Rita Vianr
(c) QueraguraRita Vian
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Rita Vian passou mais de uma década em busca do ‘SENSOREAL’. Ei-lo

O aguardado álbum de estreia da cantora e compositora Rita Vian acaba de ser editado. Falámos com ela.

Luís Filipe Rodrigues
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Começou como um sussurro. Havia uma miúda nova cujo segundo single, “Sereia”, tinha sido remisturado por Branko. E algumas orelhas, ainda poucas mas boas, começaram a levantar-se para ouvi-la. Depois veio a “Purga”, destacada por rádios, sites e plataformas de streaming no malfadado ano de 2020. Seguiu-se o EP de estreia, CAOS’A, em 2021; e concertos em quase todos os festivais portugueses, em 2022. Agora, em 2023, chega finalmente SENSOREAL, o primeiro álbum. Foi editado há uma semana, apresentado em primeira mão no Iminente Takeover há nem 15 dias, e a 7 de Dezembro vai ouvir-se no Lux.

Quando a maioria a descobriu em 2020, porém, Rita Vian já tinha escrito uns quantos capítulos da sua história. Tinha estudado no Conservatório e no Hot Clube; completado a licenciatura em Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; passado pelas redacções de órgãos de comunicação de referência; desistido do jornalismo e saltado para trás do balcão da Musa de Marvila. Pelo meio, concorreu à Operação Triunfo; cantou tantos fados para os seus familiares e para os amigos do hip-hop que acabou a participar no disco de um deles, Mike El Nite; também passou pelos Beautify Junkyards, uma das mais subvalorizadas bandas portuguesas dos últimos anos – isto apesar de terem editado pela Ghost Box, seminal editora britânica de uma electrónica assombrada pelo passado, por Marx, pelo capitalismo e outros espectros.

Hoje, quando faz o balanço do que ficou para trás, parece agradecer todos esses momentos e experiências – pelo menos aquelas mais relacionadas com a música; a passagem pelo jornalismo, por exemplo, serviu sobretudo para perceber que não era aquilo que queria para a sua vida. “Acima de tudo, sou uma pessoa que gosta de música”, resume, sem manhas nem peneiras. “E sou uma pessoa que faz muito questão de procurar a identidade. Então fiz o meu caminho. E essas experiências trouxeram-me coisas que me interessaram muito. Aprendi muito com os Beautify [Junkyards], por exemplo. Mas também deu para afinar aquilo que procurava. Pouco a pouco, fui construindo o meu espaço.”

Ao que se refere quando fala em identidade? À sua? À portuguesa? A outra qualquer? “Estou só a falar da minha identidade”, esclarece. “Perceber o que escrever, sobre mim, sobre a minha experiência, sobre os meus dias. As canções são sempre histórias minhas, são coisas que me aconteceram.” Está esclarecida a dúvida. Não obstante, a pergunta não era descabida. Nos últimos anos, vários artistas, em Portugal e noutras margens do Norte global, de Espanha a Porto Rico, têm reenquadrado e reimaginado as suas tradições e identidades, aproximando-as da pop internacional e dos padrões estéticos impostos pelo globalismo norte-americano. Quando a ouvimos cantar com tiques fadistas por cima de batidas electrónicas, é inevitável encontrar pontos de contacto com o trabalho de um Pedro Mafama ou de um C. Tangana, de Ana Moura ou Rosalía, de Bad Bunny ou Conan Osiris.

Este último, toca num par de faixas do álbum de estreia de Rita Vian. Se no anterior EP a cantora colaborou com Branko, desta vez rodeou-se de múltiplos músicos e produtores. “Queria muito fazer um disco que eu liderasse de alguma forma, porque tinha muitas coisas que queria ser eu a fazer. Então fui ter com o João Maia Ferreira – que dantes assinava como Benji Price – e expliquei-lhe o que pretendia. Já tinha escrito algumas músicas e já tinha pegado aqui no MPC e no teclado e construído de raiz a produção delas. Mas precisava da ajuda para pôr tudo no lugar, no fundo. Pensei nele para me acompanhar neste processo, e ele aceitou.” Depois, olhou para cada tema e pediu ajuda a quem achou que podia ir ao encontro da sua visão. Foi o caso de Conan Osiris, mas também de Fred Ferreira, dos ex-Cool Hipnoise João Gomes e Francisco Rebelo, ou até de Mucky, “o produtor da Sevdaliza, que participou em três músicas”.

O disco que agora ouvimos é um resultado destas influências, experiências e relações, um pequeno sumário do seu percurso musical e de vida até agora. “Tem o lado acústico, o lado electrónico, o lado ambiental também. E o lado do hip-hop”, elenca. Nunca fala em fados, mas ouvimos Amália na sua voz – se calhar porque “todos nós temos Amália na voz”, como dizia o António. Quando lhe perguntamos o que guarda o futuro, ou o que espera dele, diz que não tem expectativas. Vai continuar a trabalhar, a cantar, a escrever – até já tem novas canções escritas – mas por agora quer viver e aproveitar o presente. Acaba de lançar o álbum de estreia, e nos próximos tempos só tem olhos para a sua primeira cria. O futuro pode esperar, “amanhã tudo se há de arranjar”.

LuxFrágil. 7 Dez (Qui). 22.30. 15€

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