Palavrão do ano: Sustentabilidade
Palavrão tanto pode ser uma palavra obscena, como um vocábulo difícil de pronunciar ou um termo empolado. Ora, sustentabilidade, sendo palavra que não presta para insultar ninguém, cumpre as restantes condições. Senão, vejamos. É um vocábulo com dificuldade fonética acima da média, como o atestam todas as pessoas que engolem o primeiro i e dizem sus-tenta-blidade; e é também um termo empolado e pomposo que se aplica genericamente a tudo e a mais um par de botas – desde que sejam botas produzidas com materiais orgânicos e segundo procedimentos amigos do ambiente, claro está.
Mais que palavra do ano, sustentabilidade é portanto o palavrão do momento. Em teoria, diz-se sustentável de uma prática ecologicamente responsável, economicamente viável e socialmente justa. Em Lisboa, diz-se de tudo. Olhando as grandes novidades que marcaram o ano de 2018 na cidade, encontramos o palavrão em toda a parte. Os restaurantes são todos sazonais, os mercados todos biológicos, os novos transportes ecológicos e as roupas orgânicas e justas – não porque fiquem apertadas ao corpo, mas porque apregoam ser de comércio responsável.
Em Junho, Lisboa ganhou o prémio de Capital Verde Europeia 2020. É a primeira vez que uma capital do Sul da Europa é distinguida por esta comenda, geralmente atribuída a cidades onde por esta altura do ano o Sol se põe ao meio-dia. O júri da Comissão Europeia destacou a pedonalização – outro palavrão cabeludo – de várias zonas, o crescimento das áreas verdes, e os avanços conseguidos em áreas como a eficiência energética e a boa gestão da água.
Tudo isto, reconheçamos, é bom em si mesmo. Sustentabilidade ser a tendência do ano é já alguma coisa. Enquanto a maioria das tendências tende a morrer depressa, esta sempre tende a evitar que o mundo se continue a matar devagar. Mas é ainda pouco, dizemos nós. A ver se em 2019 a coisa passa definitivamente de tendência a comportamento.