A Ver Tavira
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Arlei Lima

Restaurantes com estrela Michelin no Algarve

É a sul que estão alguns dos mais únicos restaurantes com estrela Michelin no Algarve.

Cláudia Lima Carvalho
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Poucas são as experiências gastronómicas que se assemelham a um almoço ou jantar num restaurante com estrela Michelin, ou semelhante. Da atenção ao produto às mil e uma técnicas usadas na cozinha, provam-se pratos verdadeiramente surpreendentes. São os menus que contam uma história, são as pessoas que ora na cozinha, ora na sala, tudo fazem para que o momento seja especial. Só no Algarve existem sete restaurantes com estrelas Michelin, dois deles com duas estrelas. E se é verdade que o Algarve é sinónimo tantas vezes de férias no Verão, também é verdade que pode ser uma bela escapadinha gastronómica.

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Restaurantes com estrela Michelin no Algarve

Naquela que é, provavelmente, a rua mais esquizofrénica de Portimão, onde reina a histeria e a desordem, fica um dos melhores restaurantes do país – e nada nisto é um exagero. Em cima da Praia da Rocha, o restaurante Bela Vista Hotel & Spa é uma porta de entrada para um mundo delicado. João Oliveira, que antes daqui chegar em 2015 passou pelas cozinhas estreladas do Largo do Paço, em Amarante, do The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, e do Vila Joya, em Albufeira, está seguro do caminho que percorre e o menu nunca esteve tão afinado. “Nós agora trabalhamos só Algarve, mais cultura e produto premium”, resume o chef, que conseguiu a estrela Michelin em 2017. “Começámos em 2015 com um menu voltado para a sustentabilidade. Em 2016 e 2017 trabalhámos com peixes menos conhecidos, só peixe de arrastão que não tinha valor comercial. Em 2018, quando muita gente começou a fazer menu de mar, nós começámos a definir cada vez melhor o nosso caminho e começámos a trabalhar só com barcos de pesca artesanal. O ano passado começámos com o mapa e agora fazemos a sequência de Vila Real de Santo António até Sagres, olhando para a parte de cima, da serra, na parte das sobremesas”, conta João Oliveira, que apesar de não ser algarvio – é natural de Valongo – quis conhecer e representar a região onde vive e trabalha. O mapa a que se refere é, na verdade, a única coisa que existe em cima da mesa quando o cliente chega. Dividido em três partes, como o menu (200€), ajuda a localizar cada ingrediente de cada momento numa determinada zona, tornando simples e acessível o caminho do mar e da horta à mesa. “A cozinha não é 1+1, mas quanto mais tu comes, mais experimentas e mais testas, acabas por ter uma paleta de cores, sabores e texturas maior e acaba por sair tudo naturalmente”, explica, como se fosse fácil. E é por isso também que o menu está em constante evolução e pratos como aquele que serve diferentes variedades de tomate e camomila, numa combinação também de diferentes técnicas, pode nunca ser bem o mesmo. Ou a sua versão das lulas algarvias, ou o lagostim de Sagres e couve-flor. “Dependendo do produto, há semanas em que mudamos dois, três pratos. Há semanas em que não mudamos nenhum”, aponta, destacando que mesmo aqueles que já são conhecidos como os seus pratos de assinatura, como é o caso da “Laranja do Algarve”, em que uma laranjeira é deixada na mesa para que o cliente apanhe a sua própria “laranja”, vai sofrendo alterações. “Na laranjeira, trocamos a guarnição seis, sete vezes ao ano”, garante, contando com a ajuda do chef pasteleiro Fábio Quiraz. O serviço, atento e imaculado como se espera num restaurante do género, serve a sala, luminosa e bonita, e o chef tem a capacidade de quebrar o gelo logo ao início ao receber os clientes na cozinha, onde são servidos os primeiros snacks. 

