“Sempre fui a gorducha da família”. Mafalda Sena, de 31 anos, cresceu rodeada de irmãos e primos. Nas fotografias de família, recorda, “era sempre aquela que se destacava por ser mais gordinha”. Com a idade, foi percebendo que o excesso de peso lhe era prejudicial. Interiorizou que tinha de mudar, e assim foi. Mas tudo a seu tempo – e com muita paciência.
“Sushi”, “Bússola” e “Tequila” talvez formem a santíssima trindade que faz de Nenny o fenómeno que é hoje. Com 18 anos apenas, esta cantora e compositora portuguesa de raízes cabo-verdianas e a viver no Luxemburgo tem milhões (sim, são mesmo muitos milhões) de visualizações no YouTube. Em Fevereiro, deu um salto de gigante ao participar no projecto A Colors Show, uma plataforma criativa de showcases de talentos da música de todos os cantos do mundo. Poucos a conhecem por Marlene Tavares, mas é o nome por detrás de uma presença desmesurada em qualquer palco que pise, de uma energia e intensidade que só Nenny sabe imprimir – ou não fosse ela cantar desde os tenros 6 anos de idade. “Sinto-me abençoada por ser tão jovem e ter conseguido chegar onde estou agora – e tão rápido. Sei que não há muitos artistas portugueses que tenham começado assim, tive a sorte, e lutei para isso, de conseguir sobressair com a minha música, com a minha postura”, diz à Time Out. O disco de estreia, Aura, saiu em 2020 e compila alguns dos êxitos que a levaram para a ribalta, tendo agora os novos singles “Tequila” e “Wave” – produzidos em exclusivo para o Colors – vindo reforçar aquilo que já todos sabiam: esta miúda veio para ficar.
“A figura masculina está muito mais presente no hip hop e talvez seja mais difícil para mulheres, mas acho que não vi essa barreira, acho que é preciso olhar para isso como uma oportunidade para te mostrares e fazeres diferente, de chegares e teres atitude”, afirma. “Já era preciso uma mudança no game na indústria do hip hop.” Ser mulher, negra e a cantar em português é das conquistas de que mais se orgulha, um espelho da identidade e das culturas portuguesa e africana que faz questão de levar ao peito e na voz. “Consegui encontrar o meu lugar, representar as mulheres no hip hop tuga e isso é gratificante”, diz.
Desde pequena que, além do sonho de um dia vir a ser cantora (check!), Nenny vê a imagem como um reflexo das suas emoções e da mensagem que quer passar. “A moda sempre esteve presente na minha vida. Quando era pequenita desenhava imensas peças de roupa que gostava depois de vir a usar”, conta. “A partir dos 14 ou 15 anos levei a coisa mais a sério e sinto que libertei a minha personalidade através da roupa. E no mundo do hip hop acaba por sobressair, então escolhia roupas mais largas, mais masculinas, e combinava com acessórios muito femininos. Acho que essa paixão continua cá.” E se continua. Nenny foi a estrela da apresentação da dupla de designers portugueses Marques’Almeida (autores do modelito usado pela artista no Colors) na London Fashion Week, numa performance em vídeo em que a rapper canta ao mesmo tempo que apresenta alguns dos looks da nova colecção. “Foi um momento em que juntei o melhor dos dois mundos, expressei a minha arte através da música e da roupa, cheguei a novos públicos e isso é importante para alguém que está na minha posição”, remata, com uma nota de saudade dos palcos, mas a promessa de que novidades vão chegar.
Quem é a mulher que te inspira?
”A mulher que tenho como referência sempre para tudo é a minha mãe, claro. Mas se olhar para o lado mais artístico e para o meu trabalho, a Teyana Taylor é uma mulher super-inspiradora. Ela representa aquilo onde eu gostava de chegar um dia, tem uma vibe incrível.”