Entre conteúdos originais e reaproveitados (ou mesmo ressuscitados), a Netflix está sempre a testar a nossa resistência ao chamamento do binge watching. Títulos como Gambito de Dama, Ozark, Stranger Things ou The Crown são um espelho do melhor que a plataforma consegue produzir. Outros, como Breaking Bad e Arrested Development, são óptimos exemplos de como levar audiência ao seu moinho (o streaming) por meios comprovados. A apontar-lhe alguma coisa, será a oscilação de conteúdos: estamos sempre na vertigem de ver a nossa série favorita desaparecer do catálogo. Por isso, não perca tempo: prepare-se para uma maratona e siga estas sugestões das melhores séries para ver na Netflix.
★★☆☆☆
Se o escritor, argumentista e realizador espanhol Carlos Padial não ficou mais aliviado dos problemas que o levaram a consultar um psicanalista, pelo menos tirou daí um livro semi-autobiográfico e a série de televisão Doctor Portuondo (Filmin), a primeira produzida por uma plataforma de streaming independente europeia. Padial surge como Carlo, um ilustrador e DJ sempre sem cheta, neurótico e afligido por uma miríade de pequenas obsessões e manias, que é paciente do Dr. Portuondo do título, um psicanalista cubano exilado em Espanha, um ogre excêntrico, fanático de Freud e que não recua ante insultar aqueles que está a tratar.
A série tenta por um lado cultivar a comédia psiquiátrica a evocar Woody Allen, e pelo outro, um humor feito de nonsense e de gags físicos, que várias vezes escapa aos espectadores não-espanhóis (“o meu pai era um informático incapaz de afecto, natural de Múrcia e fanático de Nietzsche.”). Mas Doctor Portuondo tem três grandes problemas: personagens toscamente caricaturais, a começar pelo médico rugidor e pelo seu paciente choninhas, um enredo repetitivo e baixa voltagem cómica. Para gozar com a psicanálise e os psicanalistas, não chega pegar num clínico apopléctico e desbocado e em meia-dúzia de pacientes patuscos, juntá-los e agitar muito.