Talvez seja preciso ser carioca, ou pelo menos brasileiro, ou, vá lá, católico, para sentir empatia com o verso “Da janela vê-se o Corcovado/ O Redentor, que lindo”. A estátua de 38 metros de altura do Cristo Redentor que se ergue no alto dos 700 metros do morro do Corcovado poderá ser um ícone do Rio de Janeiro e da fé cristã brasileira, mas, do ponto de vista escultórico, filia-se menos em Michelangelo do que no brutalismo soviético que, aliás, entrou em voga na altura em que a estátua foi erguida, entre 1922 e 1931, e o adjectivo “lindo” dificilmente se lhe aplica.
A canção foi composta em 1960 por Antônio Carlos Jobim e quando, mercê da febre da bossa nova nos EUA, ganhou uma versão em língua inglesa, da autoria de Gene Lees, este entendeu que o Redentor não diria nada a quem não fosse brasileiro e removeu o Cristo Redentor, o Corcovado e o Rio de Janeiro: a canção passou a chamar-se “Quiet Nights of Quiet Stars” (por vezes apenas “Quiet Nigths”), a letra passou a sugerir uma atmosfera abstracta de serenidade e apaziguamento e a janela de onde se via o Corcovado passou a dar “para as montanhas e para o mar”.
Nos 59 anos entretanto transcorridos, a canção tem sido alvo de versões por gente tão diversa quanto Evertything But the Girl, a soprano Karita Mattila, Senõr Coconut & His Orchestra e o duo Andrea Bocelli & Nelly Furtado (numa interpretação pavorosa), mas esta lista ficar-se-á sobretudo pelo jazz.
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