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Dez bandas indie pop germânicas

A Alemanha, que é tão eficaz a vender os seus automóveis e electrodomésticos, não parece ser capaz de internacionalizar a sua indie pop. Aqui se sugerem algumas bandas para ouvir enquanto aguarda pelo resultado das eleições deste domingo

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É um caso difícil de explicar: a indie pop escandinava corre mundo e até a minúscula Islândia (332.000 habitantes, 142.º PIB mundial) conseguiu afirmar-se como uma potência musical, mas a Alemanha (82 milhões de habitantes, 5.º PIB mundial) é uma área quase em branco no mapa da indie pop global.

Os Kraftwerk têm hoje mais prestígio do que nunca e até já tiveram direito a exposição no MoMA de Nova Iorque, os Scorpions venderam mais de 100 milhões de discos de baladas azeiteiras, os Rammstein têm fãs de Malmö a Málaga, os Tokio Hotel fazem suspirar adolescentes de Moscovo a Sydney, mas a indie pop alemã permanece quase invisível. Bandas não faltam e talento também não, como pode comprovar-se pela amostra.

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Dez bandas indie pop germânicas

The Notwist

Origem: Weilheim in Oberbayern, 1989
Alguns álbuns: The Notwist (1991), Nook (1992), Shrink (1998), Neon Golden (2002), Close to the Glass (2014)

A banda foi fundada pelos irmãos Acher, Markus (guitarra e voz) e Micha (baixo), e por Martin Messerschmid (bateria), entretanto substituído por Andi Habert. O som agressivo, combinando metal e punk hardcore, dos álbuns The Notwist e Nook foi dando lugar, sobretudo a partir de Neon Golden, a uma pop em que a electrónica desempenha papel cada vez mais relevante e em que dominam ambientes serenos. Num teste de olhos vendados, ninguém adivinharia que os álbuns The Notwist e Close To the Glass são obra da mesma banda.

[“Consequence”, do álbum Neon Golden]

Tocotronic

Origem: Hamburgo, 1993
Alguns álbuns: Digital Ist Besser (1995), Wir Kommen Um Uns Zu Beschweren (1996), KOOK (1999), Kapitulation (2007), Tocotronic (Das Rote Album) (2015)

Com 11 álbuns editados, dos quais um chegou ao n.º 1 do top alemão e quatro chegaram ao n.º3, os Tocotronic são pouco conhecidos no mundo não-germanófono. O apreço de que desfrutam na Alemanha não é unânime, uma vez que têm tomado sistematicamente posição contra o nacionalismo e o neo-nazismo e têm participado em festivais e iniciativas de promoção do interesse dos jovens pela política, de apoio a vítimas de violência sexual e em favor do acolhimento de refugiados. A sua canção “Die Erwachsenen” (Os adultos) proclama logo na primeira linha: “Não se pode confiar nos adultos”.

 [“Die Erwachsenen”, do álbum Das Rote Album]

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Tarwater

Origem: Berlim, 1995
Alguns álbuns: 11/6 12/10 (1996), Silur (1998), Spider Smile (2007), Adrift (2014)

O duo Bernd Jestram e Ronald Lippock fez uma trajectória análoga à dos The Notwist, passando do punk rock a uma pop electrónica serena (mas fracturada e plena de “acidentes” e bizarrias) e, tal como os The Notwist, acabaram por ingressar nas fileiras da editora Morr Music.

[“The Evening Pilgrims”, do álbum Adrift (2014)]

Sportfreunde Stiller

Origem: Germering (perto de Munique), 1996
Alguns álbuns: So Wie Einst Real Madrid (2000), Die Gute Seite (2002), Burli (2004), La Bum (2007), Sturm und Stille (2016)

Metade do nome da banda – Stiller – veio do treinador dos membros da banda quando jogavam futebol no clube da sua cidade de Germering, a outra metade significa “amigos no desporto”. Não é de estranhar, pois, que o seu primeiro álbum se intitule So Wie Einst Real Madrid, o que significa “como o Real Madrid”. Enquanto este álbum passou despercebido, o segundo, Die Gute Seite, subiu até ao 6.º lugar do top alemão e o terceiro até ao lugar n.º 2. Em 2006 a banda foi chamada a compor o hino da selecção alemã para o campeonato do mundo de futebol desse ano, mas, para desgosto dos alemães, a profecia de um quarto título mundial contida no título, “’54, ’74, ’90, 2006”, não se cumpriu. De qualquer modo, a canção reforçou a visibilidade dos Sportfreunde Stiller e os discos seguintes têm trepado até ao 1.º ou 2.º lugar do top alemão. Claro que, uma vez que cantam em alemão, a sua fama restringe-se ao mundo germanófono (também são populares na Áustria).

[“Ein Kompliment”, do álbum Die Gute Seite]

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Velveteen

Origem: Frankfurt-am-Main, meados da década de 1990
Alguns álbuns: Keep It To Yourself (2002), The Outdoor Method (2004), Home Waters (2007), 27 (2010), Gather & Reset (2016)

Os Velveteen cantam em inglês, a sonoridade da banda tem afinidades com os Death Cab For Cutie e o vocalista, Carsten Schrauff, faz lembrar Benjamin Gibbard, dos ditos DCFC. Na verdade, as semelhanças são suficientes para que, em 2008, uma brincadeira na internet que fez passar Home Waters, o terceiro álbum dos Velveteen, como sendo uma cópia pirata do novo álbum dos DCFC, ludibriou milhares de fãs da banda americana. Nem assim a sua carreira passou para um patamar superior e continuam a editar discos por sua própria conta (queixam-se de que tiveram péssimas experiências com as editoras). Apesar do equívoco de 2008, os Velveteen não são um sucedâneo de DCFC e merecem ser escutados por si mesmos.

