Turista na ribeira das naus
©Arlindo Camacho
©Arlindo Camacho

Vinte coisas à turista que os lisboetas devem experimentar

Ser turista na cidade onde se vive é como não deixar morrer a criança que há em nós. Eis boas maneiras de alimentá-la.

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Em casa de ferreiro, espeto de pau, já diz o ditado, justificando o quão maus turistas conseguimos por vezes ser na nossa própria cidade. Adiar a visita a um momento, bairro, pastelaria ou museu, porque o tempo em Lisboa nos parece ilimitado é uma das principais desculpas para não se partir cidade afora em jeito de exploração. Mas essa coisa do tempo ilimitado, já se sabe, é um mito. Não perca, por isso, mais minutos e tente lembrar-se do que faria se estivesse de férias em Paris, Praga ou Barcelona. É replicar o espírito e aproveitar para se divertir. Com este pequeno guia, ajudamo-lo a ir aos clássicos e óbvios, mas também a enfrentar o desconhecido.

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A Lello & Irmão, no Porto, domina os tops das livrarias mais bonitas do mundo – com toda a justiça. Lisboa tem a Bertrand, a mais antiga em actividade neste planeta, mas há outra loja de livros a chamar a atenção de quem nos visita: a centenária Sá da Costa, no coração do Chiado. Fundada em 1913 na Calçada do Combro, hoje fica perto dos famosos croissants e ambiente de luxo da Bénard e da multi-hiper-extra-fotografada estátua de Fernando Pessoa, sentado na esplanada do café A Brasileira. Sobre a livraria em si, é uma das maiores alfarrabistas do país, onde se podem encontrar livros raros dos séculos XV ao XX. É também uma espécie de gabinete de curiosidades, com mapas e globos antigos, objectos ligados à leitura e pinturas espalhadas pelo espaço. O único problema é que pode ficar horas perdido por aqui. 

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As ruínas e o museu do Largo do Carmo correram o mundo depois de ter sido descoberto nas escavações um teratoma, isto é, um raríssimo tumor com dentes e fragmentos de osso. Esta novidade tétrica não está à vista dos mais curiosos, mas há outras igualmente interessantes – e menos agoniantes. Para além das ruínas da igreja derrubada pelo terramoto de 1755 (sim, quando caiu o Carmo e a Trindade) é possível visitar um museu com um ecléctico acervo arqueológico.

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Sim, há sempre fila à porta dos Pastéis de Belém. Mas se há fila, há fama e se há fama, há também grande probabilidade de estar próximo de uma das grandes delícias naturais de Lisboa. A receita destes famosos bolos está muito bem guardada, desde 1834, altura em que os doceiros do vizinho Mosteiro dos Jerónimos se aventuraram numa massa estaladiça que envolvia uma espécie de crema catalana ou crème brulée ou, ainda, leite-creme à portuguesa (não confundir com o pastel de nata). Além do espanto na boca, a boa novidade é que, entrando pela pastelaria pode ver-se o fabrico através das janelas, serpentear a fábrica e chegar ao belíssimo salão onde as filas são muito menos esperadas. É, então, apenas preciso aguardar "ordens superiores" e sentar-se para pedir uns quantos exemplares, acompanhados de canela, açúcar e da bela bica.

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Se calhar nunca esteve nesta galeria subterrânea, mas quase de certeza que andou por cima dela. O Reservatório da Patriarcal fica por baixo do Jardim do Príncipe Real. Construído entre 1860 e 1864 para servir a rede de distribuição de água da cidade de Lisboa, conta com a protecção de 31 pilares e de um tecto abobadado. Está desactivado desde os anos 40 e pode ser visitado através do Museu da Água ou durante um espectáculo (é uma questão de verificar a programação). Há outras peças da Lisboa subterrânea a explorar, como as galerias romanas, que abrem uma vez por ano ao público, ou a Mãe d'Água das Amoreiras, que promove visitas livres e guiadas.

