A garota de Ipanema não é uma abstracção. É real e chama-se Heloísa Pinheiro. Em 1962, tinha 17 anos, era muito atraente e, nas suas rotinas – que incluíam a ida à praia –, passava amiúde pelo bar Veloso, no bairro chique de Ipanema, que também era frequentado por Antônio Carlos Jobim. Como o resto da clientela masculina, Jobim reparara nela e quando Vinicius de Moraes passou pelo Veloso, fez questão de chamar a atenção do amigo para a deslumbrante adolescente. Foi assim que a dupla compôs “Garota de Ipanema”, embora não in situ, num guardanapo, como rezam algumas lendas, mas nas respectivas casas.
Sem o saber, Heloísa Pinto inspirou uma das mais populares canções de sempre, só superada em número de versões por “Yesterday” (por azar, uma das mais dengosas canções dos Beatles). Muitas dessas versões não foram cantadas na forma original, mas na versão em língua inglesa, da autoria de Norman Gimbel – “The Girl from Ipanema” – e a maior parte é medíocre, para não dizer pior. A canção foi maltratada por gente tão variada quanto Madonna, Amy Winehouse, a banda de metal brasileira Sepultura e estrelas da K-pop.
Heloísa Pinto fez carreira como modelo (nomeadamente com aparições na Playboy brasileira), actriz de telenovela e apresentadora de programas televisivos de grande audiência e em 2009 lançou a sua própria marca de roupa. Antes, em 1996, já fundara a cadeia de boutiques Garota de Ipanema, o que lhe valeu um processo judicial pelos herdeiros de Jobim e Moraes, alegando que ter sido fonte de inspiração para a canção não lhe conferia o direito a usar o seu título. O tribunal decidiu em favor de Pinto, reconhecendo formalmente que era ela a “coisa mais linda/ Mais cheia de graça/ [...] Que vem e que passa/ No doce balanço, a caminho do mar”.
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