“Samba de Uma Nota Só” tem em comum com “Desafinado” não só a dupla de autores – Antônio Carlos Jobim (música) e Newton Mendonça (letra) – como o facto de a letra aludir à própria natureza da canção. Enquanto “Desafinado” assumia que a bossa nova era “desafinada” – isto é, que as suas harmonias não respeitavam as regras da canção popular ortodoxa – “Samba de Uma Nota Só” proclama o seu minimalismo: “Eis aqui este sambinha/ Feito numa nota só/ Outras notas vão entrar/ Mas a base é uma só”. E tal como “Desafinado” fazia um paralelo entre a harmonia musical e a harmonia nas relações humanas, também “Samba de Uma Nota Só” conclui: “Quanta gente existe por aí/ Que fala, fala e não diz nada/ Ou quase nada/ Já me utilizei de toda escala/ E no final não sobrou nada/ Não deu em nada// E voltei p’ra minha nota/ Como eu volto para você/ Vou dizer em uma nota como eu gosto de você/ E quem quer todas as notas/ Ré-mi-fá-sol-lá-si-dó/ Fica sempre sem nenhuma/ Fique numa nota só”. É um verdadeiro prodígio de simplicidade, ironia e despretensão e é, com efeito, mais eloquente do que muitas letras que “falam, falam e não dizem nada”.
Como aconteceu com outras canções de Jobim, foi o cantor Jon Hendricks que preparou a versão em língua inglesa, “One Note Samba”.
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