[“The Drummer Goes Berserk”, do álbum Home Waters]

Lali Puna

Origem: Weilheim in Oberbayern/Munique, 1998
Alguns álbuns: Tridecoder (1999), Scary World Theory (2001), Faking the Books (2004), Our Inventions (2010)

A cantora Valerie Trebeljahr nasceu na Coreia do Sul, cresceu em Portugal e fez parte de uma girls band antes de formar, em 1998, os Lali Puna com Markus Acher (guitarrista dos The Notwist, que nos Lali Puna toca baixo e teclados). O grupo passaria depois a quarteto com a entrada de Florian Zimmer (teclas, depois substituído por Christian Heiss) e Christoph Brandner (bateria). O som da banda assenta na voz de Trebeljahr e numa pulsação minimal de electrónica e samples e encontrou o poiso ideal no catálogo da Morr Music.

[“Faking the Books”, do álbum Faking the Books]

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Wir Sind Helden

Origem: Hamburgo, 2000
Alguns álbuns: Die Reklamation (2003), Von Hier An Blind (2005), Soundso (2007), Bring Mich Nach Hause (2010)

A cantora Judith Holofernes (um nome artístico que junta, com um misto de malícia e crueldade, o general babilónio Holofernes à intrépida judia Judite que o terá decapitado, a darmos crédito às Sagradas Escrituras) já tinha carreira e um álbum em nome próprio quando fundou os Wir Sind Helden (Nós Somos Heróis), um nome que pretende ser irónico e troçar do facto de, nas confortáveis sociedades ocidentais, o termo “herói” estar muito desvalorizado (já Bowie cantava que “podemos ser heróis só por um dia”). No início, a banda tinha um som mais cru, expansivo e agitado, mas com o tempo foi tornando-se mais suave e introspectivo, ao mesmo tempo que os teclados iam dando lugar a um largo espectro de instrumentos acústicos. Os quatro álbuns da banda, que se dissolveu em 2012, alcançaram o 1.º ou o 2.º lugar do top alemão e tiveram desempenho similar no top austríaco.

[“Nur Ein Wort”, do álbum Von Hier An Blind]

Kettcar

Origem: Hamburgo, 2001
Alguns álbuns: Du und Viel von Deinen Freuden (2002), Von Spatzen und Tauben, Dächern und Händen (2005), Sylt (2008), Zwishen den Runden (2012)

Em boa hora Marcus Wiebusch (voz e guitarra) e Reimer Bustorff (baixo) decidiram que o ska praticado pela sua banda Rantanplan não era bem o que queriam fazer e se juntaram a Erik Langer (guitarra), Lars Wiebusch (teclados) e Frank Tirado-Rosales (bateria, depois substituído por Christian Hake) para formar os Kettcar, que, não fosse a língua, passariam facilmente por uma banda indie americana.

[“Landungsbrücken Raus”, do álbum de estreia, Du und Viel von Deinen Freuden]

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ABAY

Alguns álbuns: Blank Sheets (2014), Everything’s Amazing and Nobody Is Happy (2016)

O percurso de Aydo Abay, nascido, de pais turcos, em Waldbröl, passou pelos Blackmail, uma banda que fundou em Koblenz em 1994 e de que foi o frontman até à sua saída em 2008; entretanto, Abay fundara em 2002 os KEN, banda que manteve até 2010, passando depois a apresentar-se como ABAY. Os Blackmail e os KEN, que também são merecedores de atenção, são mais rock e tensos, os discos sob o nome de ABAY são mais pop e distendidos. Há que reconhecer que o título Everything’s Amazing and Nobody Is Happy é uma boa descrição dos nossos tempos.

[“1997 (Exit A)”, do álbum Everything’s Amazing and Nobody Is Happy”]

BOY

Origem: Zurique/Hamburgo, 2007
Alguns álbuns: Mutual Friends (2011), We Are Here (2015)

A suíça germanófona Valeska Steiner (voz) e a alemã Sonja Glass (baixo) encontraram-se em Hamburgo em 2005 mas limitaram a sua actividade a concertos ao vivo até que, em 2011, Herbert Grönemeyer, da Grönland Records, as incentivou a gravar um disco. Em boa hora o fez, pois o mundo ficou a conhecer uma banda de pop intimista e despretensiosa, que casa com acerto instrumentos acústicos e electrónica. A banda ganhou uma inesperada visibilidade quando “Little Numbers” – um hino luminoso com afinidades com os Death Cab For Cutie – foi usado pela Lufthansa para um anúncio.

[“Little Numbers”, de Mutual Friends]

Indie pop à volta do mundo

  • Música
  • Rock e indie

A actuação do sueco José González na Aula Magna, na quarta-feira 3 de Maio, serve para lembrar que, felizmente, os contributos da Escandinávia para a música pop não se circunscrevem aos ABBA e aos Roxette.

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