“Sempre fui a gorducha da família”. Mafalda Sena, de 31 anos, cresceu rodeada de irmãos e primos. Nas fotografias de família, recorda, “era sempre aquela que se destacava por ser mais gordinha”. Com a idade, foi percebendo que o excesso de peso lhe era prejudicial. Interiorizou que tinha de mudar, e assim foi. Mas tudo a seu tempo – e com muita paciência.
A tradição portuguesa parece estar em vias de extinção no seio das famílias, mas não na de Joana Duarte. Foi precisamente no momento em que desenterrou o seu enxoval – feito com a avó, que a ensinou a bordar e a costurar –, que nasceu a Béhen, a marca pela qual dá a cara e que põe a moda a circular, transformando o velho em novo. Uma marca feita por mulheres e para mulheres.
Mas a Béhen não nasceu do dia para a noite. Joana fez design de moda em Lisboa e seguiu para Londres para o mestrado, que interrompeu para ir para a Índia, onde esteve a estagiar numa empresa de fair trade. “Vi muita coisa em fábricas de fast fashion, viajei dentro do país, conheci mulheres que bordavam, estampavam, acabei quase a criar uma comunidade. Percebi também que por lá os saris se passavam de geração em geração”, conta num paralelismo óbvio com o nosso enxoval. Começou a ver a moda com outros olhos – e quando voltou a Portugal foi ao baú. “Não precisamos de mais designers que façam o mesmo de sempre, precisamos de mais soluções para os problemas da indústria.” De volta a Londres, para terminar o mestrado, pegou numa colcha que comprou numa feira de velharias e transformou-a num casaco. “Estava muito focada na moda sustentável e queria perceber que alternativas tinha eu, estudante ainda, para criar algo que não tivesse grande pegada ecológica. Bem, tinha as colchas”, recorda.
No regresso a Portugal, coisa que não estava nos planos (isso e criar a sua própria marca), comprou mais colchas e, “do nada, deu-se o clique” – nasceu a primeira colecção da Béhen. E se a vertente da sustentabilidade é um dos pilares da marca e o que move Joana, não faria sentido, diz-nos, fazê-lo sem um lado social. As colecções são feitas em colaboração com a Fundação Aga Khan, com uma comunidade de mulheres do mundo inteiro, desempregadas, que recebem formação em costura. Além delas, Joana ajuda ainda, com parte dos lucros, na educação das crianças de duas famílias sírias a viver no Líbano. “A Béhen não é só minha, é de mais pessoas, mais mulheres”, afirma.
Além das apresentações na ModaLisboa – a próxima edição está agendada para Abril –, Joana fez recentemente uma colaboração com a Levi’s (à venda no site da Béhen) de onde nasceram peças únicas criadas a partir de 25 peças em ganga de colecções antigas e stocks parados da gigante norte-americana. De notar também que cada colecção envolve colaborações com outras entidades, como já foi o caso da Humana Portugal.
Quem é a mulher que te inspira?
“As minhas duas avós. Sem elas, sem o apoio que elas me deram, a Béhen certamente não existiria. São elas a razão de muita coisa.”