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Quantas vezes não passámos por ela sem lhe ligar, só porque vamos ali almoçar ao balcão de uma tasca ou comprar uma camisola numa loja da Baixa? Mas a Igreja de São Domingos, onde de vez em quando acontecem concertos ou exposições, merece todas as paragens do mundo. Esta igreja mostra orgulhosamente as suas cicatrizes (não todas), como quem quer rejeitar a estética das cirurgias plásticas. Começou por ser um convento mandado construir por D. Sancho II, sofreu três inundações e alguns terramotos e ainda o grandioso incêndio de 1959. Quando reabriu, em 1994, mostrou uma das mais originais opções de recuperação do planeta: as paredes foram deixadas sem pintura, as estátuas mantêm-se incompletas, as pedras quebradas e o tecto e altares foram pintados em tons de terracota. 

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  • Campo Grande/Entrecampos/Alvalade

Apesar de estar preservado em formol, o pickle humano da Faculdade de Medicina viralizou. Sites como Atlas Obscura, Wired ou Dangerous Minds partilharam a foto e a história de Diogo Alves, dando ao assassino do Aqueduto das Águas Livres fama internacional – nas redes, várias pessoas fizeram notar as semelhanças do primeiro serial killer português com Thom Yorke, vocalista dos Radiohead, no teledisco de “No Surprises”. A cabeça decepada está no Teatro Anatómico da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

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  • Chiado/Cais do Sodré

Está em vários guias como um sítio obrigatório e, no entanto, quantos de nós não passamos pela montra do número 418 na Rua de São Bento sem nos determos? Se calhar é um sítio tão familiar que se tornou invisível, como o quadro da nossa sala de estar ou o aperto de mão do tio Germano, a quem faltam dois dedos. A loja do Depósito da Marinha Grande tem das mais memoráveis criações da fábrica centenária, copos, frascos, garrafas, objectos de decoração, candeeiros e até material de laboratório. 

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Pode parecer mentira, mas nesta sala da Praça do Comércio, as provas de vinho já foram gratuitas. Podia-se entrar, sentar, explorar algumas garrafas, e sair com o conhecimento apurado e com o corpo ligeiramente mais contente. Com o crescimento do turismo, tal ideia deixou de ser sustentável, pelo que a ViniPortugal achou que o prazer deveria ter um preço. O que nos parece justo, diga-se. Mas calma: não há aqui exorbitâncias. As provas livres começam nos 4€ e as temáticas nos 15€. Há, ainda, provas com oradores convidados (por volta de 10€, dependendo do evento), que prometem fazê-lo sair da sala a sentir todos os taninos, frutos vermelhos e adstringências do Portugal rural.

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  • Santa Maria Maior

É uma imagem comum nos meses mais quentes: um grupo de turistas em admiração profunda frente à Manteigaria Silva enquanto um guia explica o que é cada um dos produtos expostos, como se fosse um episódio ao ar livre da Rua Sésamo. “Isto é um bacalhau, vem da Noruega.” Percebe-se porquê. A Manteigaria é uma loja-museu com tudo o que há de bom para beber e mastigar em Portugal. Fundada em 1956, é uma das últimas mercearias finas da Baixa e, apesar de não fazer parte do roteiro habitual de compras dos lisboetas, vale uma visita.

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  • Castelo de São Jorge

Poderá ser este o motivo para a re-reconquista de Lisboa? Sabemos bem que o Castelo de São Jorge e áreas circundantes são normalmente atractivas para turistas sedentos. Mas o monumento merece ser descoberto e visitado, até mesmo como lugar de contemplação. A entrada é gratuita para os lisboetas – basta levar um comprovativo de residência – e permite aceder à esplanada, calcorrear as pedras supracentenárias e entrar num dos espaços mais curiosos da cidade: a Câmara Escura do Castelo. De uma pequena abertura e a partir de um sistema óptico de lentes e espelhos, entra luz suficiente para vermos Lisboa inteira e em tempo real (há aqui movimento) reflectida numa superfície côncava. Mas como ensinam os princípios da fotografia, esta cidade que aqui aparece (e que parece uma pintura) surge ao contrário.

