Entre conteúdos originais e reaproveitados (ou mesmo ressuscitados), a Netflix está sempre a testar a nossa resistência ao chamamento do binge watching. Títulos como Gambito de Dama, Ozark, Stranger Things ou The Crown são um espelho do melhor que a plataforma consegue produzir. Outros, como Breaking Bad e Arrested Development, são óptimos exemplos de como levar audiência ao seu moinho (o streaming) por meios comprovados. A apontar-lhe alguma coisa, será a oscilação de conteúdos: estamos sempre na vertigem de ver a nossa série favorita desaparecer do catálogo. Por isso, não perca tempo: prepare-se para uma maratona e siga estas sugestões das melhores séries para ver na Netflix.
★★☆☆☆
Diz-se que por causa de Cenas da Vida Conjugal (1973), a série de televisão de Ingmar Bergman, depois remontada para cinema, a percentagem de divórcios, e de casais à procura de terapia, aumentou na Suécia. Não estamos a ver – tudo pelo contrário – acontecer o mesmo nos EUA devido a Scenes From a Marriage (HBO), a série em que Hagai Levi (Terapia) pretende revisitar e rever a de Bergman, com Jessica Chastain e o indistinto Oscar Isaac no equivalente das personagens de Erland Josephson e Liv Ullmann no original. Após Cenas da Vida Conjugal, muita água passou debaixo das pontes da representação do colapso conjugal na televisão e no cinema, sempre sob a influência tutelar, inescapável, directa ou enviesada daquela, nomeadamente nos filmes de rupturas sentimentais e domésticas de Woody Allen, o melhor epígono do mestre sueco. Apesar da sua pose visual e dramatúrgica toda cool, e do revisionismo de género, para estar em sintonia com os tempos (o marido é agora o componente mais vulnerável e profissionalmente menor do casal), Scenes From a Marriage pouco mais faz do que baralhar e tornar a dar a vulgata do psicodrama da implosão marital. E está para a série de Ingmar Bergman como um compostinho primeiro andar esquerdo para um luxuoso apartamento de cobertura.