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As melhores músicas de séries de sempre. Parte 2: os instrumentais

Da televisão a preto e branco às plataformas de streaming. Sons que valem mil imagens e nos põem a trautear ao primeiro acorde.

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A maior parte do que aqui se escuta é história antiga. E isso acontece por duas razões. Primeiro, porque estas coisas demoram o seu tempo a assentar na memória e a tornar-se património comum; segundo, porque isto é um desporto de nostalgia a que só com a idade se começa realmente a achar graça. Esta é a segunda parte de uma lista maior dedicada às melhores músicas de genéricos de série de sempre: a primeira parte foi dedicada às canções, aqui temos os instrumentais. Por “melhores”, deve entender-se as que ficaram gravadas mais fundo no imaginário colectivo. Isso significa, desde logo, que apenas estamos a falar de produção anglo-saxónica, desde sempre dominante no espaço televisivo. E, também, que nada disto é ciência certa e que é tudo feito a partir de um exercício relativo de saudosismo que, por definição, varia consoante quem o faz. O mesmo é dizer: façam o favor de discordar, fazer acrescentos, correcções e, inevitavelmente, concluir que “estes gajos não percebem nada disto”. Até porque esta é uma das poucas discussões que, em vez de acabar aos gritos, tende a pôr toda a gente a cantarolar melodias com na-na-na-na-nãs.

Recomendado: As melhores músicas de séries de sempre. Parte 1: as canções

1. The Benny Hill Show

Para comprovar a regra desta lista, abrimos com uma excepção: a música não é original da série. Para todos os efeitos, porém, é como se fosse. O tema chama-se Yakety Sax, foi composto por James Q. Spider Rich e pelo saxofonista Boots Randolph em 1958 e depois celebrizado como canção de genérico final de The Benny Hill Show — a ponto de ser comumente conhecida como “Benny Hill Theme” e ter sido eleita em 2015, no Reino Unido, como The Nation's Favourite Theme Tune. É um instrumental de estilo circense que consegue condensar todos os elementos de humor da própria série numa paródia musical, e que se tornou sinónimo de palhaçada em time-lapse.

2. Peter Gunn

Peter Gunn era um detective privado com gostos requintados, sempre bem penteado e uma predileção por cool jazz. A série foi exibida em 1958 nos Estados Unidos e ficou gravada na memória colectiva para a eternidade pelo tema do genérico, escrito pelo grande Henry Mancini e distinguido com dois Emmy e um Grammy. Uma secção de metais que evocam buzinas de carros e um certo som swingado dos anos 50/60, sempre com um ritmo de carro em andamento.

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3. The Twilight Zone

Estreou também em 1958. A série, que em Portugal seria mais tarde exibida sob o título A Quinta Dimensão, foi criada pelo argumentista Rod Serling, que escreveu 92 dos 156 episódios e apresentava cada um deles no início da emissão. Terror, suspense e algum humor eram os traços essenciais das histórias que, como o título denuncia, se dedicavam sempre a situações no limiar do entendimento humano. Cada episódio durava meia hora, mas era este minuto de som que punha toda a gente em sentido. O tema foi composto por Bernard Herrmann, o mesmo homem que assina a perturbante banda sonora de Psycho, de Alfred Hitchcock, e tornou-se um signo universal para anunciar qualquer suspeita de paranormalidade.

4. Twin Peaks

Angelo Badalamenti venceu um Emmy com esta composição para a série de culto de David Lynch. Badalamenti explicaria mais tarde que Lynch lhe pediu especificamente que, ao compor, imaginasse que estava sozinho num bosque, à noite, sem ouvir outra coisa que não o vento a soprar nas árvores e uma coruja a piar. O resultado foi este instrumental minimal, diáfano, que se mantém colado ao tema central de princípio ao fim. E que casou na perfeição com o universo visual da pequena cidade da costa noroeste do Estados Unidos, onde Laura Palmer foi morta e onde tudo era, afinal, mais do que parecia ser.

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5. Os Simpsons

Composto por Danny Elfman em 1989, a pedido de Matt Groening, é o tema orquestral mais luxuriante que encontraremos nesta lista. Há um xilofone endiabrado que dá o mote, estabelece uma referência para o ritmo apressado de gags que é marca dos Simpsons, e que é seguido por um arranjo sinfónico intrincado, cheio de pequenas subtilezas e apontamentos humorísticos. As primeiras notas foram cantadas pelo próprio Elfman e um par de amigos, o solo de saxofone de Lisa Simpson teve dezenas de variações, e ao longo dos anos houve uma mão cheia de versões alternativas gravadas por artistas convidados e usadas no final de diferentes episódios em que se assumiam como personagens. Casos das versões dos Yo La Tengo, de Los Lobos, dos Sigur Rós ou dos Sonic Youth. E, claro, há também a versão gravada pelos Green Day para o filme.

