Musica, Jazz, Ella Fitzgerald
©Billedbladet NÅ/P. RømmingElla Fitzgerald
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Dez versões de “Desafinado”

Uma canção que defendia a bossa nova dos seus detractores foi convertida em standard pelos músicos de jazz.

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A bossa nova ainda mal despontara e já enfrentava a reprovação dos sectores mais conservadores, sendo entendida como “música para cantores desafinados” aos ouvidos de quem não percebi a sua inovação no plano harmónico, resultante, em boa parte, da “contaminação” do samba pelo jazz. Antônio Carlos Jobim (música) e Newton Mendonça (letra) logo deram resposta, repassada de ironia, à crítica, com “Desafinado”: “Se você disser que eu desafino, amor/ Saiba que isso em mim provoca imensa dor/ Só privilegiados têm ouvido igual ao seu/ Eu possuo apenas o que Deus me deu// Se você insistir em classificar/ Meu comportamento de anti-musical/ Eu, mesmo mentindo, devo argumentar/ Que isto é bossa nova, que isto é muito natural”. É de realçar que, ao mesmo tempo que defende a validade estética do novo género musical, a letra estabelece também um paralelo entre a harmonia musical e a harmonia nas relações humanas.

A popularidade que “Desafinado” conquistou nos EUA levou ao surgimento de duas versões em língua inglesa, “Slightly Out of Tune”, da autoria de Jon Hendricks, e “Off Key”, de Gene Lees.

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Dez versões de “Desafinado”

João Gilberto

Ano de gravação: 1958
Álbum: Chega de Saudade (Odeon) A canção teve o seu primeiro registo por João Gilberto, a 10 de Novembro de 1958, e foi incluída no seu álbum de estreia, lançado no ano seguinte (ver Dez versões de “Chega de Saudade”).

Dizzy Gillespie

Ano de gravação: 1961
Álbum: A Musical Safari (Cheri Booman)

A dupla Laurindo Almeida e Bud Shank andava a cruzar jazz e música brasileira desde 1953 e alguns ecos do sucesso logrado pelo disco de estreia de João Gilberto tinham chegado aos EUA, mas o meio musical levou algum tempo a despertar. O trompetista Dizzy Gillespie, que tinha um fraquinho por música latina, foi dos primeiros a reparar em “Desafinado” e inclui-a no programa do concerto que deu no Monterey Jazz Festival de 1961, com um quinteto formado por Leo Wright (saxofone), Lalo Schifrin (piano), Bob Cunningham (contrabaixo) e Chuck Lampkin (bateria). Porém, o renome de Gillespie foi insuficiente para popularizar “Desafinado”, até porque o registo da actuação só seria editado 13 anos depois.

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Stan Getz & Charlie Byrd

Ano de gravação: 1962
Álbum: Jazz Samba (Verve)

Quando Charlie Byrd, de regresso do Brasil, mostrou a bossa nova ao saxofonista Stan Getz e decidiram gravar um álbum em torno daquele material – registado a 13 de Fevereiro de 1962 – não esperavam que Jazz Samba se tornasse num fenómeno de vendas. Porém, o single “Desafinado” subiu alto nos tops da Billboard, pelo menos para os padrões usuais no jazz (4.º lugar no top easy listening, 15.º no top pop), e à medida que a febre da bossa nova alastrava, o álbum trepou, em 1963, até ao n.º 1 do top de LPs, destronando A Hard Day’s Night, dos Beatles. A coroar o sucesso, Getz recebeu um Grammy pela sua interpretação em “Desafinado”. Na gravação de Jazz Samba participaram Gene Byrd (guitarra e contrabaixo), Keter Betts (contrabaixo) e Buddy Deppenschmidt e Bill Reichenbach (bateria e percussão).

Charlie Byrd

Ano de gravação: 1962
Álbum: Bossa Nova Pelos Pássaros (Riverside)

O sucesso de Jazz Samba levou Charlie Byrd a regressar a estúdio em Outubro para mais um álbum de inspiração bossa nova, feito de versões extremamente concisas – a mais longa dura 2’31 – e com título em português, uma ousadia que dá conta da intensidade do interesse americano por tudo o que tivesse a ver com o Brasil.

Em “Desafinado”, Byrd é acompanhado apenas por Keter Betts (contrabaixo) e Buddy Deppenschmidt e Bill Reichenbach (bateria e percussão), ainda que noutras faixas tenha o complemento de uma orquestra dirigida por Walter Raim.

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Coleman Hawkins

Ano de gravação: 1962
Álbum: Desafinado (Impulse!)

