Entre conteúdos originais e reaproveitados (ou mesmo ressuscitados), a Netflix está sempre a testar a nossa resistência ao chamamento do binge watching. Títulos como Gambito de Dama, Ozark, Stranger Things ou The Crown são um espelho do melhor que a plataforma consegue produzir. Outros, como Breaking Bad e Arrested Development, são óptimos exemplos de como levar audiência ao seu moinho (o streaming) por meios comprovados. A apontar-lhe alguma coisa, será a oscilação de conteúdos: estamos sempre na vertigem de ver a nossa série favorita desaparecer do catálogo. Por isso, não perca tempo: prepare-se para uma maratona e siga estas sugestões das melhores séries para ver na Netflix.
★★★☆☆
Rumer Godden, a autora de Black Narcissus, não tinha simpatias pelo filme sumptuosamente melodramático que Michael Powell e Emeric Pressburger tiraram do seu livro em 1947 (em Portugal, Quando os Sinos Dobram). Em boa parte, por ter sido rodado em estúdio e não nos Himalaias, onde a história decorre, e por apostar no exotismo e não na autenticidade. Godden teria ficado mais satisfeita com a nova versão de Black Narcissus (Disney +), parcialmente feita no Nepal e com actores indianos no elenco.
Black Narcissus segue um quinteto de freiras, liderado pela orgulhosa irmã Clodagh (Gemma Arterton), que vai instalar um convento e uma escola num palácio nos Himalaias. Este foi, décadas antes, habitado pelas concubinas de um poderoso general, e a atmosfera, cheia de alusões sexuais, aliada ao frio, ao vento constante e à altitude, que assusta e deslumbra, vão pesar sobre as freiras. A realizadora Charlotte Bruus Christensen percebe bem os temas da história – fé contra desejo, espiritualidade contra sensualidade, os limites do idealismo, o drama da vocação falhada da irmã Clodagh –, embora exagere no constante sublinhar da tensão erótica. O filme é bem mais recatado na sugestão dos sobressaltos da carne, e o que este Black Narcissus ganha em realismo perde em subtileza.