6. Ficheiros Secretos

O tema é definido por aquele efeito de eco sinistro que imediatamente estabelece o ambiente ideal para uma série sobre elaboradas teorias da conspiração — que, no fim, provam ser realidade. O sucesso da música acompanhou o sucesso da série estreada em 1993 e três anos depois trepou a vários tops de todo o mundo, quando foi editado como single, sob o título Materia Primoris”: chegou a número 2 da UK Singles Chart e em França alcançou mesmo a liderança da tabela. Escrita por Mark Snow, compositor norte-americano dedicado ao cinema e televisão, “The X-Files Theme” é outro daqueles casos em que uma simples melodia se tornou num signo universalmente reconhecível para descrever um ambiente concreto.

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7. Dallas

Tal como Larry Hagman elevou a qualidade do vilão das soap operas norte-americanas para outro nível na pele de JR Ewing, também a música de Jerrold Immel elevou o padrão das composições instrumentais do género com o tema de abertura de Dallas. A série, centrada nas desventuras, dramas e traições familiares no seio dos Ewing, um clã texano do petróleo, estreou-se nos Estados Unidos em 1978, estendeu-se por uns impressionantes 357 episódios e foi um caso memorável de sucesso em Portugal. A música arranca de forma orquestral e eloquente, mas vai cedendo a uma cadência disco sound, muitos anos 70, que a torna contagiante.

8. A Balada de Hill Street

Em 2006, The Who dedicaram uma canção a Mike Post, compositor célebre pelos seus trabalhos para televisão. A canção, escrita por Pete Townshend, chama-se Mike Post Theme, foi incluída no álbum Endless Wire, e alude à presença ubíqua do compositor norte-americano no imaginário televisivo anglo-saxónico. São dele, entre outros, os genéricos de Law & Order; A Balada de Nova Iorque (NYPD Blue); Renegade; L.A. Law, e de relíquias ainda mais antigas, como The Rockford Files, Quantum Leap ou Magnum, P.I.. Mas há dois temas, em especial, que o celebrizaram, e que justificam que seja o único nome repetido nesta lista. O primeiro é este, que serviu de genérico para A Balada de Hill Street (Hill Street Blues, no original), série de culto nos Estados Unidos e nos serões de segunda-feira em Portugal (sim, daquele tempo em que a malta esperava uma semana pelo episódio seguinte). Uma balada ao piano que transborda melancolia e chegou ao n.º 10 da Billboard Hot 100.

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9. The A-Team

Quem tem idade para isso lembra-se deles como Soldados da Fortuna, o nome com que a série foi pela primeira vez emitida pela RTP, a partir de 1984. Haverá depois quem tenha memória do Esquadrão Classe A, o título com que as aventuras deste quarteto de mercenários justiceiros e defensores dos mais fracos regressou às emissões nacionais, então na TVI, numa versão dobrada em português do Brasil, tão tenebrosa quanto hilariante. Certo é que, entre uns e outros, pouca gente não terá uma ideia do que seja The A-Team, título original da série que voltou a ser exibida já neste século pela SIC Radical e pela RTP Memória, e que também deu origem a um filme de acção em 2010. Especialmente se for dado a escutar o seu tema original de sempre. Composto por Mike Post (ei-lo de novo) e Pete Carpenter, é imediatamente reconhecível tanto pela melodia orelhuda quanto pelo estilo marcial da orquestração.

10. Missão Impossível

É a única composição desta lista num tempo assim um nadinha mais estranho que o costume. Assinado pelo argentino Lalo Schifrin, o tema de Missão Impossível é composto em compasso 5 por 4, que lhe dá aquele groove contagiante. Foi usado em todas as temporadas da série estreada em 1963, na série remake de 1988 e em todos os filmes em que Ethan Hunt teve a cara de Tom Cruise. Ao longo do tempo, e nas suas várias versões, o tema foi acelerando até atingir as 185 batidas por minuto e eventualmente ganhar a energia de um comboio em fúria, mas sem nunca abdicar desse gingado malandro. Isto até Adam Clayton e Larry Mullen Jr., dos U2, darem novo arranjo à música para o filme de 1996, numa versão que, à excepção da entrada inicial, alisou a música num compasso redondinho e — convenhamos — sem a mesma graça.

