Entre conteúdos originais e reaproveitados (ou mesmo ressuscitados), a Netflix está sempre a testar a nossa resistência ao chamamento do binge watching. Títulos como Gambito de Dama, Ozark, Stranger Things ou The Crown são um espelho do melhor que a plataforma consegue produzir. Outros, como Breaking Bad e Arrested Development, são óptimos exemplos de como levar audiência ao seu moinho (o streaming) por meios comprovados. A apontar-lhe alguma coisa, será a oscilação de conteúdos: estamos sempre na vertigem de ver a nossa série favorita desaparecer do catálogo. Por isso, não perca tempo: prepare-se para uma maratona e siga estas sugestões das melhores séries para ver na Netflix.
★★★★☆
As pessoas em geral (e os americanos em especial) gostam das histórias em que um outsider com um talento especial triunfa num meio que o estranha ou hostiliza. É esta a matriz narrativa de Gambito de Dama (Netflix), adaptado do livro de Walter Tevis (1983), onde Anya Taylor-Joy dá vida a Beth Harmon, uma órfã lacónica, introvertida e solitária que, aos nove anos, nos EUA da década de 60, aprende a jogar xadrez com o zelador do orfanato e revela-se um prodígio, impondo-se nacionalmente e depois a nível mundial. O habitat de Beth é o tabuleiro de xadrez e os calmantes são o seu combustível.
Gambito de Dama é poderosamente character driven, fixada na personagem principal, que é a sua força motriz. A caracterização emocional e mental de Beth enquanto génio xadrezista, com as suas carências, dependências e idiossincrasias, é perfeita, tal como o são a recriação da época, a pintura do ecossistema do xadrez e dos que o habitam, e a verosimilhança das partidas (o Grande Mestre Garry Kasparov foi um dos consultores). Anya Taylor-Joy é assombrosa de subtileza, magnetismo e sensualidade de ninfeta desprendida dos seus encantos a compor a peculiaríssima Beth. Para o fim, a história cose-se com linhas mais previsíveis, mas é coisa de somenos. Uma das melhores séries do ano.