Entre conteúdos originais e reaproveitados (ou mesmo ressuscitados), a Netflix está sempre a testar a nossa resistência ao chamamento do binge watching. Títulos como Gambito de Dama, Ozark, Stranger Things ou The Crown são um espelho do melhor que a plataforma consegue produzir. Outros, como Breaking Bad e Arrested Development, são óptimos exemplos de como levar audiência ao seu moinho (o streaming) por meios comprovados. A apontar-lhe alguma coisa, será a oscilação de conteúdos: estamos sempre na vertigem de ver a nossa série favorita desaparecer do catálogo. Por isso, não perca tempo: prepare-se para uma maratona e siga estas sugestões das melhores séries para ver na Netflix.
★★☆☆☆
Quando Crónica dos Bons Malandros, de Mário Zambujal, foi publicado, em 1980, Portugal era um país muito diferente do que é hoje, e Lisboa uma outra cidade, com muito pouco a ver com a dos nossos dias. Os malandros cómicos e falhados da quadrilha de Renato, “O Pacífico”, foram concebidos por Zambujal como emanando dessa Lisboa de então, desenhados no limite da caricatura, uns “pintas” do Bairro Alto e do Cais do Sodré armados “em gangsters de Chicago”, como cantava Rui Veloso no filme que, em 1984, Fernando Lopes rodou, e que captou bem essa dimensão de banda desenhada da história e dos seus heróis.
A nova versão de Crónica dos Bons Malandros (RTP1, Qua 21.00), rodada no Portugal e na Lisboa de 2020, e também passada nos anos 80, falha em apresentar esse sentido da época, recriar essa suja, agitada e genuína cidade pós-25 de Abril, essencial para a veracidade e o bom funcionamento da história; e falta às personagens o rasgo castiço, a tipicidade um tudo nada exagerada da “Lísbia” (como se diz em “alfacinhês”) que os defina e distinga uns dos outros e que, de novo, Fernando Lopes compreendeu e realçou no filme. Estes novos malandros são tão desenxabidos e incaracterísticos como a cidade contemporânea, a tentar fingir que é a de há 40 anos, por onde circulam.