio nos Açores. Meia dúzia de concertos a não perder no Tremor

O festival açoriano da Lovers & Lollypops está de volta, entre 28 de Março e 1 de Abril. Estes são os concertos que queremos mesmo ver bem no meio do Atlântico.

Luís Filipe Rodrigues
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Durante uns anos, entre 2010 e 2018, o Milhões de Festa foi o melhor festival de Portugal. Não só pela música que se escutava naqueles dias em Barcelos, como pela boa onda, pela gastronomia, pelo conforto, pelos concertos na piscina e os hotéis colados ao recinto. Por um lado, estávamos num festival; por outro, estávamos num limbo doce entre a casa e as férias, a ver concertos nas calmas e sem pressões. Como tudo o que é bom, o Milhões acabou. Mas, de certa forma, a sua memória continua viva nos Açores, durante aqueles dias em que dura o Tremor – este ano, entre terça-feira, 28 de Março, e sábado, 1 de Abril. Está bem que não vamos poder ouvir os concertos enfiados no quarto (saudades, Bagoeira), e é garantido que vai ser necessário galgar quilómetros para se ver tudo o que quer; mas quem já lá foi garante que a maneira como a música flui, sem imposições, é muito parecida ao que se sentia em Barcelos. E quem lá vai uma vez dificilmente não volta no ano seguinte – além disso, é organizado pela mesma Lovers & Lollypops que nos deu Milhões de Festa. Há conversas, passeios, encontros aleatórios e um ambiente de tainada e curtição perpétuo, porém o que nos leva a Ponta Delgada são os concertos. E estes seis são imperdíveis.

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Meia dúzia de concertos a não perder no Tremor

Owen Pallett

É, talvez, o nome mais conhecido deste Tremor. Deu nas vistas no início dos anos zero, quando tocava com The Hidden Cameras, depois fez uma mãozinha no primeiro disco de Arcade Fire e, logo a seguir, lançou-se a solo como Final Fantasy (sim, como os jogos). Desde então, colaborou com meio mundo, começou a assinar os discos a solo com o nome que os pais lhe legaram, e até recebeu uma nomeação para um Óscar. A sua pop barroca, ancorada na voz, violino e electrónicas, ouve-se nos Açores antes de chegar ao continente.

Teatro Micaelense. 28 Mar. 21.30

Verde Prato

A origem do euskera, a língua basca, é um enigma que ainda ninguém conseguiu resolver. Existe isolado das línguas indo-europeias que se falam em seu redor; é ancestral. Continuar a ser falado, hoje, em mais do que uma região de Espanha – e em França – é uma prova de resistência que merece ser aplaudida. Não é inédito, portanto, ver músicos do País Basco a cantar na sua língua (apesar da perseguição a que muitos foram sujeitos durante o governo de José María Aznar). Mas ninguém o faz como Ana Arsuaga, cantora, compositora e produtora de canções onde a tradição oral e musical basca é revitalizada pela electrónica.

Parque Terra Nostra. 30 Mar. 09.00

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Marina Herlop

É fácil ficar rendido a Marina Herlop. Basta ouvir o álbum Pripyat, lançado no ano passado pela visionária editora PAN. Nele, a sua voz é trabalhada e transformada até se tornar sobre-humana, enquanto os dedos viajam pelas teclas de um piano (o seu instrumento formativo) e baterias electrónicas e um sem-fim de efeitos nos transportam para um espaço onde a música tradicional, a electrónica contemporânea e a pop renascem. Quando esteve na ZDB, há uns meses, um gajo bêbado comparou-a com a Björk. Foi injusto. É melhor.

Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas. 30 Mar. 21.30

Avalanche Kaito

Feliz (mas deliciosamente tenso) encontro entre um griot do Burkina Faso e um duo belga de pós-punk ruidoso. Esta é a melhor maneira de descrever os Avalanche Kaito, apesar de não fazer justiça à música nascida desta união, celebratória e livre. Importante. Quem seguiu os conselhos da Time Out e teve a sorte de os ver há uns meses no MIL sabe bem do que falamos. A quem dormiu na forma, recomenda-se a escuta do álbum homónimo do ano passado nos sítios do costume. Vale muito a pena.

Solar da Graça. 31 Mar. 22.15

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Lucrecia Dalt

Seja pelo que representam e dizem do presente, ou pelos caminhos que apontam para o futuro, há discos que são maiores do que as músicas que guardam lá dentro. ¡Ay!, o último da colombiana Lucrecia Dalt e justamente considerado o melhor de 2022 pela revista The Wire, é um desses discos. Trinta e quatro minutos de electrónica experimental, futurista e fulgente, mas enformada pelas histórias e músicas tradicionais da sua terra e enobrecida por frases e palavras que se confundem com evocações (ou talvez sejam assombrações). 

Portas do Mar. 31 Mar. 23.59

Lander & Adriaan

Os belgas Lander Gyselinck (bateria, electrónicas) e Adriaan Van de Velde (teclados) fazem uma música eufórica e livre, que existe para lá de ideias e mitificações burguesas como o bom gosto. No álbum de estreia homónimo, parido durante a pandemia mas lançado apenas no ano passado, ouvimos o juke de Chicago, o techno de Detroit e o UK funky colidirem com jazz de fusão foleiro numa festa anfetaminada e doce. Quando o Tremor estiver a queimar os últimos cartuchos vamos perceber no que se traduz isto ao vivo.

Portas do Mar. 1 Abr. 23.3

Música que dá gosto lerr

  • Música

Desde 2011 que acompanhamos, nestas páginas e fora delas, a carreira de Maria Reis. Vimo-la e ouvimo-la a crescer, a alargar horizontes, a apurar a lírica e a composição, a impor-se como uma das melhores escritoras de canções que este país já teve, independentemente do género. Benefício da Dúvida, o quarto registo a solo, entre mini-álbuns e EPs, é o mais recente marco de uma obra que se recusa a perder a relevância e inventividade.

  • Música

O que começou por ser planeado como um dia passado com os quatro membros dos Glockenwise – os fundadores Nuno Rodrigues, Rafael Ferreira e Rui Fiusa mais Cláudio Tavares – entre ensaios e tainada, foi reduzido a um almoço a dois. Estamos velhos, alguns têm famílias e outras responsabilidades. Não é o caso de Nuno, o vocalista e o nosso interlocutor. Fala-se da vida, das relações terminadas, do trabalho que o obriga a vestir um fato e, claro, de Gótico Português. O novo disco tem pouco de gótico, tudo de português, e é das melhores coisas que vão passar pelos nossos ouvidos nos próximos meses.

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  • Música

Há mais de uma década que escutamos a voz de Alex D'Alva Teixeira. Primeiro em nome próprio, no EP Não é um projeto e noutras edições da FlorCaveira, e depois nos D'ALVA, o seu duo com Ben Monteiro, que ao vivo se desdobrava numa banda. Em SOMOS, editado no Outono, são oficialmente três, com a promoção do baterista Gonçalo de Almeida, que os ladeava desde o início, ao estatuto de membro oficial e fotografado.

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