“Sempre fui a gorducha da família”. Mafalda Sena, de 31 anos, cresceu rodeada de irmãos e primos. Nas fotografias de família, recorda, “era sempre aquela que se destacava por ser mais gordinha”. Com a idade, foi percebendo que o excesso de peso lhe era prejudicial. Interiorizou que tinha de mudar, e assim foi. Mas tudo a seu tempo – e com muita paciência.
No último ano, entrou em nossas casas como uma das principais convidadas do Como é que o Bicho Mexe?, de Bruno Nogueira, e conquistou milhares de pessoas, que ficaram a conhecer melhor a actriz portuguesa. Uma mulher do Norte sem papas na língua, divertida, com espírito de criança mas também de guerreira – “éipica” no geral. Mas Inês não chegou agora. Tem 31 anos, já foi apresentadora do Curto Circuito, passou pelo cinema, pela ficção televisiva e pelo teatro, onde até ao final do ano passado interpretou a personagem Paula Porca no sucesso de bilheteira Avenida Q.
Nas redes sociais, o seu palco permanente, com uma plateia de 252 mil seguidores (“metade de meio milho!”, diz), dá a conhecer as suas muitas personagens. “Todas têm um bocadinho de mim. As coisas surgem, mas de coisas que estão dentro de mim, elas são muito eu. Talvez noutro contexto, noutra dimensão. Eu não sei se cabem muito mais. Aqui há uns tempos apareceu uma nova, que ainda não fui buscar outra vez. Portanto, elas surgem, sem aviso, e é deixá-las ir”, explica. Como o dealer Pateta, ou Aninhas, a influencer da Foz, alter egos que também fazem uma perninha nos directos de Bruno Nogueira.
Inês Aires Pereira é uma mulher cheia de graça, mas também cheia de força. Não adora a palavra influencer, mas sente a responsabilidade. “Começo a sentir o peso que me anda a atormentar, que é: tu tens uma voz, as pessoas ouvem-te, o que queres dizer? E estou nessa busca do que tenho para sair daqui, para não ser só palhaçada.” Mas é na “palhaçada” que muda as regras do jogo. Não tem medo de usar vernáculo, de falar sobre sexo sem tabus, de quebrar convenções. “Isso é uma coisa que faço sem esforço e depois penso: ah, olha que fixe isto que estou a fazer. Estar a mostrar-me horrível ou a dizer que ser mãe é uma merda. É sem pensar, mas quando vou analisar o que faço penso: fixe, isto para nós mulheres é muito importante”, diz. O truque, revela, talvez seja não se levar demasiado a sério e fazer o que a faz feliz. “E é muito bom perceber que tenho montes de mulheres do outro lado a acompanhar-me e a dizer: lindo, disseste o que queria dizer e não tenho coragem. Espero encorajar mais pessoas a dizer umas boas caralhadas”, desafia.
Actualmente, Inês Aires Pereira está a filmar Para Sempre, a nova produção da TVI com estreia marcada para Maio, onde interpreta Alice, uma radialista romântica, com “muita piada e muita força”. Ao mesmo tempo, prepara um espectáculo de stand-up, uma estreia na sua carreira. “Estou a meio do processo, naquela parte em que te estás a ir abaixo. Mas vamos acreditar que vai correr tudo bem. E não vai ser sozinha. Vou estar acompanhada por uma mulher, que sabe muito melhor.”
Quem é a mulher que te inspira?
“A minha mãe, pela mulher que foi, a vida que teve, o que lutou e abdicou de fazer para ela, para dar aos outros. A outra é a Raquel, muito minha amiga e um mulherão do caraças. Ela é a definição de sororidade, uma mulher sem julgamentos, que espalha o amor e enaltece as outras mulheres. E não vejo maldade nela, vejo sempre uma cena de sisterhood, com ela e com todas as mulheres que eu admiro. Quando vês mulheres assim é muito bom.”