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11. Allo, Allo

Há personagens franceses a falar inglês, fingindo que é francês o que falam, e que não entendem patavina dos que os personagens ingleses dizem. Pior que isso: todos os personagens, independentemente da sua nacionalidade, falam inglês com um sotaque próprio da sua língua, fingindo que falam francês. Descrito assim, a trama de Allo, Allo soa a cacofonia complicada. Mas na série é tudo simples e maravilhosamente absurdo. A acção dá-se em plena Segunda Grande Guerra e o cenário é a pequena vila de Nouvion, no Norte da França ocupada, onde o dono do café local, René Artois, tenta gerir os problemas causados por militares alemães desonestos, duas forças da resistência clandestina, um valioso quadro roubado, um agente impiedoso das SS, a voz insuportável da sua mulher, e os romances secretos que mantém com as suas duas empregadas. E toda esta gloriosa paródia é imediatamente evocada por “London Calling”, um ternário de inspiração francesa com melodia desenhada no acordeão, composto por David Croft e Roy Moore.

12. Os Marretas

O tema foi composto em 1976 pelo próprio Jim Henson, criador d’Os Marretas, e pelo maestro Sam Pottle, segue uma estética de teatro musical burlesco e serviu de abertura e final a todos os 120 episódios da série. Tanto no princípio como no fim do programa, a canção era interpretada de forma a dialogar com aquele episódio em concreto. Na abertura, incluindo as apresentações que Cocas fazia dos convidados especiais da noite; no encerramento, seguindo sempre a mesma mecânica: antes da nota final dada por Zoot, o saxofonista, Statler e Waldorf, a dupla de jarretas sentados no camarote sobre o palco, largavam a última piada da noite.

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13. Olho Vivo

Desde que a série criada por Mel Brooks e Buck Henry estreou, em Setembro de 1965, o tema composto por Irving Szathmary acompanhou cada entrada e cada saída do agente 86, Maxwell Smart, na sede da agência secreta CONTROL. À entrada, enquanto Max atravessava um corredor infindável de portas sucessivas até chegar a uma cabine telefónica e desaparecer por uma passagem subterrânea; à saída, fazendo o caminho inverso, até bater com o nariz na última porta. É a música que dá o mote para esta espécie de paródia aos filmes de James Bond, com um toque do inspector Jacques Clouseau, de A Pantera Cor de Rosa (lançado dois anos antes) e temperada pela genial e lendária palermice de Mel Brooks. Imediatamente reconhecível ainda hoje, seja por quem se lembra da personagem interpretada por Dany Adams, seja por quem ache que ela nasceu em 2008 com Steve Carell.

14. Star Trek

“Space, a final frontier. These are the voyages of the starship Enterprise. It’s five year mission: to explore strange new worlds, to seek out new life and new civilizations, to boldly go where no man has gone before”. O monólogo inicial do comandante James Tiberius Kirk, interpretado por William Shatner, tornou-se parte integrante da peça de abertura de todas as aventuras de Star Trek, desde que a saga estreou em 1966. Pode não ser a melodia mais orelhuda desta lista, mas o culto em torno da série tornou-a num hino para todos os trekkies e um sinónimo imediato de ficção científica romantizada para todos os outros. O tema foi composto por Alexander Courage e acompanha também a maior parte dos spin-offs e filmes que nasceram depois.

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15. Seinfeld

Haverá um segredo para a música de Seinfeld soar tão colada ao espírito da série. Johnathan Wolf, o compositor, explica que se concentrou no timing e no ritmo com que Jerry diz as suas piadas em stand-up. Pelas suas contas, são 110 batidas por minuto. E foi esse o tempo sobre o qual decidiu construir o tema que abre e fecha cada um dos 180 episódios que, graças aos céus, estão agora disponíveis para ver e rever na Netflix, 20 anos depois de terem passado na televisão. É uma boa explicação. Ou talvez tenha mais a ver com o apontamento humorístico implícito naquela linha de baixo desengonçado, tocado em slap, e que na verdade nem é um baixo, mas um sample de um sintetizador Korg M1. Não sabemos. Certo é que logo à primeira sequência de notas em queda, o tema é imediatamente reconhecível como um dos hinos de felicidade televisiva dos anos 90.

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