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  • Castelo de São Jorge

Só um turista com muita sorte vai à Casa do Alentejo ver os azulejos e apanha um baile no salão do primeiro piso. Ainda assim, esta casa vale sempre a visita, mesmo sem música à mistura. Esta é a verdadeira casa da região do Alentejo em Lisboa, onde outrora funcionou o Palácio Alverca com a sua decoração neo-árabe no primeiro andar e escadaria. No pátio interior do primeiro andar, há, ainda, a Taberna da Casa do Alentejo, com turistas, mas também muitos locais, além de música de intervenção a combinar com migas, queijos, tostas e petiscos. Mas tínhamos falado de bailes, não era? Antes aconteciam sempre ao domingo. Agora, o dia da semana mantém-se, mas não a regularidade. É ir acompanhando a agenda, como bom lisboeta que é, para se juntar nesta tradição deliciosamente demodée da matinée.

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  • São Vicente 
Ir à Sala dos Gessos
Ir à Sala dos Gessos

Não tem vagar para ir ao Terreiro do Paço ver a estátua de D. José I? Felizmente pode ver o molde em gesso a partir do qual se fez o rei e o cavalo num sítio coberto e com ar condicionado. A Sala dos Gessos pertence ao Museu Militar e para além da mítica obra de Joaquim Machado de Castro tem o molde das estátuas de Sousa Martins (a do Campo Mártires da Pátria) ou Afonso de Albuquerque (da Praça do Império) num total de 12 figuras. A Sala dos Gessos pode ser visitada apenas de terça a sexta-feira (das 10.30 às 12.00) e das 14.30 às 16.00), mediante marcação e a entrada é gratuita.

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13. Tirar uma foto no melhor “jardim” de Lisboa

É um pagode para qualquer turista que fale português: Jardim das Pichas Murchas. Os guias turísticos a caminho do Castelo fazem aqui um pit stop para risinhos nervosos e fotografias. E há ainda quem se atreva a traduzir para inglês o significado da placa. Mas vamos à história: o jardim, que na verdade é um largo, foi baptizado pelo calceteiro Carlos Vinagre porque era o sítio onde os cidadãos séniores do bairro se sentavam a praticar a sua desocupação. A placa foi colocada por brincadeira, a Junta não gostou e mandou tirar, mas a vontade da população foi mais forte e o nome mantém-se para gáudio de locais e turistas. O “jardim” fica no cruzamento da Rua de S. Tomé com a Rua do Salvador.

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  • Campo de Ourique

Não é visto como uma atracção turística pelos locais e percebe-se porquê: é muito provável que todas as visitas a este sítio sejam pelo pior dos motivos. Mas o que leva os turistas ao Cemitério dos Prazeres? Aqui estão alguns dos melhores exemplos de arte fúnebre e os edifícios mais curiosos de Lisboa, como o mausoléu dos Duques de Palmela, uma pirâmide de inspiração maçónica onde estão sepultadas mais de 200 pessoas. Tem ainda uma vista privilegiada para o Tejo e uma das maiores concentrações de ciprestes da Europa.

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  • São Vicente 

O Panteão Nacional é um dos monumentos da cidade mais visitados por turistas, a par do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém. O edifício, que resulta das famosíssimas obras de Santa Engrácia, está mesmo no centro da cidade e é a última morada de uma série de portugueses célebres. Se calhar está na altura de ir lá dizer olá a Amália, Eusébio, Almeida Garrett ou Humberto Delgado. Se a vida lhe correr bem – mas mesmo muito bem – quem sabe se um dia não vai ser vizinho deles. No zimbório há uma das melhores (e mais negligenciadas) vistas de Lisboa. Diga lá, qual foi a última vez que foi a um zimbório?

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  • Santa Maria Maior

Nasceu em 1883, é um pouco fria e desconfortável, diga-se, mas além de ser a mais antiga biblioteca municipal da cidade, é também uma das mais bonitas. Já faz parte de alguns guias turísticos, embora não esteja, obviamente, no topo dos imóveis de interesse público mais procurados. Sofreu uma grande remodelação e, em 2006, reabriu ao público de cara lavada e muito charme. É, sem dúvida, uma biblioteca de e para a comunidade, por isso, se não vive no bairro, talvez se sinta um pouco turista por aqui. E por que não?

