1. Nabucco
Estreia: 1842, Teatro alla Scala, Milão
Libreto: Temistocle Solera, segundo peça de Auguste Anicet-Bourgeois e Francis Cornue.
O enredo pode basear-se num episódio da Bíblia e ter lugar em Jerusalém e em Babilónia, mas o ouvinte moderno será levado a pensar em telenovelas mexicanas. Acontece que o libreto de Solera foi adaptado não directamente dos livros de Jeremias e Daniel mas de uma peça que já tomava grandes liberdades em relação às fontes bíblicas e as entretecia com o mais puro dramalhão oitocentista.
Em Nabucco, Abigaille, a irmã má, planeia afastar Fenena, a irmã boa, a favorita do pai, Nabucodonosor, que está destinada a suceder-lhe no trono da Babilónia e que pretende libertar os israelitas que o pai acabou de derrotar e reduzir ao cativeiro. Quando Abigaille descobre que 1) não é filha legítima de Nabucco e 2) Ismaelle, cativo judeu por quem se apaixonara, a despreza e ama Fenena, é tomada pela fúria: espalha o rumor de que o rei morreu, apodera-se do trono e ordena o sacrifício ao deus Baal de Fenena, que entretanto se convertera ao judaísmo. Após muitas peripécias, acaba tudo bem: Nabucco, que fora fulminado por um relâmpago, recupera a presença de espírito, derruba a estátua de Baal e salva Fenena e a perversa Abigaille reconhece a derrota e suicida-se ingerindo veneno.
Foi a terceira ópera de Giuseppe Verdi (1813-1901) e o seu primeiro grande sucesso – o próprio compositor admitiu: “foi com esta ópera que a minha carreira artística realmente começou”. Reza a lenda que Verdi se apaixonou pelo libreto assim que os olhos pousaram na página com o hoje celebérrimo coro dos escravos hebreus, “Va, Pensiero”, mas a verdade é que Verdi começou por colocar o libreto de lado e mesmo quando conseguiu lê-lo até ao fim, decidiu recusá-lo. O empresário do La Scala que lhe propusera o libreto não aceitou um “não” como resposta e Verdi, cuja ópera anterior, Un Giorno di Regno (1840) fora um completo fiasco, lá acabou por aceitar o encargo. Teria sucesso estrondoso em Itália e logo em 1843 seria aplaudida em Viena e Lisboa.
[“Va, Pensiero”, pelo Coro & Orquestra da Metropolitan Opera de Nova Iorque, com direcção de James Levine, 2002]