Quase que poderíamos dizer que Dieter Koschina é o pai dos chefs em Portugal e não é pela idade, mas por tudo o que significa para a gastronomia nacional. Aterrou no Algarve, vindo da Áustria, em 1989, e a primeira estrela acabaria por chegar em 1995. Em 1999, o Vila Joya tornou-se no único restaurante com duas estrelas em Portugal, lugar que ocupou sozinho durante 13 anos – não há, aliás, outro restaurante em Portugal com estrelas há tanto tempo. Há dois menus, um fixo (250€) e outro que muda todos os dias e só está disponível ao almoço (250€). 

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Hans Neuner é irrequieto, com uma energia que parece não esgotar-se, e uma paixão que conquista qualquer um. Respeitado e admirado pelos pares, o chef à frente do Ocean, o restaurante com duas estrelas Michelin do Vila Vita Parc Resort & Spa, em Porches, é hoje um dos melhores chefs do país e um dos melhores do mundo, de acordo com os The Best Chef Awards. A viver em Portugal há mais de 15 anos, é quando o Algarve adormece que Hans aproveita para viajar. E foi quando o país se fechou que aprofundou a ligação a Portugal. De mochila às costas, desbravou o continente para o representar à mesa. Um ano depois, passou para as ilhas, em 2022 seguiu as pisadas de Vasco da Gama e no ano passado atravessou o Atlântico para apresentar o menu “Memórias do Brasil”. Já este ano, o chef faz uma “Expedição pela Ásia” (275€). Assumindo novamente o risco de mudar o menu todo de um ano para o outro, em 15 momentos, a viagem de Hans Neuner vai de Tóquio a Banguecoque, com pratos que nunca são óbvios. A irreverência do chef é também a da equipa que o acompanha numa sala luminosa e leve virada para o mar. No final, se puder, escolha ficar no hotel e não se arrependerá. Os quartos, elegantes, confortáveis e espaçosos, são perfeitos para desligar. E, de manhã, pode sempre descer à Praia dos Tremoços para começar o dia com um mergulho – por ser recôndita e de difícil acesso fora do hotel, é o mais perto que estará de uma praia privada. 

Heinz Beck é alemão, mas é em Roma que vive há mais de duas décadas. Na cidade italiana tem o Pergola, o único restaurante com três estrelas Michelin de Roma, no Cavalieri Hotel Hilton. No Conrad Algarve, na Quinta do Lago, a experiência não é, obviamente, a mesma, até porque falamos de um restaurante diferente, mas está lá assinatura do chef, cada vez mais preocupado em trabalhar com produtos locais. O resultado é, muitas vezes, uma cozinha mediterrânica, de influência italiana a saber a Portugal. São dois os menus, de sete (165€) e de nove momentos (180€). 

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Cinco meses bastaram a Louis Anjos para receber, em 2021, a primeira estrela Michelin no Al SUD, o restaurante do resort Palmares Ocean Living & Golf, pensado por si de raiz. O mar ao fundo compõe a sala, com vista para a Meia Praia, em Lagos, e que vai ganhando uma vida diferente ao longo da noite e conforme a equipa vai intervindo em cada mesa. O serviço tem, aliás, uma presença bastante forte na sala, sem que nunca seja demais. Pegando no receituário típico da região do Algarve, o chef apresenta uma cozinha criativa com produtos do mar, mas também da serra, num menu de dez momentos (175€), que arranca precisamente com uma interacção perfeita para se baixar a guarda. Três frascos que podiam ser de perfume servem para se escolher um cocktail através do cheiro, da mesma forma que no final os petit fours chegam numa mala de viagem com uma polaroid para se registar o momento. São detalhes que marcam pela diferença, num universo tantas vezes semelhante, como o risco de apresentar uma harmonização (95€) apenas com vinhos do Algarve. Longa vida ao Al SUD!

Assumiu a cozinha do Bon Bon quando ainda poucos o conheciam, depois de projectos em Lisboa como os restaurantes Pão à Mesa ou o Clube Lisboeta. Também passou pelas cozinhas do Eleven ou do A Ver Tavira, sendo o Bon Bon, onde está desde 2021, o primeiro grande palco de José Lopes. Aqui, o chef tem-se proposto a “ousar, fazer diferente, trazer a gastronomia tradicional com um toque contemporâneo”. Ao almoço, há um menu mais curto (125€/quatro momentos), enquanto ao jantar a experiência pode ser maior (175€/nove momentos) – há menus vegetarianos também.