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As intermináveis filas de turistas passeio fora quase nos fizeram esquecer que este é um transporte público compatível com os cartões VIVA e o passe Navegante. Monumento Nacional, foi inaugurado em 1902, uma obra de Raoul Mesnier de Ponsard, onde se destacam os trabalhos de filigrana em ferro fundido (e cada andar é diferente) e uma cabine feita em madeira e latão.

  • Santa Maria Maior

Não vale a pena armar-se em turista sem segurar um copo da bebida mais popular de Lisboa. Tem duas hipóteses populares e muito próximas: a Ginjinha Espinheira, a primeira, com morada no Largo de São Domingos, e esta “sem rival” (que é como quem diz), fundada pelo avô dos actuais donos. São lugares para turistas, mas onde os locais fincam pé como se estivessem a marcar o território. Perfeito para aquecer numa passagem rápida de uma noite de Inverno.

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  • Alcântara

Inaugurada em 1966, a Ponte 25 de Abril tem 14 pilares, mas aqui o pilar que interessa fica na Avenida da Índia, nas traseiras do Village Underground. Agora que já ninguém se perde, um dos aspectos mais essenciais: esta é uma atracção turística de Lisboa que leva os visitantes ao interior deste pilar para uma experiência sensorial que lhe diz tudo o que precisa de saber (e sentir) sobre uma das pontes mais bonitas do mundo, ela própria um dos postais turísticos da cidade.

  • Santa Maria Maior

Turistas e casas de fado? Sim, são par frequente, já que este é um must-do de todos os roteiros possíveis e imaginários. Mas ouvir fado ao vivo, vadio ou não, é também ritual e serve para limpar a alma. Se for ao Bairro Alto e à Tasca do Chico, vai certamente encontrar muitos turistas, mas o espírito local está lá, sempre, quanto mais não seja na presença do dono, o Chico. É chegar cedo, ver se chega a sorte de ter uma mesa e deixar a música fazer a sua parte, acompanhada de um bom copo de tinto.

Arme-se em turista

  • Museus

Edifícios relativamente novos, com linhas que são uma perdição para a fotografia, e clássicos da cidade que patrocinam autênticas viagens no tempo. Destacam-se ainda os inúmeros e regulares workshops e eventos que promovem para adultos e crianças, bem como as cafetarias e brunches que também são pequenas obras de arte. Deixamo-lo com uma visita guiada aos melhores museus em Lisboa, dando razões para redescobrir endereços obrigatórios e ideias para explorar colecções surpreendentes e que, por vezes, passam despercebidas. A lista de melhores museus em Lisboa não pára de crescer e nós estamos cá para actualizá-la.

  • Museus

Conhece as propriedades do pó de múmia? E o nome da imagem do arcanjo que seguiu nas naus portuguesas em jeito de protecção? Acha que os cravos são (apenas) flores? Está preparado para atender um lavagante? Ok, chega de perguntas que só adiam ainda mais a satisfação da sua curiosidade. Se não faz ideia do que tem andado a perder nos museus em Lisboa, nós recenseamos a matéria e oferecemos uma bússola segura. Os acervos enchem-se de autênticas pérolas com peças para todos os gostos, e nada como um breve roteiro para não se perder nos melhores corredores da cidade. É obrigatório conhecer estas obras de arte.

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  • Museus

Não é ao domingo de manhã, sexta à tarde ou segunda de madrugada. Estes museus são de entrada gratuita sempre que a porta está aberta ao público (em alguns terá de marcar). E a busca pela descoberta de um museu gratuito também pode significar a descoberta de um museu que nem sempre está nas bocas do mundo e, como sabe, o conhecimento não ocupa lugar, por isso quanto mais melhor. Fomos à procura dos museus grátis em Lisboa e concelhos vizinhos e descobrimos algumas pérolas museológicas. Da sala de operações do Movimento das Forças Armadas ao museu que respira dinheiro, há muito para aprender sem gastar um tostão. Aventure-se nestes museus grátis em Lisboa e arredores.

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