Na corrida à bossa nova um dos primeiros a chegar foi um veterano: o saxofonista Coleman Hawkins entrou no estúdio de Rudy Van Gelder em Setembro para registar um disco constituído essencialmente por êxitos da bossa nova (mais uma “Stumpy Bossa Nova” de sua lavra), com arranjos que Manny Albam teve a sabedoria de manter singelos.

O álbum foi gravado por Barry Galbraith ou Howard Collins (guitarra), Major Holley (contrabaixo), Eddie Locke (bateria) e Tommy Flanagan e Willie Rodriguez (percussão).

Quincy Jones

Ano de gravação: 1962
Álbum: Big Band Bossa Nova (Mercury)

Numa corrida tão frenética, seria inevitável que ocorressem colisões. Assim, no final de 1962 surgiram quase em simultâneo dois álbuns de bossa nova em formato orquestral e com o mesmo nome, um por Stan Getz e a orquestra de Gary McFarland, outro pela orquestra de Quincy Jones, com um elenco de luxo que incluía Phil Woods, Paul Gonsalves, Roland Kirk e Jim Hall – o solo de guitarra em “Desafinado” é deste último.

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Mavis Rivers & Shorty Rogers

Ano de gravação: 1962
Álbum: Mavis Meets Shorty (Reprise)

Os cantores também não faziam tenção de “perder o comboio” e Mavis Rivers, uma natural das Ilhas Samoa que se estabelecera nos EUA em 1955 e gravara três álbuns para Capitol e dois para a Reprise, juntou-se ao trompetista Shorty Rogers e a uma orquestra (arranjada e dirigida por Chuck Sagle) para gravar um programa de standards do American Songbook, no meio do qual se insinuou “Slightly Out of Tune”.

Ella Fitzgerald

Ano de gravação: 1962

“Slightly Out of Tune” também tentou uma senhora que nunca cantou fora de tom: Ella Fitzgerald juntou-se à orquestra de Marty Paich para gravar um single com “Slightly Out of One” no lado A e “Stardust Bossa Nova” no lado B.

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Stan Getz & João Gilberto

Ano de gravação: 1963
Álbum: Getz/Gilberto (Verve) Enquanto esta lufa-lufa tomava conta dos estúdios nos EUA, a 21 de Novembro de 1962, uma “embaixada brasileira”, integrando João Gilberto, Tom Jobim, Luís Bonfá, Sérgio Mendes e Roberto Menescal, actuou no Carnegie Hall, dando a ouvir aos nova-iorquinos, em primeira mão e em forma idiomática, a música que os levava embeiçados.

Desde Chega de Saudade, Gilberto gravara mais dois álbuns magistrais, O Amor, o Sorriso e a Flor (1960) e João Gilberto (1961); este último foi editado nos EUA como The Boss of Bossa Nova, um título ridículo mas que espelhava o estatuto de Gilberto. Era inevitável que Creed Taylor, o produtor da Verve, tentasse juntar o boss brasileiro e o boss americano da bossa e foi assim que em 18-19 de Março de 1963, Gilberto e Getz se encontraram em Nova Iorque para gravar Getz/Gilberto, com Tom Jobim (piano), Sebastião Neto (contrabaixo), Milton Banana (bateria) e a participação da voz de Astrud Gilberto, esposa de João, em duas canções.

O resultado excedeu as expectativas em termos comerciais: dois milhões de LPs vendidos só no ano do lançamento (1964) e três Grammys, um dos quais pelo Álbum do Ano (uma distinção nunca antes atribuída a um disco de jazz).

Clare Fischer

Ano de gravação: 1964
Álbum: Só Danço Samba (World Pacific)

O pianista e arranjador americano Clare Fischer começara a estudar aprofundadamente o jazz de influência latino-americana em 1958, formara o grupo de Latin Jazz Salsa Picante e fora dos primeiros a descobrir os discos de Elizeth Cardoso e João Gilberto. Assim, foi também dos primeiros a explorar o filão brasileiro, em parceria com Bud Shank (um paladino da música brasileira desde meados dos anos 50), registando os álbuns Bossa Nova Jazz Samba (1962, Pacific Jazz) e Brasamba! (1963). Após dois álbuns em seu nome em 1963, um com composições suas e outro com standards, Fischer regressou à toada brasileira com Só Danço Samba, repartido entre composições de Tom Jobim e composições suas em registo bossa nova. O quarteto que o gravou incluía Dennis Budimir (guitarra), Bob West (contrabaixo) e Colin Bailey (bateria).

O melhor da bossa nova (em versões)

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  • Música

Está longe de ser tão conhecida quanto “Garota de Ipanema”, mas é uma das grandes canções de Jobim. Eis algumas versões memoráveis.

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