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Se houve surpresa na gala do Guia Michelin, em 2021, Luís Brito foi o protagonista. A carreira já é longa – leva mais de 30 anos nestas andanças –, mas foi a estrela que recebeu para o A Ver Tavira que o pôs debaixo dos holofotes. A ele e à mulher Cláudia Abrantes, maitre sommelier. Em plena zona histórica da cidade, junto ao Castelo, quase silenciosamente e fora da bolha mediática, a dupla tem vindo a desenvolver um importante e consistente trabalho. “Nós demorámos aqui algum tempo porque isto era um restaurante de prato do dia e não quisemos fazer logo uma mudança, até porque precisávamos faturar. Começámos a mudar as coisas com calma”, conta-nos Luís Brito, que assumiu a chefia do A Ver Tavira em 2017. “Ali em 2020 com a pandemia, com aquela grande confusão, achámos que era a altura certa para mudar.” O menu foi afinando, o serviço refinando. Acabou-se com a esplanada exterior e focou-se na sala, cuja grande mais valia é a varanda para a cidade. “Eu acho que nós temos de saber o que queremos e temos de ser consistentes”, aponta o chef, menos surpreendido que o mundo em geral com a chegada da estrela Michelin por saber o trabalho envolvido. Serve almoços e jantares, sempre com a possibilidade de menus de degustação ou serviço à carta. A viver no Algarve há muitos anos, Luís Brito olha a para a região e representa-a na mesa de forma sublime, sem ser expectável – veja-se o prato “O Ataque do Choco”, uma fina e delicada camada de choco, arroz e limão verde, cobertos pela tinta do choco. Ao almoço, há um menu curto de três momentos (85€); o mais longo fica para o jantar, com dez momentos (225€). “Vamos sempre alterando pratos, por exemplo, agora vamos trocar a batata por tomate rosa. Estamos sempre assim. O polvo entrou há 15 dias. O cliente que vem esta semana, com sorte, apanha um prato novo. Se vier daqui há 15 dias, já apanha outro prato novo. E dizem muito isso: cada vez que venho cá, tenho sempre uma surpresa. Não mantemos as coisas estáticas muito tempo”, destaca. Falta dizer que no piso superior, fica o rooftop com uma carta mais descontraída, saída igualmente da cozinha de Luís Brito.

Outros restaurantes especiais

  • Haute cuisine

As expectativas estavam altas, mas ninguém arriscava grandes previsões, já que a Michelin se tornou perita em dar o inesperado – e foi assim que aconteceu no final de Fevereiro. Na primeira gala do guia Michelin dedicado em exclusivo a Portugal, Vítor Matos foi o nome que se destacou ao conquistar as duas estrelas Michelin para o Antiqvvm, no Porto, e ainda uma estrela para o 2 Monkeys, que abriu em Lisboa, e que conta também com Francisco Quintas na chefia. Numa cerimónia apresentada por Catarina Furtado no NAU Salgados Palace, em Albufeira, João Sá (Sála), Rodrigo Castelo (Ó Balcão) e Octávio Freitas (Desarma) também conquistaram uma estrela. Francisco Quintas com 25 anos tornou-se no mais jovem chef a receber uma estrela Michelin em Portugal. Com a entrada do 2 Monkeys e do Sála e o encerramento do Eneko Lisboa, há agora 17 restaurantes com estrela Michelin em Lisboa.

Houve uns anos em que se muito se falava de cozinha de autor, também graças à crescente mediatização da figura do chef. Hoje o termo parece estar em desuso, mas não a cozinha de autor (ou de assinatura) – que mais não é do que uma cozinha criativa que não abdica da técnica. São sempre apontados como maior exemplo disto os restaurantes com estrela Michelin (e em Lisboa já são 17). Mas vá por nós, há outros pratos capazes de o pôr a ver estrelas – são igualmente bonitos e, mais do que isso, saborosos. Afinal, sem sabor não há cozinha de autor que se aguente.

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