Mazgani
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Mazgani: “É mais fácil encontrar espaço na lentidão”

Mazgani lançou em Fevereiro o álbum 'The Gambler Song', que apresenta a 4 de Março no Capitólio. Falámos com ele

Luís Filipe Rodrigues
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Shahryar Mazgani é um interlocutor cuidadoso. Não porque meça as palavras, mas porque parece esforçar-se e ter gosto por ir ao encontro de quem fala com ele – ouve o que lhe dizem com atenção, aceita dialogar sobre tudo e, quando sente que se afastou demasiado do ponto de partida, termina as respostas com um “espero ter respondido à tua pergunta”. Esse cuidado e essa empatia não se notam apenas nas entrevistas. Escutam-se também nos discos do cantautor luso-iraniano. O mais recente, The Gambler Song, saiu em Fevereiro e será apresentado na quarta-feira, 4 de Março, no Capitólio.

Várias pessoas têm-se referido a The Gambler Song como um disco mais calmo, em oposição ao anterior The Poet’s Death, que tinha um registo mais roqueiro. Eu não sinto isso, mas tu concordas que o novo disco é mais calmo do que os anteriores?

Potencialmente, o anterior The Poet’s Death era mais rock e revelou-se ainda mais rock no palco, pelo menos em alguns momentos. Mas não quero discordar. Até porque a lentidão sempre me interessou. Desde o início que encontro mais facilmente espaço para contar uma história nessa cadência mais lenta.

Mas podes discordar à vontade.

Não quero, e vou dizer-te porquê. Eu fico feliz com a leitura do outro. Acho que a minha leitura do que faço não é necessariamente a melhor. Se alguém encontra algo com que se identifica numa canção, para mim isso é perfeito. Agora, para não fugir à pergunta, e não ser demasiado filosófico, eventualmente havia momentos em que as canções eram mais in your face no The Poet’s Death, apesar de essa lentidão existir também. E aqui é tudo mais contemplativo, se calhar. A toada é mais para um lado do que para outro.

Depois de dois discos com o selo da Sony, o novo álbum foi auto-editado. Porquê?

Porque acabou esse tempo. Eu fui para a Sony pelas pessoas, mais do que pelo interesse em ter uma editora, e essa relação permanece. Inclusivamente, a Sony distribui este disco. Mas o meu percurso sempre foi totalmente independente, fazendo os discos da minha maneira e tendo um certo discurso que, não sendo hermético, não apela a todos. Sempre fiz o que quis fazer, sem grandes compromissos.

Portanto, é indiferente fazeres as coisas sozinho ou com uma editora por trás.

Acho que sim. Desde o início que o meu trabalho, o processo, é mais ou menos idêntico. Espero que agora com mais maturidade, mas com as mesmas referências.

Apesar de teres vivido em Portugal quase toda a vida, as tuas referências musicais são sobretudo anglo-saxónicas: o Leonard Cohen, o Nick Drake... Qual é a tua relação com a música portuguesa, se é que tens alguma?

Tenho muito amor pelos cantautores portugueses. Lembro-me de ser miúdo e ouvir o Zeca, por exemplo. E tenho um grande amor pela Amália, que é mais do que fadista, é a Amália. Mas de certa forma esses nomes, e os que tu mencionas, são indivíduos. Se calhar dizem que o Nick Drake toca folk, mas não: é o Nick Drake. Tem uma assinatura e uma caligrafia. Se calhar dizem que a Amália canta o fado – e canta – mas é a Amália. Vai além do fado. Falam do Leonard Cohen como songwriter. Sim, mas é muito redutor: é o Leonard Cohen. É um poeta. O que sempre me entusiasmou foi a procura dessas pessoas por serem indivíduos. Por serem eles próprios.

E vais acompanhando o que se passa no Irão, onde nasceste?

Inevitavelmente, todos seguimos o que passa lá. Só que eu sigo com uma atenção redobrada, porque tenho uma relação afectiva com o país. Sempre falei farsi em casa, nunca me esqueci da língua e os meus pais tentaram mostrar-me as coisas que eles consideravam bonitas de lá. É um país com uma cultura milenar, com coisas magníficas, com uma tradição poética extraordinária e uma música clássica muito exigente. Tenho todas essas referências que os meus pais me deram e estou-lhes muito grato por isso. Acho que isso afecta muito a forma de eu ver as coisas. Sinto que sou iraniano e que sou português.

Crítica: Mazgani

"The Gambler Song"

★★★★☆

Não há qualquer surpresa, ou sequer confirmação. Década e meia de estrada, seis discos no activo, Mazgani tem já créditos firmados e um nome que identifica um estilo. Mas este disco é, apesar disso, um passo em frente. Ao assumir um registo muito mais calmo, lento, do que em registos anteriores, e ao afastar-se do blues seminal talvez como nunca outrora, Mazgani burila e fixa de forma mais evidente uma maneira muito peculiar de estar na música. Os temas andam – como poderia ser de outra forma? – em torna do amor, da busca, da errância. A música, com mais espaço para respirar, serve na perfeição esse desígnio contemplativo. Canções como “Into Silence” aproximam-se do pop elegante, sem as arestas do blues, para logo de seguida “The Sweetest Song” ser a excepção que nos traz o canto gritado de discos passados. Os mais puristas hesitarão perante este som mais manso, que nada parece ter, porém, de derrota ou inflexão. Manuel Morgado

Conversa afinada

  • Música

Nascidos das cinzas dos Hipnótica, os Beautify Junkyards chegam ao quarto álbum com uma formação que inclui João Branco Kyron (vozes e sintetizadores), Helena Espvall (violoncelo, flauta e guitarra acústica), João Moreira (guitarra acústica e sintetizadores), Sergue Ra (baixo), António Watts (bateria e percussão) e Martinez (vozes). Cosmorama expande o universo tropicalista e psicadélico da banda e pede o título emprestado a uma galeria que existia em Londres na era vitoriana, com projecções de locais distantes e exóticos, um portal para viajar no tempo e no espaço – no fundo, tudo o que pode esperar deste disco.

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