“Não é fácil encontrar cerejas nas cartas dos restaurantes”, reconhece Paulo Morais, o sushiman chef do Kanazawa, em Algés, um dos participantes desta rota. Não por ser um fruto difícil de trabalhar, mas precisamente por causa desta sazonalidade. O restaurante japonês de oito lugares apenas, que trabalha a sazonalidade e a proximidade com o cliente mês a mês, pegou nas cerejas para criar uma sopa fria, ao estilo de um gaspacho, que acompanha com cerejas e espargos grelhados. Pelo meio do menu de degustação, há uns pickles de cereja e no fim da refeição desconstruíram uma das poucas sobremesas típicas japonesas, a anmitsu, um género de salada de frutas em conserva com doce de feijão e uma bola de gelado. Aqui, em vez de fruta em calda há cerejas frescas a contrastar com quadradinhos perfeitos de meloa prensada, sorbet de meloa, um sponge cake de cereja, gel do mesmo fruto e um pó feito com a casca. No próximo mês, o sorbet de meloa é substituído pelo de cereja.
Além de Paulo Morais, há muitos mais chefs e restaurantes lisboetas que aceitaram o desafio de trabalhar o fruto português em pratos salgados ou doces, entre os quais chefs estrelados, como Alexandre Silva no seu Loco, o Feitoria de João Rodrigues, o Prado de António Galapito ou a Tasca e Peixaria da Esquina. “É uma forma muito simples de criarmos inovação. Algumas das criações resultantes desta parceria já se destacaram para lá da rota”, explica Paulo Fernandes, falando, por exemplo, do pastel de cereja, um vinagre balsâmico, bombons, licores, chá e até gin, tudo produtos que estão à venda até dia 16 numa banca no Mercado de Alvalade. Esta banca é também resultado de uma lógica reforçada de responsabilidade social nesta Campanha da Cereja do Fundão 2018, explica o presidente. “Optámos por cadeias mais curtas de comercialização. Queremos que exista uma relação mais directa com o consumidor final e que a relação não seja superficial”, refere.
Na terra da cereja haverá experiências durante todo o mês de Junho, da mais simples de colher cerejas na Serra da Gardunha, a vários passeios a pé, de bicicleta ou de balão. Se a cereja for o seu fruto predilecto da Primavera/Verão, pode até ir mais longe e apadrinhar uma cerejeira: pode ir plantá-la e se durante toda a vida a for visitando, como bom padrinho, pode colher os resultados dela, que se esperam grandes e doces.